sexta-feira, 4 de setembro de 2015

QUEM CONTROLA REALMENTE AS ROTAS DOS REFUGIADOS?

1 – A elite conservadora e pró-fascista dominante em parte substancial dos governos da União Europeia, que fomenta guerras e conflitos em várias partes do globo, como adorno militar menor dos Estados Unidos da América, arroga-se, agora, em defensora de um controlo apertado da entrada da onda de refugiados no seu território.



















Ela que, cúmplice e criminosamente, provocou e fomentou o êxodo de gente indefesa em várias partes do Mundo, vítima dos ataques militares, directos e indirectos, através de forças mercenárias, encapotadas como sendo *combatentes islâmicos*.

E, a hipocrisia atinge as raias do crime consumado friamente, quando muitos desses países, quatro décadas atrás, lançaram e permitiram, abertamente, a imigração ilegal de outros países europeus.


Há quatro décadas, França, Alemanha e Inglaterra abriram as portas a emigrantes ilegais dos chamados países do sul da Europa (Portugal, Espanha e Itália), e, em parte, da Turquia e Jugoslávia.

Acenaram-lhes, através de intermediários e *passadores*, com a manipulação de *melhores salários* - na realidade salários menores do que os dos operários dos seus países, o que levou a um decréscimo real do salariato nesses Estados ditos de economia avançada – para impulsionar as suas economias, reforçando os lucros das grandes burguesias nacionais.

Para o efeito, nessa ocasião, tiveram o apoio aberto e/ou encapotado dos governos de Portugal, Espanha, Itália, da então Jugoslávia e da Turquia, que, deste modo, procuravam evitar as implosões internas nos seus regimes fascistas e/ou ditatoriais a braços com eventuais colapsos, abalados por crises económicas e políticas.

Quantas mortes de emigrantes ilegais se deram (e são anónimas), e, não foram contabilizadas ao atravessar as raias de Portugal com Espanha e de Espanha para França.




emigração portuguesa nos anos 60

Quantas tragédias humanas ocorreram nesses países, com os seus emigrantes endividados para conseguirem satisfazer os cambalachos chorudos dos *passadores*, cujos *saltos* eram controlados, monetariamente, na maior parte dos casos, nas fronteiras pelas forças das polícias (civis e secretas) e paramilitares.

No caso de Portugal, a PIDE/DGS, a Guarda Fiscal e a GNR ou Espanha, a Guardia Civil e a Brigada Político-Social (BPS), a polícia política de Franco.

Quanto cinismo e xenofobia encapotados no actual governo, ao fugir com o rabo à seringa de recolher dois mil desses refugiados.
Governo esse, que, sem rebuço, menosprezou, ao longo destes quatro anos, a vida dos seus governados.

Não se pode esquecer que foi o governo liderado por Passos Coelho que lançou apelos para que os assalariados portugueses emigrassem, às centenas de milhares nesse espaço de tempo, para fugir à política de austeridade que pôs em marcha em Portugal, favorecendo a entrada da grande burguesia financeira capitalista internacional no controlo de toda a actividade produtiva portuguesa.

Deve-se, aliás, recordar: a seguir ao 25 de Abril de 1974, em pouco tempo, o Estado português integrou no seu espaço europeu cerca de 500 mil portugueses emigrados nas então suas colónias de África (naturais e seus descendentes, uma parte substancial destes mestiços, sem qualquer tipo de relacionamento cultural e social com a chamada *metrópole).


Retornados de África em 1974

E essa integração efectuou-se, sem problemas de maior, no meio de uma crise económica grave recessiva, sob a pata do FMI, tal como a que grassa na situação actual.

Qual a verdadeira razão porque não se faz a integração desses refugiados na UE agora, se, em anteriores situações, 40/30 anos atrás, cerca de 18 milhões de imigrantes, provindos de países exteriores à União – sem o alargamento a Leste – se estabeleceram, sem grande alarido, no seu território?

/Segundo o Eurostat Med, nos finais dos anos 90 do século XX, 3,5 % da população da UE de então, ou seja 18 milhões de pessoas era imigrante (cinco milhões naturais de Marrocos, Argélia e Tunísia, e 59% da Turquia e da antiga Jugoslávia (só na Alemanha viviam dois milhões de turcos)/.

2 – Apesar do alarido noticioso, não é a UE a principal receptora de imigrantes e refugiados.

Todavia, juntamente com os Estados Unidos, de quem é cúmplice servil, é promotora dos mesmos.

Vamos confrontar os números. E eles são de um organismo controlado, maioritariamente, pela dupla EUA/EU, o ACNUR, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugidos, liderado pelo português António Guterres.

No relatório do ACNUR, intitulado «Mid-Year Trends 2014», a instituição, que divulga os dados do primeiro semestre de 2014, sendo que o seu total será publicado este ano, os sírios são a maior população refugiada sob o mandato do organismo da ONU.

Já ultrapassou os três milhões de pessoas, desde que em 2011, os Estados Unidos e a UE decidiram apoiar os *islamistas radicais*, na sua maioria mercenários estrangeiros, para afastar do poder no país, o seu Presidente Bashar Al-Assad.

(O relatório não referencia os palestinianos, expulsos arbitrariamente pelos israelitas desde 1948 que estão sob a protecção da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina- sigla em inglês UNRWA).

Depois de Síria, vem o  Afeganistão, com 2,9 milhões.

Seguem-se a Somália (1,1 milhão), Sudão (670 mil), Sudão do Sul (509 mil), República Democrática do Congo (493 mil), Myanmar (480 mil) e Iraque (426 mil).

Refugiados no Líbano

Na origem deste fluxo de refugiados, estão guerras e conflitos, atiçados, todos eles, pela política expansionista dos Estados Unidos da América.

E quem são os principais países receptores? 

Para que conste, não são os Estados Unidos ou a União Europeia.

Cita-se, segundo o ACNUR:  Paquistão (que sozinho abriga 1,6 milhão de refugiados afegãos), Líbano (1,1 milhão), Irã (982 mil), Turquia (824 mil), Jordânia (737 mil), Etiópia (588 mil), Quénia (537 mil) e Chade (455 mil).

Comparando o total de refugiados relativamente à população, Líbano e Jordânia é quem possuem a maior população refugiada, de acordo com o relatório.

“Em 2014, nós vimos o número de pessoas sob os nossos cuidados crescer de uma forma sem precedentes. Enquanto a comunidade internacional não achar soluções para os conflitos existentes e para prevenir os que estão começando, vamos ter de continuar a lidar com as consequências humanitárias”, disse o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados António Guterres.

3 – Deve-se, todavia, reflectir sobre o actual fluxo migratório para a UE, em especial para a Alemanha.

Em primeiro lugar, na minha opinião, tem de se questionar a razão de um súbito engrossamento migratório organizado e explorado, nos dois últimos anos.

Este ano, de repente, em vagas, perfeitamente estruturas, mas sem qualquer segurança, o fluxo migratório para a União triplicou.

E, de uma maneira visível, com objectivos concretos de país de acolhimento: Alemanha e Inglaterra.

Em segundo lugar, porque razão os principais órgãos de comunicação dos Estados Unidos dedicam páginas e páginas, ao que se passa na UE e quase silenciam a exploração criminosa de imigrantes ilegais, nomeadamente da América Latina.

Estados Unidos esses, que implantaram, nas últimas décadas, uma política imigratória altamente restritiva e repressora face aos hispânicos, tendo construído, para o efeito, o maior muro fronteiriço com o seu vizinho México.

Esse território, cerca de cinco mil quilómetros, tem um muro, com intervalos de arame farpado, vigiado, diariamente, por polícias de fronteira  norte-americana e por sofisticados sistemas electrónicos, aparentemente – e esta aparência, está percorrida pelo dinheiro e corrupção, com o objetivo de impedir a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.

Voltemos ao primeiro item, o aumento repentino do fluxo.

É um pouco estranho que pessoas com famílias completas, sem condições monetárias suficientes para pagar a eventuais intermediários, polícias e outros agentes estatais de países que atravessam – e eles percorrem distâncias e fronteiras que vão da África profunda até ao Bangladesh, passando depois pelo Médio-Oriente – pagando só nas *viagens* do Mediterrâneo valores da ordem dos 10 mil euros.

Na realidade, pergunto: quem financia estes desesperados?

Quem organiza, com precisão, estas redes que convergem para locais, controlados, de uma maneira ou de outra, por forças, embora dizendo-se islâmicas, aliadas ou cúmplice do chamado Ocidente, como o caso da Líbia actual ou a Turquia, enquadrada na NATO.

Como é possível que essas embarcações saiam para alto mar, sendo as costas e o Mediterrâneo oriental patrulhado por dezenas de navios da NATO e vigiada, permanentemente, por complexos sistemas de satélites e de aviões- espiões?

No fundo, quem será a potência – ou potências – que está (estão) interessada(s) na destabilização da UE, sem Exército único, para a controlar, mais abertamente, enviando depois unidades militares para o seu interior, desde Espanha até aos países raianos com a Rússia (Polónia, Estónia, Lituânia, Estónia, Bulgária, entre outros?

Atentemos, agora, o afã dos grandes meios de comunicacão dos Estados Unidos, ligados todos eles, desde jornais às televisões, ao lobby capitalista de Wall Street, centrados na movimentação de refugiados na UE, nos últimos meses.



O que leva, objectivamente, a obscurecer – melhor dizendo, a desviar a atenção - a imigração ilegal nos/e para os EUA, e, a exploração desenfreada dessa enorme massa assalariada ao serviço da exploração capitalista no interior dos Estados e cerca da fronteira mexicana.

Os factos: existe uma população de imigrantes ilegais, a trabalhar em condições por vezes inumanas, nos Estados Unidos estimada em cerca de 11 milhões de pessoas em 2014 – estável nos últimos cinco anos, segundo um documento divulgado a 22 de Julho deste ano pela Pee Research Center.

Vejamos agora o que a grande imprensa norte-americana não dá, praticamente, relevo.

Existe um movimento migratório interno para o norte do México, para se estabelecer junto à fronteira com os EUA.

Referem os especialistas, se este movimento se mantiver, dentro de 25 anos, cerca de 40% dos mexicanos estarão a residir nos Estados do México raianos dos Estados Unidos, onde já vivem perto de 20%.

Em 1990, ali viviam 15 %.

Qual é a razão deste movimento? Não é favorável para o México, mas para a classe dirigente dos EUA.

Ora, acontece que, nas últimas décadas, no lado mexicano da fronteira, foram construídas perto de duas mil fábricas norte-americanas, que utilizam a mão-de-obra local, com baixíssimos salários.


Estas empresas ficam situadas, normalmente, junto a uma cidade do México, que tem do outro lado uma cidade-gémea norte-americana.

Do lado do México, ficam as linhas de montagem, no território norte-americana, a gerência e os serviços administrativos.

Para aqui, no entanto, vão os dividendos da exploração do lado mexicano.

Diariamente, movimentam-se da fronteira do México para os Estados Unidos cerca de mil milhões de barris de petróleo, 400 toneladas de pimenta, 240 mil lâmpadas, além de 51 milhões de peças de todo o tipo.

A fronteira é também um corrupio de traficância de drogas, armas e de imigração ilegal.

Escondidas em fundos falsos de camiões, camionetas e outros veículos mercadejam-se toneladas de remédios banidos por lei, sapatos feitos com pele de animais em extinção, armas de todos os tipos, além de marijuana, heroína e cocaína.

Obra de gangues mafiosos, mas sempre sob o controlo clandestino das autoridades estatais dos dois lados, cujas receitas vão parar aos grandes bancos, os quais fazem o seu branqueamento e as debitam, depois, legalmente, na circulação monetária.

Naturalmente, os grandes meios de comunicação norte-americanos não estão interessados nestes *pormenores*.

4 – Terminemos com uma reflexão: Não estará toda esta movimentação migratória de grandes proporções ligada à crise permanente do sistema capitalista mundial, que não consegue dar a volta à situação?

Será que ela será percussora de uma grande mudança na sociedade nos próximos anos?







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