domingo, 2 de fevereiro de 2014

GUERRA COLONIAL: OPERAÇÔES ENCOBERTAS (12)





PIDE/DGS: OS SUBMISSOS DAS FORÇAS ARMADAS


Terminamos esta série de artigos sobre operações que apelidamos encobertas na guerra colonial portuguesa, com um artigo em que, verdadeiramente, não se pode intitular de "clandestina" a actividade no seu sentido formal, mas que consideramos exemplar pela submissão que demonstra uma parte significativa da oficialagem - principalmente os de mais alta patente - aos ditames da polícia política PIDE/DGS.

Pelo que retiramos do único documento dessa operação - que conseguimos consultar -, que, curiosamente, foi dirigida e orientada pela PIDE/DGS, que elaborou o relatório e se atreve a louvar a acção subserviente dos chefes militares nela empenhados, ela teve lugar junto ao rio Cuando, e, os factos referidos das acções operacionais não são claros para se determinar, pelo menos, se parte teve lugar em território da República Democrática do Congo, ou já em território colonial angolano, pois se efectuou na área fronteiriça do rio Cuango.

(O rio Cuango nasce nas terras altas do Alto Chicapa, na província angolana da Lunda-Sul, e, movimenta-se na direcção sul-nor-noroeste, fazendo de raia com a RDC. 


Entra depois naquele país e junta-se ao rio Cassai, próximo de Bandunu. Desagua no rio Congo. 

A via fluvial cerca cerca de 1.100 quilómetros de extensão, dos quais 855 em Angola). 




A operação chamou-se "Carnaval" e efectuou-se nos princípios de Fevereiro de 1970. 


Era comandante-em chefe militar em Angola o general Costa Gomes.

No seu relatório, o inspector da PIDE/DGS, que apenas assina com nome irreconhecível, sem uma identificação precisa, que dirige a subdelegação daquela polícia em Malange, coloca-se, logo  no início, como "motor" de toda a operação por terem sido os seus agentes que souberam da existência de "um grupo IN, estimado entre 40 a 50 elementos" que se encontravam "na área de Xassengue, Lunda, e que pretendia atravessar o rio Cuango, e através do Distrito de Malange, deslocar-se para Norte".

E após as sua investigações no terreno.

E é ele que fomenta - relatório descreve - a realização de uma "reunião do Conselho Distrital de Contra Subversão", em que, enfaticamente, o autor enaltece que o "chefe desta subdelegação" tem papel preponderante, pois é ele faz saber qual é a rota e a movimentação do "referido grupo".

Estranho. Toda esta supremacia numa reunião, onde o "comandante do sector militar de Malange" parece ser um brigadeiro (hoje um posto que se intitula major-general), que certamente contaria com os serviços de informação militar, que, pelo descrito, nem sequer estavam presentes.

Depois, e continuamos a seguir o relatório, é ele - inspector - que coordena toda a operação, tendo, na prática, como *assessor* "o excelentíssimo comandante militar".

Na descrição da "ACÇÃO", o agente policial discrimina minuciosamente o seu papel: 

"desloquei-me com o excelentíssimo comandante militar, a fim de contactar com o comandante da companhia daquela localidade e estudarmos, conjuntamente e localmente, a forma de ser travado o avanço do possível grupo IN".

"Ficou acordado", assinala o agente policial que as tropas do Exército estacionavam em zonas mais ou menos fixas, e a movimentação operacional ficaria a cargo dos chamados G.ES (os chamados Flechas, tropas negras mercenárias ao serviço da PIDE/DGS) supervisionados pelos elementos brancos, quer na entrada nos aldeamentos, na recolha de informações (feitas por *interrogatórios*) e, essencialmente nos `contactos`com as populações.

E é desta actividade operacional que o subdelegado da PIDE em Malange recorre ao pedido de apoios de helicópteros da Força Aérea.


Isto depois de terem capturado prisioneiros, que após *interrogatório* vieram a divulgar onde se encontravam "os depósitos de material", que estariam dispersos em várias áreas do território norte e leste de Angola.

"Em face de tal situação - propõe o inspector policial - foi posto o problema ao major Almada, comandante dos helys e ao senhor comandante do sector de Malanje, para se apurar da possibilidade de se arranjar transporte rápido para o Luso (hoje Luena), a fim de se contactar com o comandante da ZML (Zona Militar Leste) e expor-lhe a situação para que o material existente nos depósitos fosse capturado".

Pressuroso - o relato é do citado polícia - o major Almada colocou-se ao dispor da PIDE/DGS para o levar ao Luso por helicóptero.

No Luso, contactou o seu colega local, discutiu com ele a operação e só depois foi ao "senhor comandante da ZML".

Este, de imediato, colocou um pelotão de tropas comandos para ir, sob a sua supervisão, ao local onde se encontrava o armamento.

Em anexo, o responsável subalterno policial assinala o "material capturado" nos diversos locais várias "metralhadoras ligeiras", "espingardas", várias PPSH, Simonov "pistolas individuais", minas anti-pessoal, granadas de mão, incendiárias, morteiro e de bazuca, "2 morteiros completos", entre outros explosivos.




E dá um louvor sobre a forma de "Esclarecimento":

"Cumpre-me informar V.Exª (o director-geral Silva Pais) que o êxito desta fase, a partir da altura em que o CUMPRE (um dos prisioneiros interrogados que falou) refere depósitos no Luso, deve-se à compreensão e espírito de equipa do senhor major Almada da Força Aérea, que se prontificou a deslocar-se ao Luso, estando dado à operação de Quitapa e ao comandante do sector de Malanje, que por sua vez apoioi a ideia de ida ao Luso e nãp pôs entraves à saída do Hely, assim como o senhor brigadeiro comandante da ZML que colocou à nossa disposição uma companhia de comandos para a realização do assalto aos depósitos".

Nas forças que, na prática, supervisionou, o inspector descreve-as do seguinte modo:

Companhia de Nova Gaia; Companhia de Quela, Companhia de Luquembo; grupo de G.ES de Nova Gaia, grupo de G.ES de Quela e três brigadas da PIDE/DGS.

Pelos serviços prestados à PIDE/DGS, aquela polícia condecorou o general Costa Gomes - crachá de ouro -, que ascendeu em 1972 a Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, e se meteu no golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, sendo mais tarde Chefe de Estado.




































































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