quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO ENCOSTADO À PAREDE


1 – O mundo parecia imóvel, há cinco anos atrás, face ao avanço que parecia imparável do imperialismo norte-americano.

Os países do leste europeu (Polónia, Lituânia, Estónia, Letónia, Roménia, Hungria, Bulgária, República Checa e Eslováquia) que se integraram na União Europeia, com o apoio político e económico dos Estados Unidos, tornaram-se, num instante, o *cavalo de Tróia* da política norte-americana no envolvimento da Rússia, sendo cúmplices declarados do alastramento do conflito interno na Ucrânia, com o derrube do presidente eleito Viktor Yanukovich.

(Lembram-se do alarido norte-americano, secundado e ampliado por aqueles países, sobre o derrube do avião comercial MH17, da Malasya Airlines, abatido no leste da Ucrânia a17 de julho de 2014?.
Onde estão os resultados do inquérito?).

Em 2011, de uma assentada, *espontaneamente*, surgiram revoltas e *revoluções* nos países islâmicos que bordejam a parte sul e leste do Mediterrâneo, apoiadas em reais protestos populares, provocados pela crise económica do capitalismo, de que os regimes políticos eram (ou são serventuários), propalados em nome das lutas contra as ditaduras e os direitos humanos.


Os aliados dos Estados Unidos nas Primaveras árabes

Assim, foram sacudidos países, como Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Síria, e já no Médio-Oriente, o Iémen.

Na Argélia, onde, cerca de 15 anos antes, se registou uma contenda feroz entre o Exército laico e os fundamentalistas islâmicos, ganha pelo poder político-militar vigente instalado desde a revolução colonial contra a França, pouco foram os protestos.

Na Tunísia e Egipto, os regimes foram apeados, com grandes manifestações populares laicas, mas, através de manipulações externas, substituídos por regimes islâmicos sunitas, apoiados pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita.

No Egipto, o poder secular, centrado nas Forças Armadas, vacilou, perdeu, mas reagiu e empurrou o regime religioso dos islâmicos sunitas para as masmorras e para as torturas e mortes, evitando, deste modo, uma reacção semifeudal, assente nas leis da Sharia. 

Instituíram, todavia, um forte regime militar, ditatorial, sustentando pelas baionetas, que, de imediato, num volte-face, recebeu a bênção de Washington, e, de certa maneira, da Rússia e da China, com a complacência do Irão xiita.

Mas a questão central desta investida do imperialismo, cavalgando em protestos populares incipientes e sem clareza política, estava (e está) alicerçada em dois parâmetros da geoestratégia económica e política.

(O derrube do coronel Kadafi na Líbia está inserido nesses parâmetros. Voltaremos a ele mais à frente).

Que convém analisar e ponderar, em minha opinião, para compreender a situação actual dos descalabros e incapacidade da chamada superpotência da tentativa de espezinhar povos e Estados que lhe eram adversos.

2 – Primo. A preocupação primeira da política norte-americana, em toda a movimentação que atingiu (e atinge) a parte sul da bacia do Mediterrâneo e na parte leste da Europa, cuja face visível podemos verificar com a militarização dos países vizinhos da Rússia, em particular, a destabilização política e castrense da Ucrânia, é a subjugação, aos seus ditames, da União Europeia.

Bombardeio Líbia G
O bombardeamento *humanitário* norte-americano na Líbia


Na realidade, apesar de todas as debilidades, de todas as hipocrisias, de todas das fraquezas da grande burguesia, dominante, no poder de Estado na UE, este espaço continua a ser a referência mundial de poder económico, comercial e de bem-estar no mundo multipolar que emerge.

E, no rescaldo da senda vitoriosa da burguesia na criação desse espaço económico, com o incremento da grande indústria, do comércio e agricultura modernos e intensos, igualmente se levantou uma onda poderosa de lutas sociais que trouxeram as classes trabalhadoras para uma maior presença na cena política.

De certa maneira, a burguesia europeia ameaçada por essa nova chama de mudança política e social, que se sente em toda a Europa, caiu nos braços da grande burguesia capitalista financeira norte-americana.

Quando os administradores capitalistas sentem na pele a ira dos trabalhadores

Para os EUA de Wall Street, a UE, do Banco Central Europeu e do grande capital alemão e inglês, é, neste momento, a sua única grande e poderosa aliada no Mundo.

Aliada essa que, na sua dimensão, mantém uma fraqueza de subjugação face a Washington, pois não tem capacidade militar para se impor, autonomamente, no xadrez geopolítico estratégico que se desenha, cada vez mais, com pólos cristalizados em Pequim, Moscovo e Nova Deli.

Daí, a grilheta contínua do imperialismo norte-americano na busca da sua divisão - imigrantes, particularidades regionais - do amesquinhamento de ocupação, com os pretextos mais vis, retirando-lhe todas as tentativas de forjar uma unidade diplomática e militar.

Desde o fim da II Grande Guerra (1939-45), o processo histórico europeu, no seguimento do que sucedeu desde o advento do capitalismo no mesmo território, no estertor do feudalismo, finais do século XV, tem havido um constante percurso para criar uma grande Europa.

E isto, primeiro, com a formação de grandes Estados – em luta contra a fragmentação e particularismos feudais -, depois com a tentativa de forjar *impérios*, com a família Napoleão, o alemão Bismarck, e, posteriormente, com violência inaudita, com o austríaco Adolf Hitler, a partir do expansionismo alemão.

Ora, logo após a II Grande Guerra, a burguesia europeia desenvolvimentista aprendeu com os fracassos da imposição unilateral desses grandes espaços, com desprezo total do sentir nacional.

E procurou forjar essa unidade, através  de uma harmonia possível da cooperação económica, avançando, depois, para a sua estruturação política.

Apanhada pelas crises contínuas deste século, e, confrontada pelas movimentações populares que começam a exigir novos tipos de governação, essa grande burguesia europeia, desesperada, deixou-se enredar no estrangulamento provindo de Wall Street e lançou-se na via do menosprezo dos sentimentos nacionais.

Perdeu a noção histórica que, na Europa, a criação de um novo espaço político é indispensável uma parceria com a vizinha Rússia, de modo a estabelecer uma verdadeira cooperação sem fronteiras.

A tradição revolucionária de conquista de uma nova sociedade está enraizada, precisamente, nesse grande espaço europeu – desde Portugal até a grande Rússia.

Este caminho somente pode ser conseguido se se alargar o horizonte actual transfronteiriço para leste.

E não na cooperação com os Estados Unidos da América, amorfos a convulsões e a reivindicações genuinamente revolucionárias.

3 – Secundo. A queda do império soviético, com a separação económica e política dos países europeus integrantes do Comecon e do Pacto Varsóvia, bem como de alguns Estados do Próximo Oriente, fez dos Estados Unidos a superpotência dirigente do Mundo e os Presidentes norte-americanos, principalmente Ronald Reagan, o campeão do chamado Mundo Livre ocidental.

Todavia, a *pax* norte-americana, que os propagandistas da comunicação social de Wall Street fizeram soar pelos cinco continentes, não trouxe qualquer apaziguamento a esse mundo.

Os Presidentes norte-americanos instituíram-se em *correctores* gananciosos do grande capital financeiro internacional, alçando-se em auto-proclamados gestores das democracias burguesas, dos direitos humanos e do *um homem, um voto*.

Lançaram, então, uma cruzada guerreira para dominar o Mundo, como instrumento da rapinas das matérias-primas, das vigarices bolsistas, da especulação financeira, das trapaças com os negócios das drogas, do branqueamento de capitais. Enfim, o enriquecimento desenfreado e sem freio do lumpen capitalismo financeiro de Wall Street.

Foi com essas premissas que incendiaram o Médio-Oriente, a ex-Jugoslávia, as repúblicas do Cáucaso, como o Azerbaijão, a Arménia, a Geórgia, a Abecázia, a Tchéchénia, o Daguestão e as Ossétias, e, nos tempos presente, a Ucrânia.

A destruição anti-ditatorial de Belgrado

(A Primavera Líbia trouxe como resultado o desmantelamento do Estado e a sua entrega ao islamismo sunita, com o descontrolo da produção do petróleo e a sua traficância a favor das multinacionais ianques).

A política insana de impor, pela força de armas, o domínio económico e social do Afeganistão e do Iraque, sob a lenga-lenga dos direitos humanos e da *batalha pela democracia*, trouxe na realidade  a opressão dos povos e a tirania sobre as classes trabalhadoras, incluindo dos próprios Estados Unidos.

E uma realidade superior: o ascenso sem qualquer controlo do militarismo e do défice crescente da despesa pública quer nos EUA, quer no Mundo.

Mas, o militarismo está a devorar a América do Norte.

São os próprios economistas do regime, como Stigliz (prémio Nobel da Economia em 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial), em associação com Linda Bilmes, professora na Universidade de Harvard, que escreveram, em 2007, um livro «A Guerra dos 3 biliões de dólares, que assinalam que as guerras do Afeganistão e Iraque já tinham custado aos EUA 3 biliões de dólares.

E sublinharam: os números são conservadores.

Por mês, Stigliz e Bilmes garantem, sem contestação oficial, a administração norte-americana gasta 16 mil milhões de dólares no Afeganistão e Iraque, além dos 500 mil milhões de despesas regulares do Orçamento da Secretaria de Defesa.

Para manter esta guerra, acrescentam os autores, fizeram empréstimos externos, sobre os quais pagam juros anuais de 200 mil milhões de dólares. Valor este que ascenderá, em 2017, a três biliões.

(Ora, estes empréstimos vieram principalmente da China, o que, em termos práticos, se pode dizer que é aquele país asiático que está a financiar o esforça expansionista de Washington).

A sanha devoradora da cruzada norte-americana apenas levou a derrotas, recuos económicos e sociais, bancarrotas financeiras fraudulentas.

É, pois, em grande medida, que se explica, nos dias de hoje, o papel decadente da política imperialista norte-americana no Mundo, e, com especial relevo para o Médio-Oriente.

Com o rabo entre pernas, obrigados a retrair a sua ganância expansionista, devido aos problemas financeiros e económicos internos, os EUA foram forçados a *ceder* à Rússia e à China o papel de apaziguadores de tensões e permitir o seu ascenso na cena geopolítica mundial.

Estão, por consequência, a sentir na pele, humilhantemente, a sua fraqueza real, não só política, como militarmente.

Temos, pois, que a Rússia e a China, cada potência na sua área de influência, estão a surgir, com toda a sua capacidade, como árbitros reais e eficazes da condução da política externa internacional.

Admitimos que eles não vão aceitar esta realidade, irão estrebuchar e, eventualmente, entrar numa via de desespero e de acções descontroladas.

Esperemos que a sociedade humana consiga parar essa via, ( não só do imperialismo norte-americano, mas também do expansionismo russo e chinês), pois as consequências serão trágicas.

4 – A crise financeira e económica na UE desnudou o pior do desespero da sua classe dominante: o espezinhamento de todos os sentimentos nacionais e os direitos mais essenciais das classes trabalhadoras.

Esta situação fez vir ao de cima a questão nacional na Europa, tendo sido agravada pela intervenção externa norte-americana, que exacerbou, de maneira criminosa e violenta, a questão das nacionalidades nos Balcãs, e, com uma proporção terrível no despertar de particularidades tribais na parte sul do Mediterrâneo e do Médio-Oriente.

As feridas abertas nos territórios árabes e islâmicos, porque, igualmente, atingem a rapina das suas matérias-primas, fazem sangrar os povos locais que têm a noção que os antigos senhores coloniais se aprestam a regressar com ambições neo-coloniais, retalhando novamente Nações, países e regiões.

Esta sobranceria *ocidental* relevou, para primeiro plano, as resistências populares, que, para sobreviver, se escondem, historicamente, sobre as ideias mais radicais da religião dominante ou que professam.

Ou seja, o imperialismo norte-americano, europeu ou russo, fomenta e faz medrar o radicalismo islâmico, pensando que através dele ascende ao domínio das matérias-primas, e, concomitantemente, ao poder político que esse pseudo radicalismo lhe pode proporcionar.

Só que o processo histórico tem mostrado que esse *radicalismo* traz retrocesso civilizacional, e, acima de tudo, se vira contra o(s) seus *pai(s)* patrocinador (es).

Na Europa, a questão nacional não surge como um processo reaccionário, mas como uma explosão contra o espartilho das classes dirigentes capitalistas financeiras.

Catalunha quer ficar na União Europeia

Não pretendem, desde a Espanha ao Reino Unido, um afastamento de um processo de unidade europeia, mas sim de serem tratados como iguais, numa outra estrutura de poder político dentro da União Europeia.

Este o busílis da questão da unidade na Europa: a cooperação internacional, a ligação programática política de uma UE, sem dominação do capitalismo financeiro.


  


Sem comentários:

Enviar um comentário