1 – Em 1976, o
realizador italiano Etore Scolla fez um filme, que se chamou em português
“feios, porcos e maus”, como um sátira realista à putrefacção de uma família do
lumpem proletariado de um bairro da lata dos subúrbios de Roma.
O enredo do
filme tem todos os ingredientes demonstrativos como o capitalismo (ao longe
vêem-se os prédios de arranha-céus impecáveis das classes médias-altas e altas)
transforma um proletário, a quem atribui uma mísera indemnização – elevada, na
perspectiva da família que está na fossa – de um milhão de liras por um
acidente de trabalho, que o confinou a uma barraca deplorável, destruindo,
deste modo, a sua condição económica e moral.
Assim surge
nessa família – cerca de 20 pessoas entre filhos, noras e genros e netos e uma
avó inválida, a única com uma misérrima pensão, que serve de “peça de caça”,
logo no acto de a receber, a uma corja de seres humanos embrutecidos e
depravados, mesmo nas relações sexuais entre familiares.
E que não têm
pejo de procurar todos os meios para sacar o dinheiro da indemnização do antigo
operário, embrutecido pelo álcool.
Um
comportamento humano, todo ele, forjado e forçado pelas condições de vida no
mais abjecto individualismo.
O que predispõe
esse tipo de pessoas para servirem de tropa de choque das acções mais
reacionárias.
2 - Quando em Outubro de 2012, o senhor Fernando
Ulrich, presidente do Conselho de Administração do Banco BIP, afirmou, alto e
bom som, depois do seu banco, na falência, ter recebido uma capitalização em
dinheiro, sacado ao contribuinte, de cerca de mil milhões de três mil de euros,
para o “salvar” , que as classes trabalhadoras poderiam continuar a serem roubadas
nos seus salários e pensões, porque elas aguentavam esse esbulhamento.
Cínica e
arrogantemente, ele estava, pura e
simplesmente, a tornar público,
vangloriando-se, o que constituía, em todo o seu esplendor, o triunfo, em
Portugal, da lúmpen grande burguesia financeira.
(A trama do BPN, do BANIF, dos sawps, representa, simplesmente o exemplo acabado desse domínio: especulação financeira corrupção a rodos, aumento das dívidas e toda uma dissimulação constante do aumento do décife a favor dessa fracção de classe, em nome da austeridade).
Na realidade,
no período em apreço, ou seja, por alturas daquelas declarações, o governo de
Passos Coelho, sem hesitações, deu de mão beijada, ao sistema financeiro
bancário português 5,6 mil milhões de euros, lançando o ónus da “desgraça” para
cima das classes assalariadas e de certos sectores da média burguesia.
Eram eles, para
aquele governo, os sectores sociais que viviam acima das suas posses.
//Convém
referir que os 5,6 mil milhões euros foram distribuídos pelo BCP (três mil
milhões), BIP (1,5 mil milhões) e BANIF (1, 1 milhões)//.
Para Ulrich, um
descendente de judeus alemães, ligado umbilicalmente por via familiar, ao
capital que apoiou Salazar, e que ascendeu ao cargo pela via das ligações
estreitas com o poder capitalista vigente no pós-25 de Abril – foi chefe de
gabinete dos ministros das Finanças João Salgueiro e Morais Leitão, que não
levantou um dedo contra o anterior regime, não admite que seja posto em causa o
seu salário milionário de um inútil de 60 mil euros por mês.
Ou seja vive à
custa do Orçamento de Estado, embora diga e bata no peito que trabalha numa
empresa privada.
Este mesmo
Ulrich, que antes da crise de 2008, lançou o banco, a que preside, no lamaçal dos
negócios especulativos, que o afundaram, tem a lata de que não admite que
ninguém o possa pôr em causa e o seu modo de vida.
E a sua fortuna
– e dos outros seus iguais, como os Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto,
João Salgueiro, Lobo Xavier, Valente de
Oliveira, Armando Vara, Maldonado Gonelha, Oliveira Costa, Dias Loureiro,
Ferreira do Amaral, entre outros - advem, pois, da rapinagem do tesouro nacional,
dos salários e das pensões dos portugueses, dos negócios especulativos dos seus
lacaios do governo em sawps, privatizações a custo zero, dos concursos transacionados,
com distribuição equitativa pelo sistema financeiro onde está inserido.
São eles que
dominam, como lumpem grande burguesia, o poder político (Presidência da
República, Governo, Assembleia da República), o poder económico (a banca, as
bolsas especulativas, os negócios chorudos das grandes obras públicas), que
superintende a própria administração do Estado, colocando nos lugares-chave os
seus homens de mão, desde os Ministérios até às empresas estatais e
paraestatais.
Como chacais esfomeados,
colocaram o Estado no estertor da falência, e, com as garras cravadas no
pescoço do contribuinte querem mais lucro, mais juros, mais controlo do
dinheiro no seu sector.
Já o afirmava o
velho Karl Marx, há mais de 160 anos, no seu texto “As lutas de classes em
França” – cujo conteúdo é actual na sua
temática teórica e argumentativa – que “no seu modo de fazer fortuna, como nos
seus prazeres, a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpen
proletariado nos topos da sociedade burguesa”.
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