1 –
Assistimos, nos últimos anos, a um sistémico movimento *clandestino* de navios
e embarcações, que zarpando de países muçulmanos da orla mediterrânica,
procurando fazer chegar, em condições infra-humanas, milhares, centenas de
milhares ou, talvez já milhões de pessoas – homens, mulheres, crianças, das
regiões subsarianas a uma vida melhor na Europa.
Claro
que este lucrativo *mercado de escravos*, (igualmente utiliza a rota de Marrocos
e as praças coloniais espanholas de Ceuta e Mellilla), somente pode
existir, com a conivência, cumplicidade e aceitação das autoridades estatais dos
países envolvidos.
E
estes envolvidos – atinge, acima de tudo, os europeus, como nos EUA, os
hispânicos, na *passagem clandestina* da fronteira fortificada e controlada por
Washington - que, de maneira criminosa, “fecham” os olhos, permitindo entradas
condicionadas – podem facilmente saber-se quantos migrantes regressaram aos
seus territórios de origem – para organizar o mercado de trabalho, com salários
abaixo dos valores estipulados e legalmente contratados na União Europeia.
Tal
como os portugueses, espanhóis, gregos e jugoslavos, nos anos 50/60 do século
passado, estes escravos subsarianos africanos e árabes actuais, são, na
realidade, o último exército industrial de reserva – o mais vil e repugnante
– dos tempos modernos, tal como o definiu há 150 anos o pensador, filósofo
e economista alemão Karl Marx.
Nesta
fase da evolução do Capital, na sua forma mais rapace de lúmpen capital
financeiro, necessita de um desemprego
estrutural permanente, pensando que tal modelo desagregará qualquer
possibilidade da força de trabalho se unificar para destroçar o falido modo de
produção capitalista, que inicia, paulatinamente, o caminho – que pode ser até
longo – para ser substituído por um novo tipo de sociedade mais igualitária e
fraterna.
2 –
Com o Mediterrâneo enxameado de navios de guerra – Os EUA mantêm, em
permanência, a 6ª Esquadra, sedeada em Nápoles, pelo menos, com 40 navios, com
porta-aviões (incluindo reabastecedores), 175 aviões; a Rússia terá, segundo
informações do Estado-Maior Naval, doze navios de guerra, dos quais dois porta-aviões,
a China enviou, pelo menos, o ano passado três navios, dois com lança-mísseis
cruzeiro, durante um certo período, àquele mar, onde em 2014, efectuou
exercícios conjuntos – como será possível a circulação de navios *clandestinos*
sem qualquer controlo?
O
Mar Mediterrâneo deve ser, neste momento, uma das zonas marítimas mais monitorizadas
e «passadas a pente» por navios de guerra ultra-modernos, por aviões sofisticados,
por satélites de tecnologia de ponta, por uma chusma de sistemas de serviços
secretos em terra.
Ilha
de Lampedusa: campo de refugiados
Todos estes controlos fazem-se justamente, na sua maioria, junto das costas dos
países islâmicos.
Além
do mais, os países donde partem esses navios carregados de gente não sabem o
que está a suceder?
A estória está, realmente, mal contada, ou
melhor dizendo está distorcida propositadamente, porque quer os países com
navios de guerra em larga escala, quer os Estados muçulmanos sabem,
perfeitamente, o que se está a fazer.
Os *escravos* subsarianos seguem rotas, com
muitos *trilhos*, desde o Mali, Tchade ou Níger, alastrando desde o Iémen à
Eritreia, e, vão dar a portos ou regiões costeiras precisas, onde embarcam em
navios ou embarcações às centenas, e, isto normalmente de portos ou embarcadouros de certos de determinados países, numa deslocação de muitos
dezenas de milhares de quilómetros, sob a supervisão de *passadores* que tem,
necessariamente, de atravessar fronteiras, com a conivências das suas
autoridades (militares, paramilitares ou civis).
Rotas
de *clandestinos* subsarianos
Não
há, portanto, *clandestinos*, há seres humanos que são atraídos pela miragem de
uma nova vida por gente bem colocada em África e na Europa.
Os
jornais estrangeiros de há dias atrás noticiavam que *as viagens podem render
mais de um milhão de euros aos traficantes, que começaram a recorrer a
embarcações de maior porte*.
Quem lhes permite tal *orientação*, quem os dirige?
Dos
jornais dos últimos dias, que relatam o caso do navio *Ezadeen*, encontrado à deriva ao largo da
Grécia.
Vamos
verificar a rota: o navio de 73 metros estava registado na Serra Leoa.
De onde
partiu? Da Turquia, aportou ao porto cipriota de Famagusta (logo, território da
UE!!!), depois de ter metido mais gente em Tartus, Síria, onde existe uma base
naval russa.
Ora
dias atrás, foi posto à deriva um outro cargueiro, o “Blue Sky”.
De
onde partiu? Da Turquia.
Os
tripulantes abandonam um navio no alto mar e desaparecem de um momento para o
outro?
Estão
perto de países da UE: Grécia ou Itália, e ninguém repara?
O movimento
de navios faz-se em espaço de mar limitado
De
certeza que não fugiram, em barcos a remos, para a Turquia…
Os
*clandestinos*, mais cedo ou mais tarde, mais mês, menos mês, vão ser
*encarreirados* subtilmente para o mercado de trabalho europeu dos dois euros à
hora!!!.
3
– Esta sacanagem organizada dos capitalistas europeus, através de
intermediários (para onde recai o ónus do ódio, depois) não é de agora.
Aconteceu
nos anos 60, com portugueses.
(Como foram humilhados, esses homens...pelos civilizados franceses do poder político, quando as movimentações quase revolucionárias, como o Maio de 1968, obrigaram o patronato e o governo a forjar o que se chamou o Estado Social.
Então quando se igualizaram os salários e se legalizaram os emigrantes, estes passaram a ser párias!!!)
O
patronato francês queria *mão de obra* indiferenciada a baixo custo para as
grandes obras, mas, havia uma forte estrutura sindical interna.
Então,
virou-se para os países da periferia europeia (Portugal, Espanha, Itália,
Jugoslávia), turcos e magrebinos.
Começou
o fluxo migratório.
Fixemo-nos
no caso português, porque o conhecemos melhor (da História e por razões
pessoais – eu sou o único dos irmãos que não emigrou, vários tios também o
fizeram, assim como a maioria dos primos directos. Alguns faleceram em França a
trabalhar nas obras de construção civil).
Claro
que o regime português de então não podia afirmar, abertamente, que os seus
cidadãos deveriam fazer o caminho da emigração, pois não admitia sequer a
miséria em que se vivia.
Tinha
de permitir tal, mas com *cautelas* dos regimes ditatoriais.
Não
o transmitiu para o exterior, mas discutiu tal orientação internamente.
No
Congresso do Mundo Português, 1940, o tema foi debatido e teorizado pelos altos
responsáveis – políticos e capitalistas - da altura, incluindo o Presidente do
Conselho de Ministro António Salazar.
Este
afirmou taxativamente: *Mesmo que supuséssemos o aproveitamento integral das
terras irrigáveis e baixássemos para um hectare o lote a distribuir por família
(colonização interna.NM), teríamos conseguido estabelecer 150 mil famílias, e ,
a 4 ou 5 pessoas por família, 600 a 700 mil indivíduos. Ficamos longe da
absorção total*.
Ora,
para Salazar só havia um caminho para evitar *caos social* a emigração, seja
ela qual for.
Mas,
esta saída, além da planeada com os países acolhedores, essencialmente França e
Alemanha, deveria ser *permitida* pela via ilegal.
Ora,
nas fronteiras quem controlava este movimento eram três forças policiais:
PIDE/DGS, GNR e Guarda Fiscal.
Que
tinham as suas correspondentes - da «corrente» do que se chamava «passadores» -
na Espanha, (no caso que conheço a Galiza, a Guardia Civil) e a *gendarmerie* na
entrada em França.
Toda
em sintonia, sacando os respectivos dinheiros desembolsados pelos
*clandestinos*.
Na
época actual, as autoridades portuguesas já não têm pejo de lançar,
publicamente, apelos para a fuga maciça dos portugueses desempregados,
naturalmente, para *evitar o caos social*.
“Jovens,
desempregados e professores. Todos foram alvo de declarações de membros do
Governo incentivando-os a procurarem emprego onde existe: lá fora”. Ver
a reportagem completa no *Jornal de Negócios* de 17 Janeiro 2013
A
terminar, deixo à consideração uma reportagem de um cidadão francês (de origem
haitiana) que acompanhou a emigração portuguesa nos anos 60.
Para
que conste.
PS. Aconteceu hoje o atentado vil e
barbárico de Paris contra o jornal
satírico de esquerda «Charlie Hebdo»,
detestado pelo poder político e
económico francês - e claro odiado
pelos fanáticos religiosos, sejam
islâmicos, judeus ou católicos.
Aponta-se o dedo imediato para *jiadista*.
Pode ser que sejam eles.
Mas também pode haver o *dedo* de
quem esteja interessado em fomentar
a guerra *inter-étnica*.
A luta de classes na Europa e
especialmente em França pode
esquecer e ter em mente objectivos
muito escondidos...
Vão ser precisas provas muitos
circunstâncias do sucedido.
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