0 – Numa entrevista, concedida no passado dia 20 ao jornal português i, o antigo embaixador norte-americano em Lisboa Everett Briggs, um advogado ligado a um grande escritório e antigo diplomata, com missões especiais *encobertas*, que teve alguma influência no Partido Republicano do seu país, admite que os Estados Unidos irão perder “o domínio mundial” e se vão transformar “numa espécie de França grande”.
Ou seja “um país influente e grande que não quer dominar o mundo”, numa explicação, meio cínica, meio ingénua, para enganar parvos, de Everett Briggs.
Este “Bom Pastor” da política externa norte-americana tem perfeita noção, pois deve ter lido os informes da sua “casa mãe” apelidada CIA, que os regimes imperiais, como o dos EUA, somente sobrevivem com uma enorme mão-cheia de dinheiro, e que a divisão de poder económico hegemónico no planeta se está a modificar.
Todavia, também tem disso perfeita noção, porque é vassalo do poder dominante nos Estados Unidos, a sua fracção da burguesia que lidera o capital financeiro, que o militarismo é a “arma” que se impôs no seu país, e que não abandonará a cena política, sem que seja empurrado ou derrotado numa guerra de grandes proporções.
1 – O que se refere no parágrafo anterior está verificado pelo que está a suceder, precisamente, nas diferentes partes do mundo nos dias actuais desde o Magrebe, ao Médio-Oriente, onde a ingerência destacada, belicosa e violenta gerida, directa ou indirectamente, por Washington, se faz sentir.
Os factos que vão sendo conhecidos pela divulgação dos crimes imperiais norte-americanos mostram à saciedade que o sucesso aparente da política de saque e conquista dos EUA, está a fracassar e a contribuir para o declínio da sua presença no mundo.
E disso se infere, acima de tudo, que a política de força, de invasões e ocupações de outros Estados e países, tem um custo cada vez mais acrescido, porque o avanço no exterior do “interesse nacional” ianque somente se pode efectuar, com dinheiro, muito dinheiro.
E eles têm-no, é certo, em termos de capital financeiro, mas tal facto não é determinante, nem sequer suficiente para manter a sua “máquina de guerra”, porque o dinheiro nada vale, para um país, se ele se esvaziar da sua produção económica interna.
Foi essa uma das razões principais do seu declínio e da perda real de poder de força.
O colapso da produção económica interna leva, em parte, mas numa parte significativa, à deterioração da capacidade de fomentar os meios de engrandecer e manter uma estrutura castrense, em exigências crescentes, face às concorrências de potências emergentes, que começam a disputar taco-a-taco os terrenos de “expansão” económica externa dos Estados Unidos.
Há cerca de um mês, foi desclassificada *informação secreta* sobre o Médio-Oriente da Administração norte-americana.
Ficamos a saber, pela primeira vez da própria fonte oficial, que a CIA organizou, em 1953, um golpe de Estado no Irão para afastar o primeiro-minstro democraticamente eleito do país Mohamed Mossadegh.
“O envolvimento norte-americano e britânico no derrube de Mossadegh é há muito conhecido do público, mas a publicação de hoje inclui, provavelmente, o primeiro reconhecimento formal da CIA que ela ajudou a planear e realizar o golpe de Estado", refere um comunicado da organização que divulgou a documentação.
A razão do afastamento de Mossadegh, há 60 anos, foi a nacionalização das companhias de petróleo feita pelo governo legítimo, que prejudicou os interesses usurários das grandes companhias dos EUA e do Reino Unido.
Esta divulgação torna irrisória e apatetada a argumentação dos *teóricos* defensores (em Portugal, os Monjardinos, os Rogeiros, os Espadas, os Nogueiras Pinto, no Mundo, os Popper, os neo-conservadores de várias facções e origens) do objectivo de toda a acção norte-americana (e, por tabela, da grande burguesia europeia) é política, visando conquistar a democracia e a liberdade, e que ela é determinante da própria evolução histórica no Mundo, no confronto anteriormente com a antiga URSS, e nos dias de hoje o combate vago e etéreo ao terrorismo.
O alarido em torno da Síria tem uma componente de +disfarce+ objectivo do que se passa na situação sócio-económica interna dos Estados Unidos, da Inglaterra, e, em grau menor, nos países da zona euro, ameaçados de um colapso político-económico, mas igualmente faz vir ao de cima a verdadeira razão de geo-estratégica económica imperial.
3 - A Síria é, no presente, uma zona-tampão, na concorrência económica entre a potência em decadência, Estados Unidos, e os países emergentes, que detém, na realidade, o poder territorial sobre a riqueza energética – logo essencial para o domínio do capital financeiro – do Mar Cáspio:
(Não se pode esquecer que Israel, como colónia de Washington, é a “mão invisível do capital financeiro judeu norte-americano nas manobras militaristas daquele).
Na realidade, são perto de 400 milhares de quilómetros quadrados, contidos num imenso território do Mar Cáspio – grosso modo entre as montanhas do Cáucaso e Ásia Central: admitem os especialistas do sector que existam jazidas de crude de mais de 10 mil milhões de toneladas de petróleo e um volume de gás de natural que poderá exceder os vários (largos) biliões de metros cúbicos.
/Noticiavam as agências internacionais, há cerca de um mês: o Irão descobriu reservas de petróleo, avaliadas a um preço total de 1,8 biliões de dólares.
"Este valor é baseado nos preços mundiais actuais de matéria de hidrocarbonetos", disse o vice-ministro do Petróleo da República iraniana, Ahmad Galebani.
"Este valor – acrescentou - é comparável como valor total da exportação de petróleo do Irão nos últimos 100 ano".
Segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a extracção de "ouro negro" no Irão chegou em Julho deste ano aos 2,68 milhões de barris por dia./
Ora, esta região, além das riquezas já tem o seu planeamento de evacuação, ou seja transporte – onde os EUA, neste momento, não têm grande capacidade de intervenção – com a construção já efectuada ou em fase de o virem a realizar – para a Europa, da Rússia e do Casaquistão para o golfo Pérsico, do Irão para a Índia e a China.
(Os países, que bordejam o Cáspio - Rússia, Azerbeijão, Irão, Turcomenistão e Casaquistão – são, pois, zonas de concorrência económica e, os principais, Federação Russa e o regime persa, potências militares, uma mundial, outra emergente, regional, mas, pelo facto, de serem zonas de passagem, e de reservas menores, a Turquia, Geórgia, Ucrânia, Roménia e Bulgária, estão envolvidas em toda a trauma geo-estratégica-económica e castrense).
Naturalmente, a Rússia é superpotência nuclear e estratégica, apesar dos retrocessos territoriais desde os anos 90 do século passado, mas, hoje, regressou em força ao Mediterrâneo, ao Pacífico e ao Atlântico e o Irão, apesar de ser um potência somente local, tem a sua favor o facto de ter a sua “fileira armamentista” completamente nacionalizada e ser portadora de capacidade de afirmação no espaço, com mísseis balísticos intercontinentais, o que pressupõe, na minha opinião, a existência de algumas ogivas nucleares.
A talhe de foice, não é por acaso que está, a empregar, vigorosamente, nas Síria, forças terrestres e, certamente, naquele país colocou mísseis de médio alcance, como forma de os utilizar em treino operacional, se for caso disso…
4 – Claro que a suposta “contenção” imperial norte-americana é negada pelo crescente militarismo demonstrado no terreno pela administração de Washington.
Terá de haver um desgaste real – guerra-falência financeira, desorganização interna –para levar os militaristas de Washington a acuar.
Eles estão a fomentar, de forma desesperada, todos os conflitos surgidos, nos últimos anos, em toda a bacia do Mediterrâneo, desde a antiga Jugoslávia até a todo Magrebe, que a sua enorme equipa de propaganda procurou, durante algum tempo, mascarar com o slogan estafado da conquista da “democracia”.
Esfrangalharam a Líbia e colocaram o país sob um miríade de facções tribais, chegando a dar o poder na principal zona territorial, Tripoli, ao líder líbio Abdelhadim Belhaj, da sua “organização” forjada no Afeganistão, chamada Al Qaeda.
Procuram agora efectuar a mesma tarefa no Egipto.
Conta para isso com o Exército, por si formado, treinado e pago (cerca de 1,5 mil milhões de dólares por ano).
A fraqueza norte-americana no Médio-Oriente é Israel, um seu posto avançado colonial, alimentado pelo dinheiro de Wall Street.
Para tentar manter-se na região, os EUA têm de alimentar, a todo o custo, um empecilho útil.
Mas, esta orientação de “guerra geral” contra os povos muçulmanos irá acabar.
A evolução mundial está a enquadrar-se com novos centros de poder e com novas alianças.
A Síria resiste, em parte, porque essas alianças estão a funcionar.
Daí, registe-se o aumento de reuniões e exercícios militares realizados por países integrantes da Organização de Cooperação de Xangai, que, mais um vez, se vão encontrar a alto nível, a 13 de Setembro, em Bishkek, Rússia.
E nela vai estar o novo Chefe de Estado iraniamo, Hassan Rohani, embora o seu país seja apenas observador na Organização (efectivos: Rússia, China, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão).
5 – A crise financeira de 2008 afectou, gravemente, toda a estrutura económica dos Estados Unidos – e paralelamente mundial.
E, passados cinco anos, não há sintomas de recuperação, nos diferentes territórios do planeta.
Pairam no ar os sintomas de uma catástrofe financeira mundial.
De certo modo e em certo sentido, tal facto entra em rota de colisão com o militarismo.
Mas desta contradição aumenta o imbróglio, porque a concorrência económica e castrense entre a outrora toda poderosa potência norte-americana e os Estados que visam ocupar “espaço vital” àquela está a agudizar as tensões financeiras e monetárias.
São necessários mais gastos monetários para sustentar as Forças Armadas.
Como resolver a contradição?
A guerra é a continuação da política por outros meios, mas os gastos crescentes também podem fazer estiolar qualquer poder considerado “omnipotente”.
Esperemos, preparemo-nos, pois os tempos estão a mudar.
Somente uma nova sociedade pode, realmente, derrotar este militarismo capitalista glutão, que até pode implodir no seu interior.
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