1
– No passado dia 4 deste mês, efectuaram-se eleições legislativas em Portugal,
cujos resultados dificultam a formação de um governo, liderado pelos mesmos
partidos que estiveram no poder nos últimos quatro anos.
Estas
eleições surgiram como um evento inesperado, quando todos os *bem pensantes* da
política burguesa julgavam que tudo se enquadraria como uma «tradição» de 40
anos.
Na
realidade, a coligação formada pelo PSD/CDS, os partidos representantes
directos do grande capital financeiro, que receberam 38,5 % dos votos expressos
(104 deputados) se confrontaram com uma votação na que é considerada a
*esquerda parlamentar* (PS, Bloco de Esquerda e PCP) que atingiu um número de votos
expressos de 50,87 %, o que corresponde, respectivamente, a cada um de 32,83%,
10,22% e 8,27%, com um conjunto de deputados de 121.
(De
recordar que, em anterior eleições legislativas, o voto somado de PSD e CDS
atingiu os 50,35% - 132 parlamentares, o PS 28,06% , o BE 5,17% e o PCP 7,91%).

2 –
Pode-se gesticular, nestes dias, contra a opção do Partido Socialista por um
tipo de governação ou por outra.
Lançar
anátemas sobre a pretensa *contra-natura* de uma associação do mesmo com o PCP
e o BE.
Pode-se, inclusive, clamar por uma fuga à *tradição*. Propalar, mesmo, indignações
morais ou *incompreensões* pelas alianças que, eventualmente, venham a surgir.
Todavia,
tudo isso esquece o principal: a política faz-se com o futuro e,
substancialmente, alicerçada no percurso histórico da luta de classes.
O
que sucedeu, em Portugal, com as eleições legislativas, não está isolado da
governação que dominou – e domina – a Europa nos últimos 25 anos, nem da
política prática que foi descarregada, violentamente, sobre as condições
sociais e económicas das classes trabalhadoras.
Na
realidade, desde as eleições autonómicas espanholas e, posteriormente, com as
legislativas gregas de Janeiro deste ano, se verifica que existe, através do
voto, uma propensão entre as massas populares para romper, politicamente, com a
situação de asfixia total que a classe capitalista financeira procura amarrar
uma implosão social que germina no seio de toda a sociedade europeia, mas não
só.
De
certo modo e em certo sentido, as recentes eleições legislativas e regionais europeias,
têm, no seu conteúdo propagandístico, como objectivo principal uma luta
política *contra a política de austeridade*, que – de forma mais clara, ou mais
ambígua e pouco transparente enunciada pelos diferentes partidos – reponha
poder de compra e obste a preponderância desenfreada do capital financeiro.
Esta
realidade apresenta, todavia, limitações para aumentar a consciência políticas
das classes laboriosas já que encerra, em grande medida, essa luta política, no
quadro da *democracia* por parte dos partidos que, mais abertamente, colocam a
luta contra a austeridade no seu programa eleitoral.
Ora,
esta orientação, que se fez sentir no resultado, de maneira mais aberta nas
eleições legislativas de Portugal de 4 de Outubro, empurra, ainda sem se conhecer os passos negociais dos partidos, para a uma coligação política e/ou governamental
entre o PS, BE e o PCP.
Este
arranjo político tanto pode ser benéfico para as classes oprimidas, como pode
servir a consolidação das classes dominantes, em especial a capitalista
financeira.
Depende,
acima de tudo, dos projectos que forem alcançados
e levados à pratica pelos seus promotores, em particular, os que resultarem da
imposição que for acordada pelos dois partidos, PCP e BE.
Se
se concretizar tal coligação *de esquerda*, sem um programa de
progresso,
não podem depois os seus dirigentes fazer crer, quando a política *prática*
irromper, com todas as consequências de serem os partidos citados no parágrafo
anterior minoritários e ficarem à mercê
da orientação maioritária do PS, representante oficial dos *mercados* e das
*instituições* capitalistas europeias, que foram atraiçoados.

Devem
reflectir antes e verificar porque, apesar dos crimes políticos que realizou a
coligação PSD/CDS nestes quatro anos, eles conseguiram manter uma certa base de
apoio eleitoral.
Qual
a razão porque o PS, o BE e o PCP, que foram oposição não suplantaram, individualmente,
os votos dos partidos que sustentam o actual governo?
E
tirar ilações. Não se pode ficar maravilhado com a perspectiva de ir para o
próximo governo, com uma vaga ideia de que está edificada uma *alternativa de
esquerda*.
Ou
seja, para que haja, na realidade, uma fase de progresso, tem de se atingir o
cerne das pretensões da burguesia capitalista financeira, de ferir a sua
máquina de propaganda, de travar, profundamente, a movimentação das velhas
forças sócio-económicas da sociedade.
3 –
Poder-se-á dizer que esta alternativa se enquadre num período de acumulação de
forças para passos mais avançados de criação de uma nova sociedade?.
Em
teoria, pode afirmar-se tal.
A questão é a sustentação na actividade diária. E
na melhoria real da vidas das classes trabalhadoras.
Mas,
a vitalidade de uma tal viragem, estará, não apenas em Portugal, mas, de
maneira mais acentuada, na capacidade de mudança efectiva da relação de forças
na UE, e, num trabalho programático europeu.
Ora,
um passo mais avançado e radical somente surgirá como viável se houver um
desenvolvimento económico conjugado com um incremento significativo da
consciência política das massas assalariadas.
Em
conclusão, terá de haver, no seio da produções industrial, agrícola e comercial
capitalistas, um crescimento significativo das próprias classes assalariadas e
uma ideologia de ruptura.
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