terça-feira, 20 de agosto de 2013

GOVERNO/SISTEMA FINANCEIRO: AS RODAGENS E HIPERLIGAÇÕES ENTRE O GRANDE CAPITAL


1 – O militante do PSD, seu antigo deputado e dirigente, José Pacheco Pereira escrevia, na revista Sábado do passado dia 8, numa crónica habitual semanal, intitulada “A lagartixa e o jacaré”: “Há um pequeno grupo de pessoas que circula dos bancos e das consultoras financeiras, dos escritórios de advogados e dos think tanks das universidades mais conservadoras, de instituições europeias congéneres, para os os governos”.

E este antigo militante da UDP, que, certamente, leu Karl Marx, considera, num parágrafo posterior, que “os problemas dos swaps ajuda a revelar uma questão mais importante e decisiva para o nosso futuro democrático: o da captura do Estado pelo sistema de interesses económico-financeiros. Este sistema ultrapassa as separações partidárias e desloca-se de governo, de partido em partido, desde que estes tenham acesso ao poder”.

Claro que Pacheco Pereira, habilidosamente, esquece-se de especificar que esta missão está cometida ao partido, onde se inseriu, tal como o PS e o CDS, como representantes políticos directos do capitalismo financeiro especulativo.

Como antigo seguidor de Marx, Pacheco Pereira tem perfeita noção que, desde a ascensão ao poder da Aliança Democrática, liderada por Sá Carneiro, que o objectivo político daquela, secundada e apoiada, mais tarde, sem reservas, pelo PS, primeiro de Mário Soares, depois Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres e José Sócrates, mas, essencialmente, com a governação executiva de Cavaco Silva, era trazer para a dominância da sociedade portuguesa um sector específico da grande burguesia, a lumpem grande burguesia da especulação bancária e bolsista.

Neste momento, agora sem pejos de pudor, nem pinças, os banqueiros já não têm veleidades de esconder que colocam nos lugares chave do governo, da administração pública, do sector empresarial do Estado, ou da mera administração hospitalar aos altos cargos das chefias das Forças Armadas, da alta magistratura, dos tribunais influentes, como o Constitucional e os Conselhos Superiores das Magistraturas, o “pequeno grupo de pessoas” que lhe estão subordinados e lhe prestam vassalagem.




2 - Vejamos, pois, no concreto a dependência directa dos principais membros do Governo do capital especulativo (nacional, mas principalmente internacional).

Comecemos, justamente, pelo processo de especulação, que recentemente, esteve e está nas primeiras páginas dos jornais e levou a várias demissões de membros do executivo e de empresas estatais ou para estatais: os chamado swaps, ou seja o empréstimo a juros usurários dos grandes bancos internacionais ao Estado, tornando-o refém propositado dessa grande burguesia financeira.

O Estado português foi, ao longo dos últimos 38 anos, com baliza no golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975, levado, paulatinamente à míngua financeira.


Desse período, e de breve passagem, alguns nomes ligados a essa dependência:

José Silva Lopes, que como “submarinista” do grande Capital se manteve, à esquerda e à direita, no leme dos negócios que favoreceram os bancos;


Francisco Sá Carneiro, mesmo antes do 25 de Abril, como deputado do chamado capital liberal, era um apologista ferrenho da especulação bolsista. Foi ele que, obcecadamente, lutou contra a Constituição de 1976, depois de a aprovar e incensar, para atacar, sem dó nem piedade, quando ascendeu ao poder total, com a chamada Aliança Democrática: privatizações bancárias foram a principal medida que preconizou e defendeu.

João Salgueiro, que foi governante de Marcelo Caetano, aderiu de imediato ao PSD, como partido sucessório “democrático” da antiga ANP marcelista, para lidar com o Ministério das Finanças. Tornou-se depois o “homem forte” do sistema bancário especulativo organizado.




Um figura tutelar do comentário económico-político actual é o antigo Ministro das Finanças de Mário Soares, que limpando às mãos à parede, procura fazer esquecer que foi o principal responsável – juntamente com Soares -, da primeira grande submissão do Estado português aos ditames da finança internacional, via FMI e Banco Mundial.


Natural e pour cause foi largamente recompensado, como administrador de empresas estatais, membro – curioso – do Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais.


Claro que, agora, na reforma dourada, mas no activo mais dourado de uma empresa como a EDP, é favorável a toda a austeridade para pagar “as dívidas” que ele introduziu.


Convém não esquecer Vítor Constâncio, Durão Barroso, António Vitorino, entre outros, em lista infindável.

3 - Centremo-nos no actual governo, porque ele representa a ascensão completa do poderio dos banqueiros a todo o aparelho de Estado.


E, também, porque é ele que alimenta, consciente e com argumentos próprios de vassalos empedernidos da lumpem grande burguesia financeira, o mais ferroz apetite de roubo dos dinheiros públicos por parte daquela depravada “aristocracia” do Capital.

(Um pequeno exemplo: O Ministério das Finanças emitiu em 17 de Junho deste ano, um comunicado a afirmar que pagou mil milhões aos bancos que comercializaram swaps em empresas públicas. Poderia não o fazer e recorrer aos tribunais, mas não ofaz porque tal processo seria um entrave (legal) à mais descarada usura de um bem público, do contribuinte. Mas em causa estava a subordinação a essa burguesia).

Vamos ao organinograma do governo.


Não o citaremos completamente, apenas as peças-chaves.


O início, com “o consultor e gestor” Passos Coelho.


Aos 37 anos, começa a trabalhar com alto quadro no grupo de empresas
“Fomentivest”, cujo testa de ferro é um antigo ministro da Administração Interna chamado Ângelo Correia.



Este grupo de empresas está ligado ao rendoso negócio dos resíduos.


Quem são os accionistas dominantes? Bancos, BES, CGD e BANIF (já perceberam porque existe um apoio descarado a este banco falido?).

Paulo Portas, que ascende a vice-primeiro-ministro e, de repente, superintende o sector económico governamental.

A sua carreira política começa a configurar-se quando se torna “consultor” da empresa Amostra, ligada ao grupo mafioso da Universidade Moderna.


Talvez recordem, mas eu reforço, tinha até direito a uma viatura de alta cilindrada desportiva.

Como ministro da Defesa de Santana Lopes, o rapaz Portas vai dar o assentimento ao negócio dos submarinos.


Quem estava na engrenagem como banco “intermediário”?

Nada mais, nada menos que o Banco Espírito Santos (BES). Além de “luvas”, que saltitaram por muitas mãos, existe um “buraco” de 35 milhões de euros, cujo destino e conhecimento está “na dependência”, naturalmente encoberta, desse “homem de Estado”.

Do lado da Alemanha, já houve condenados, mas os alemães não transmitem o que sabem, porque o homem que lhe proporcionou os negócio ainda está no centro do poder político do lado de cá.

Saltemos para o número três deste executivo.


Dá-se pelo nome de Rui Machete.


É Ministro dos Negócios Estrangeiros. Um homem de “consciência tranquila”. Garante ele. E é verdade.


As vigarices são feitas á socapa.

É um rei nos meios dos negócios “pouco transparentes”. As palavras não são minhas.

Os seus confrades, de manigâncias e ingerências económico-políticas, como o antigos embaixador dos Estados Unidos em Portugal Everett Briggs, tratam-no como um mafioso útil.




Com antigo ministro e actual advogado, ligado a um escritório cuja ligação “profissional” ao sector especulativo financeiro é evidente, faz parte dos vassalos da lumpem “aristocracia de poder”, ou seja, é esta a sua verdadeira actividade na pior acepção da palavra….

Como demonstração segue uma parte significativa do seu curriculum financeiro para que conste:

Sociedade Comercial Orey Antunes SA - Presidente da Assembleia geral (PAG) e da Comissão de Vencimentos;

Nor Risco - Capital de Risco SA, PAG

Caixa Geral de Depósitos - Vice-Presidente da AG;

Caixa Investimentos - Presidente do Conselho Fiscal;

Tagus Park - Presidente do Conselho Fiscal;

PRIMOGEST - Sociedade de Fundos Mobiliários - PAG;

GENER - Sociedae Gestora de Património, PAG;

PortFruit - Exportação de Frutas, sócio-gerente:

Sociedade Portuguesa de leasing, PAG;

Banco de Investimentos Imobiliários, PAG;

Banco Privado Português, vice-Pr do Conselho Consultivo;

Banco Millenium - Presidente do Conselho Consultivo;

BPN - Presidente do Conselho Consultivo;

Pena, Machete e Associados (Advogados) sócio-gerente;



Falemos na equipa do Ministério das Finanças, moldada, inicialmente, por Vitor Gaspar, que incluía a secretária de Estado do Tesouro e do Orçamento Maria Luís Albuquerque (licenciada na chamada Universidade Lusiada”, hoje ministra sucessora do primeiro e Paulo Núncio (sobrinho dos Linces de Faria), secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Maria Luís Albuquerque, como secretário de Estado, refere o seu “curriculum”, “esteve envolvida na venda do BPN ao BIC e nas privatizações de empresas como EDO e REN”, mas antes era “perita em swaps” (Gaspar dixit), e fê-lo directamente, numa empresa pública deficitária, como a REFER (rede ferroviária nacional), como dirigente actuante a favor da especulação.

Núncio é membro da sociedade de advogados multinacional Garrigues. Ocupa a função naquela – o seu próprio escritório o assinala – de “assessor de grandes grupos nacionais e multinacionais” em áreas – vulgarmente conhecidas na grande burguesia – de «lucro fácil», como privatizações, fusões e quejandos.

Não se pode referir toda a panóplia de servidores directos do Capital presentes no executivo.

Interessam mais dois, um membro directo, o outro indirecto.


O primeiro chama-se Carlos Moedas, o segundo António Borges.


O que os une: controlam as privatizações e são funcionários encartados do lumpem capital financeiro internacional judeu (ambos têm as mãos sujas da sua passagem pela Goldman Sachs e Moedas, completou a sua *formação* na empresa judia Indo-Suez e trabalha com a Lehman Brothers).

Um término de uma linha: o novo Ministro da Economia Pires de Lima: executivo da UNICER, que pertence a multinacional dinamarquesa Carlsberg e ao Banco BIP, este uma sucursal do grupo bancário da OPUS DEI, Caja, sediado na Catalunha.

4 – Esta ascensão da lumpem grande burguesia a todo o aparelho de Estado tem sido percorrida num longo caminho.


As lutas no interior das diversas fracções da burguesia tem arruinado uma parte de pequenos capitalistas e mesmo duma fracção da classe média assalariada.

Provocou, de certo a irrupção das lutas de classes em, praticamente, todo o Mundo. Não é um exclusivo de Portugal.


Trouxe contra-revoluções prolongadas nos principais países e grupos de países capitalistas, mas a actividade social move-se.



Atingiu um estádio que, certamente, terá, mais cedo ou mais tarde, reacções, cujas evidências, ainda que dispersas se começam a verificar.

As políticas capitalistas ditas de austeridade não tem levado a um equilíbrio das contas públicas.


Pelo contrário, aprofundou-se o desequilíbrio.


Não pode haver, com este caminho, qualquer orientação no sentido da justiça distributiva, sem atingir os interesses do grande Capital financeiro.

Este tem procurado, através do executivo, dividir as classes trabalhadoras e mesmo sectores da classe média atingidas pelas mediadas de austeridade, atirando empregados do sector público contra os do privado, criando divergências entre os profissionais do sector da saúde, da segurança social, enfim todos os que estão a viver do salário e das pensões de reforma.

Todavia, há novas convulsões em marcha, ainda marcadas pela aparente acalmia.

São compassos de espera que prenunciam tempestades.

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