quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A FRANCO-MAÇONARIA FRANCESA E O BRANQUEAMENTO DO COLABORACIONISMO


1 - As cumplicidades do Partido Socialista francês desde os tempos da ascensão à liderança de François Miterrand e da Franco-Maçonaria gaulesa da Grande Loja de França, desde a ocupação hitleriana de França, com a extrema-direita, são denunciadas - directa e indirectamente - num artigo saído na revista macónica "Franc Maçonnerie" daquele país, no seu número 24, com data de Maio/Junho de 2013.

Este artigo insere uma investigação feita pela revista, tendo como objectivo principal a denúncia do papel desempenhado por Charles Hernu, antigo Ministro da Defesa do então Chefe de Estado François Miterrand, na repressão aos resistentes em estreita colaboração com o regime de Vichy e dos ocupantes nazis.


(As denúncias sobre a "penetração" protegida da extrema-direita no PSF advem, por forma indirecta, justamente, devido ao papel que as personalidades da franco-maçonaria pró-nazis ou colaboracionistas, como Mitterrand e Hernu, entre outros desempenharam na formação do actual Partido Socialista Francês, em 1971, e na prática daquele partido).

A manchete da revista, cujo redactor em chefe se chama Jean-Marc Vésinet, intitula-se "Histórias Secretas- Hernu-Faucher -colaboracionistas na maçonaria" e aquele escreve um editorial onde se refere a "Vichy e as suas sombras".






A investigação segue Charles Hernu, e, especifica que este antigo poderoso Ministro da Defesa socialista, foi investigado e interrogado, a 13 de Julho de 1956, por um "grupo de franco-maçons, a maior parte pertencente à loja Maurice Berteaux, da Grande Loja de França, "todos antigos resistentes, sobreviventes da deportação"  por suspeita da sua participação activa com o colaboracionismo de Vichy e com a polícia do ocupante nazi de França, pelo menos desde 1943.

O autor admite cumplicidades, mesmo entre os resistentes judeus, e remete um apontamente sarcástico, relativamente ao próprio papel da "Liga Internacional contra o Anti-semitismo, pouco depois transformada em Liga Internacional contra o Racismo e o Anti-semitismo (Licra), que teve por tesoureiro Julien Obarjanski, que utilizou o pseudónimo de Julien Aubard, membro do juri fraternal que interrogou Hernu em 1956. Compreende-se mal que este caçador de nazis, colaborador próximo de Serge Klarsfeld, se tivesse contentado com as respostas de Hernu".  

Porém, no entanto, aceites as respostas e justificações de Hernu, e não aprofundando os dados documentais que então, na opinião de outros resistentes, já se possuíam, Hernu subiu na hierarquia macónica e socialista.

Nesta altura, já Charles Hernu, com 33 anos, se integrara na loja nº 723, da Tradição Jacobina, (é esta loja que vai servir de trampolim a homens como Faucher e Berard-Quélin, colaboracionista que chefiou a Société Géneral de Presse),  era deputado pelo Partido Radical e colaborador íntimo de Pierre Mendès-France.

(Pierre Mendès-France foi uma personalidade política francesa, falecido em 1982, tendo começado como deputado radical-socialista em 1932 e participado, em 1938, no governo de frente popular.

Entre 1944 e 1945, juntou-se à facção gaullista da resistência, fazendo parte das Forças Aéreas Franceses Livres. Todavia, repudiou, mais tarde, a candidatura de Gaulle à Presidência do Governo e, mais tarde, à Chefia do Estado.

Em 1954, foi nomeado pelo Presidente René Coty, presidente do Conselho de Ministros, acumulando a função de Ministro dos Negócios Estrangeiros, por um período de cerca de oito meses.

A sua atitude política perante a questão colonial argelina contribuiu para queda do seu governo.

Com um partido com deficiência de quadros, apoiou-se em personalidades e activistas que se afirmavam "socialistas patriotas", os quais se foi verificando que não eram, nada mais, nada menos, que antigos colaboracionistas e nazis franceses, que procuravam, através de partidos anti-comunistas "à esquerda", bem como do facto da franco-maçonaria, de que Mendès-France fazia parte, ter uma orientação claramente anti-comunista, e, permitir, táctita ou convictamente, a filiação de antigos nazis ou membros do partido de Vichy.

Aliás, Mendès-France, que saiu da franco-maçonaria e pretendeu reentrar, abandonou tal propósito depois de um grupo de hierarcas daquela instituição o pretender interrogar sobre o papel que desempenhou em França durante a ocupação).
 .
O autor da reportagem, Jean-Moise Braitberg, começa o 

seu artigo, afirmando: "se franco-maçonaria 

francesa perdeu um certo número dos seus 

durante a Segunda Guerra Mundial, caídos 

defender os valores da sua ordem, ela, 

também, serviu para branquear um certo 

número de colaboracionistas".



O articulista centra-se nas personalidade de Charles Hernu 

e Jean-André Faucher, "duas figuras cujo percurso não 

honram, nem a maçonaria, nem a República".



2 - Porque explora o autor estas duas personagens 

políticas?

Por um lado, porque existem documentos - inclusivé 

alguns que a própria hieraquia suprema da  instituição 

maçónica conhecia desde o início e os "escondeu", por 

outro, porque eles foram dois dos principais pivôs para o 

"branqueamento" do colaboracismo François Mitterrand, e a

 sua posterior ascensão no controlo do Partido Socialista 

(cujos sucessores, como Laurent Fabius e François 

Holland, foram protegidos no seu caminho para a liderança 

actual no PSF).

Charles Hernu entrou para as juventudes vichistas, com 20 

anos em 1943 e teve cargos de responsabilidade e de 

espionagem no sistema de propaganda que controlava o 

trabalho obrigatório na França ocupada.


Faucher foi sempre um activista da extrema-direita, ligado 

ao jornalismo fascista com a ocupação supervisionada pelo 

marechal Pétain, participante na repressão aos guerrilheiros 

resistentes, colaborador da GESTAPO. 


Depois da guerra, foi condenado à pena capital, mas 

conseguiu livrar-se da execução e "apagar", em grande 

parte, o seu passado, através da sua ligação activa à franco-

maçonaria. 


Foram figuras cimeiras daquela instituição que os

protegeram e o autor cita nomes. Max Weynberg e Guy 

Penne (este foi o mais próximo colaborador de Mitterrand 

para os negócios africanos entre 1981 e 1986, senador 

socialista de 1986 a 2004, além de membro do Conselho 

Superior dos Franceses no Exterior em 1985).

O autor da reportagem faz uma grande referência, em texto à parte, sobre a investigação realizada por Johannis Corneloup (que foi, entre outros cargos, membro do "Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente Franês", durante a II Grande Guerra) que transformou em livro, com o título "História e causa de uma derrota", com edição de 1976.

Assinala, então, a existência de um "acordo" em 1943, com Laval, então primeiro-ministro colaboracionista, da parte do Conselho da Grande Loja de França para "a reconstrução da maçonaria de Estado", justificada pela sua estrutura superior, dita humanista, para "contrariar a influência" da Igreja Católica junto do marechal Pétain.

Tal acordo e o que se seguiu. "Depois da guerra todo aquele pequeno mundo confraterniza na luta anti-comunista, em torno do antigo braço direito de Marcel Dréat, (que foi o principal dirigente colaboracionista do Conselho da Grande Loja de França.NN), Georges Albertini, e da CGT Force Ouvriére".

Ou seja, permitiu a integração e dominação, em grande medida, da franco-maçonaria, progressivamente, pelos quadros organizados do colaboracionismo e da cumplicidade com o nazis dentro daquela instituição. 

O articulista e investigador Jean-Moise Braitberg assinala, ao longo da sua reportagem, os homens pró-nazi, colaboracionistas que trabalharam com aqueles dois escroques, como Jean Baylot - que foi membro eminente do Grande Oriente de França e depois da Grande Loja Nacional Francesa, e que vai ser o chefe máximo da Polícia Francesa de Paris de 1951 a 1954.


Jean Baylot, chefe da polícia de Paris

Interliga-os ao jornalista Gilbert Pradet, aliás Guy Vinatrel, que pertenceu ao franco-maçon Clube do Século, fundado por Bérad Quelin, que mantinha ligações ao Clube dos Jacobinos, de Hernu, e que vão ser peças importantes na formação das "Convenções das Instituições Republicanas", que lançam a campanha presidencial de François Mitterrand em 1965.

(Bérad-Quélin subiu na política e nos negócios até à sua morte, tendo sido condecorado como oficial da Legião de Honra e Comendador da Ordem Nacional do Mérito. Foi um importante membro do Grande Oriente de França.


Jean-André Faucher e Mitterrand, antes da ascensão ao poder


Jean-André Faucher, que foi director do gabinete de imprensa de Miterrand, faleceu em 1999, mas viveu sempre como grande do regime republicano e importante no interior da franco-maçonaria, tendo colaboracionistas no poder.

Foi, alíás, durante muito tempo membro do Conselho Económico e Social, proposto pelo então Primeiro-Ministro mitterrandista Laurent Fabius, hoje Ministro dos Negócios Estrangeiros. Recebeu ainda a distinção de Cavaleio de Legião de Honra em 1986).

Refere o investigador ainda que são estes homens que se reunem com Jean-Marie Le Pen, filiado então no partido de extrema direita de Pierre Poujade, onde foi deputado.

3 -  O papel do branqueamento do colaboracionista através de instituições da franco-maçonaria e a acção que aquela teve em todas as esferas para desempenhar tal missão, desde o encobrimento do papel do patronato sob a ocupação até á cumplicidade em uma parte substancial dos grandes meios de comunicação social na emergência dessa figura, está bem retratado na ascensão de François Mitterrand à Chefia do Estado.

Aquele, Mitterrand, em 1942, em Vichy, é um activo membro da Legião dos Combatentes e Voluntários da Revolução Nacional e no Comissariado para a Reintegração dos Prisioneiros de Guerra. 

Em 1943, recebe a Ordem da Francisca das mãos do Marechal Pétain.



François Mitterrand recebe a Ordem Francisca


Em 1944, com o aproximar do descalabro da ocupação nazi de França, Mitterrand foge para Londres e encontra-se com o general De Gaulle. 

Depois surge, branqueado, como resistente no pós II Grande Guerra. E abandona De Gaulle.

É eleito deputado em 1946 e torna-se Ministro dos Antigos Combatentes nos governos de Ramadier e Schuman (1947/48), depois secretário de Estado da Presidência do Conselho nos executivos de Marie, Schuman e Queille. Ministro do Ultramar (1950/51), Ministro de Estado com Edgar Faure como Presidente do Conselho, ministro do Interior de Pierre Mendès-France e da Justiça, com Guy Mollet (1954/57). 

Carreirista e apoiado pela sua "entourage" de colaboracionistas bem integrados no chamado "centro-esquerda", candidata-se, em 1958, à Chefia de Estado contra De Gaulle. Perde.

Com apoios alargados, que vão da esquerda à extrema-esquerda, e tendo como apoiantes a mesma equipa que o segue desde da interajuda no interior da franco-maçonaria, Miterrand recandidata-se em 1965 à Chefia de Estado, novamente, contra De Gaulle.

Vai à segunda volta, perde a favor de DE Gaulle, mas está no centro da oposição. 

Em 1971, afasta os velhos socialistas que vinham da II Internacional e funda o PSF em 1971, cujo centro dirigente são as "Convenções das Instituições Republicanas".

Num golpe de asa, chama para o seu lado o PCF, acenando-lhe com um "Programa Comum de Governo", que aquele assina em 1972, em nome da "unidade da esquerda". 

O PSF de Mitterrand, depois de ultrapassar, eleitoralmente, o PCF, descarta-o como parceiro do governo. 

A franco-maçonaria e o PSF, formatados no tempo de Mitterand, passam a confundir-se, na economia, na política e na sociedade. 

Envolvem-se no centrão que passa pelos antigos aliados do gaullismo, que dão o poder a Sarkosi.

4 - O actual grão-mestre do Grande Oriente de França, Daniel Keller, é um administrador do grupo Renault. 

Segundo José Gulino, antigo grão-mestre do GOF, citado pela revista "PORQUOI?", "os patrões, pequenos ou grandes, fornecerão *de um quarto a um terço* dos maçons".

O grosso provem de "servidores" daqueles, através de profissões liberais, advogados, engenheiros, médicos, entre outros, mas, principalmente, segundo a mesma revista de uma "guarda-avançada" de políticos, dos principais partidos que sucedem no poder. 

Aconteceu com os Ministérios Sarkosi, ele próprio um maçon, e acontece hoje com o Ministério Holland.

Segundo a revista "PORQUOI", que cita vários iniciados, "dois terços do governo Ayrault - PM de Holland - serão maçons".






Cita alguns dos mais importantes como o ministro do Interior Manuel Valls, o mais direitista daquele executivo, o Ministro da Defesa, Jean-Yves de Drian, o Minsitro dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius (que PM de Mitterrand) e Pierre Moscovici, Ministro das Finanças.

A revista assinala que existirão cerca de 150 "irmãos" membros da Assembleia Nacional Francesa.

Uma rede, acrescenta a revista, que se estende  a cerca de 200 mil "irmãos" e "irmãs" em toda a França, com uma grossa fatia nos lugares chaves do poder político, económico e social.

Sem comentários:

Enviar um comentário