quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

UM CERTO COMUNISTA ESPADA...





1 - Nos idos anos de 1974, seu final, ou, em 1975, conheci um jovem, que os seus "bajuladores" e seguidores, que enxameavam, como papagueadores letrados, os grupos marxistas-leninistas, que vieram, a constituir, primeiro, a União Democrático Popular (UDP) e, mais tarde, o PC(R), Partido Comunista (Reconstruído) -  o mentor daquela que nasceu depois (mas isso é outra História...) -, chamava-de João Carlos Espada, e era erigido, nos seus 19 anos, como um dos suprassumos teóricos do partido nascente.


Consideravam-se, esses papagueadores, altos oficiais-generais, armados em pretensos ilustrados letrados, frequentadores de universidades, julgando-se sabedores do "marxismo" empacotado em manuais, construídos na antiga URSS pelos promotores do stalinismo, com os títulos sonantes de "marxismo-leninismo".


Quando perguntei de onde vinha o rapaz, disseram-me que "tivera de passar à clandestinidade, pelo papel que desempenhou no movimento associativo estudantil liceal", e se tornara num dos dirigentes do marxismo-leninismo em Portugal. Ri-me para dentro...


O Espada foi, realmente, um dos impulsionadores carreiristas na nova estrutura que se formava, e era um dos "teóricos" em ascensão, para a qual contribuiu a influência do brasileiro, seu padrinho, Diógenes Arruda, já falecido, o número dois da principal organização marxista-leninista, fora do poder, do mundo ocidental, o Partido Comunista do Brasil (PC do B), que hoje integra o governo de Dilma Roussef, como participou no de Lula da Silva. 


(Ao registar este facto, como mais à frente irei comentar, reconheço, no entanto, que a ruptura, ocorrida no início dos anos 60, primeiro no Comité Executivo do PCP, e depois, em várias estruturas e militantes dispersos, foi uma tentativa séria de impulsionar o movimento revolucionário em Portugal, enquistado pela atrofia reaccionária que provinha da degenerescência da Revolução Soviética de 1917. 


Só que esta tentativa, do ponto de vista filosófico e de economia política, ficou pelo meio-termo, pois não extraiu lições da derrota daquela Revolução ao abraçar o "maoismo" acriticamente, sem discernir que era um versão, em projecto político, idêntica à original).


O rapaz comunista Espada ascendeu ao Secretariado do PC(R) e foi escolhido para ser o director do jornal "Voz do Povo", onde eram simples aprendizes, dedicados e calados militantes, alguns dos mais importantes profissionais que se multiplicaram, mais tarde, pelos mais importantes órgãos de comunicação social, desde as televisões até aos jornais, renegando, de uma penada, todo o seu passado de actividade revolucionária.


2- Tive contactos mais próximos como o João Carlos Espada, precisamente, quando ele era director do jornal "Voz do Povo", e eu como jornalista, responsável partidário pelo sector profissional nacionalizado e privado (jornalistas, revisores e gráficos, ligados à imprensa escrita, falada e televisiva) - e isto já nos finais dos anos 70-, fui chamado à Comissão de Agitação e Propaganda do CC, e vim a saber, de chofre, no meio de uma confusão de divergências que existiam no órgão dirigente, que o rapaz estava com "uma profunda depressão", que o impedia de efectuar as tarefas.


Com o desenrolar das conversas, percebi que o Arruda já saíra de Portugal e o Espada tinha arranjado umas divergências, defendendo uma "uma via" para a acção do PC(R) e da UDP, preconizando "a ampla unidade da esquerda". Disse para comigo, este está a arranjar um pretexto para "arrumar as botas" e entrar nos carris da "normalidade burguesa".

Ele batia, no entanto, no peito e jurava a sua fidelidade eterna ao comunismo.


Como eu estava, numa fase de "ostracização" pela organização, pois defendia que a política do PCP e do PC(R) era, em tudo semelhante, e a experiência, na minha opinião, aconselhava a de analisar todo o percurso do chamado Movimento Comunista, desde a Revolução de Outubro de 1917, pois os projectos dos PC da URSS, da China e da Albânia eram os mesmos, algo estaria errado - assim o pensava e assim o penso - desde a consolidação do regime m-l na antiga União Soviética. 


Fui afastado dos cargos e contra mim foi desencadeado um processo político pelos núcleo dirigente de então que não ficou a dever nada aos métodos da PIDE.


Tempos depois, soube que esse grupo, onde pontificava o Espada, rompera com o PC (R) e organizara um grupo chamado Movimento Comunista, e continuava a jurar a sua fidelidade aos mesmos princípios. 


Neste intermédio, faleceu, já no Brasil, Diógenes Arruda e o João Carlos Espada fez questão de ir à sede do PC (R) apresentar condolências ao partido de onde saíra, em nome dos seus ideais comunistas.


3 - Abandonei o PC (R) nos princípios dos anos 80, pouco depois de a UDP se ter aliado ao PCP, transformando-se num "satélite" daquele partido. Vingaram dentro do PC (R) as teses que Espada e outros defendiam. 


Segui a minha vida profissional e fui ler, então, com tempo e atenção, os clássicos do pensamento revolucionário. 


Na realidade, havia uma desfasamento abismal entre esse pensamento e os manuais stalinistas, erigidos em doutrina universal de um pretenso marxismo do século XX, chamado leninismo.


Entretanto, fui verificando que os papagueadores da ortodoxia iam-se instalando nos partidos "burgueses", como dirigentes e deputados de topo, banqueiros, administradores de empresas,  públicas e privadas, altos quadros das universidades e da vida social.


João Carlos Espada foi um deles. Fundou e pertenceu a um chamado Clube Liberal, uma experiência "centrista", para zarpar para novas posições ideológicas.



Hoje, João Carlos Mosqueiro Mendes Espada (nascido em 1995) é "reputado" professor universitário português.


Na sua biografia é apresentado como director do Instituto de Estudos Políticos - Universidade Católica Portuguesa, Professor Associado da Faculdade de Ciências Humanas e Professor Convidado da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais daquela Universidade.


É doutorado em Ciência Política na Universidade de Oxford (1990-94), onde foi orientado por Ralf Dahrendorf. Foi ainda Professor Visitante nas universidades de Brown (1994-96), Stanford (1996) e Georgetown (2000), além de Visiting Scholar no Americam Enterprise Institute dor Public Policy Reserarch (2004) e Senior Associate Member do ST Antony`s Collegge, em Oxford (2005).


- Como se refere, os nomes estão em inglês, na biografia


Foi, ainda, presidente da Associação Portuguesa de Ciência Política (2002-2006).


É consultor para os Assuntos Políticos do Presidente da República, Cavaco Silva (desde 2006), depois de ter exercido funções semelhantes junto do Presidente Mário Soares (1986-91).


É editor da revista quadrimestral Nova Cidadania (desde 2007).


É colunista em vários jornais.


(Realmente muito ocupado!!!)

4 - Traçado o roteiro, vamos à polémica e razão deste artigo.


No dia 23 de Janeiro de 2012, nas páginas do jornal "Público", João Carlos Espada defende que a reforma laboral (que o recente acordo firmado entre o Governo e o patronato, com a conivência oportuna e sempre presente, em casos idênticos, da liderança da UGT, veio *legalizar*) "é um passo importante na direcção de mais e melhores empregos para o maior número de pessoas".

 Esse acordo sentencia Espada: 

"É, em minha opinião, um acordo notável que abre caminho à superação de um dos principais entraves ao crescimento económico.

Neste aspecto, merece particular elogio a atitude da UGT: não fez caso da retórica comunista da CGTP e assinou o acordo. E fez muito bem, porque uma legislação laboral rígida não serve os trabalhadores.

Este talvez seja o ponto que urge clarificar. Mesmo vozes moderadas vieram dizer que o acordo é muito desequilibrado a favor do patronato. Mas esse é um equívoco intelectual que vale a pena discutir.

Em clima de concorrência, o interesse de uma empresa é basicamente comum a trabalhadores e accionistas".

Quando era apologista de Marx e de Engels, e eles hoje mantêm toda a sua actualidade, aqueles filósofos e pensadores  alemães, argumentando contra os que davam loas ao "interesse" comum entre assalariados e accionistas,  Espada esgrimiria que as relações entre preços e salários são dominadas pelo lucro ou Capital. 

Logo, não existe qualquer tipo de interesse entre sectores antagónicos. Eles estão, na empresa, tal como dois exércitos em campo de batalha, e Karl Marx enfatizava: "a questão resolve-se com a ascensão do poder de um ou de outro combatente".

Ora, agora, citando o ponto de vista de Frederic Engels, este frente-a-frente tem como ponto comum a violência - mesmo que não seja mortal. 

Ora, é violência dos assalariados que faz aumentar o valor dos salários e baixar o dos lucros: neste sentido, essa violência e´, também ela, um factor económico.

Temos, pois, que com o acordo, quem venceu, violentamente, foi o patronato, e uma mudança de situação só será possível, se a força assalariada, fizer inverter a situação "no campo da batalha".

E, se tal acontecer, então o novo "acordo é que será notável".


2 comentários:

  1. Coisa mais natural é ser um revolucionário na mocidade e depois um conservador na maturidade. Olavo de Carvalho (brasileiro) também foi militante comunista, mas depois de ler outros livros deixou de ser comunista e se tornou conservador.( Não tenho vergonha de mudar de idéia, porque não tenho vergonha de pensar. - Blaise Pascal)

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