1
– O mundo parecia imóvel, há cinco anos atrás, face ao avanço que parecia
imparável do imperialismo norte-americano.
Os
países do leste europeu (Polónia, Lituânia, Estónia, Letónia, Roménia, Hungria,
Bulgária, República Checa e Eslováquia) que se integraram na União Europeia,
com o apoio político e económico dos Estados Unidos, tornaram-se, num instante,
o *cavalo de Tróia* da política norte-americana no envolvimento da Rússia,
sendo cúmplices declarados do alastramento do conflito interno na Ucrânia, com
o derrube do presidente eleito Viktor Yanukovich.
(Lembram-se
do alarido norte-americano, secundado e ampliado por aqueles países, sobre o
derrube do avião comercial MH17, da Malasya Airlines, abatido no leste da
Ucrânia a17 de julho de 2014?.
Onde
estão os resultados do inquérito?).
Em
2011, de uma assentada, *espontaneamente*, surgiram revoltas e *revoluções* nos
países islâmicos que bordejam a parte sul e leste do Mediterrâneo, apoiadas em
reais protestos populares, provocados pela crise económica do capitalismo, de
que os regimes políticos eram (ou são serventuários), propalados em nome das
lutas contra as ditaduras e os direitos humanos.

Os aliados dos Estados Unidos nas Primaveras árabes
Assim,
foram sacudidos países, como Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Síria, e já no
Médio-Oriente, o Iémen.
Na
Argélia, onde, cerca de 15 anos antes, se registou uma contenda feroz entre o
Exército laico e os fundamentalistas islâmicos, ganha pelo poder
político-militar vigente instalado desde a revolução colonial contra a França,
pouco foram os protestos.
Na
Tunísia e Egipto, os regimes foram apeados, com grandes manifestações populares
laicas, mas, através de manipulações externas, substituídos por regimes
islâmicos sunitas, apoiados pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita.
No
Egipto, o poder secular, centrado nas Forças Armadas, vacilou, perdeu, mas
reagiu e empurrou o regime religioso dos islâmicos sunitas para as masmorras e
para as torturas e mortes, evitando, deste modo, uma reacção semifeudal,
assente nas leis da Sharia.
Instituíram, todavia, um forte regime militar,
ditatorial, sustentando pelas baionetas, que, de imediato, num volte-face,
recebeu a bênção de Washington, e, de certa maneira, da Rússia e da China, com
a complacência do Irão xiita.
Mas
a questão central desta investida do imperialismo, cavalgando em protestos
populares incipientes e sem clareza política, estava (e está) alicerçada em
dois parâmetros da geoestratégia económica e política.
(O
derrube do coronel Kadafi na Líbia está inserido nesses parâmetros. Voltaremos
a ele mais à frente).
Que
convém analisar e ponderar, em minha opinião, para compreender a situação
actual dos descalabros e incapacidade da chamada superpotência da tentativa de
espezinhar povos e Estados que lhe eram adversos.
2
– Primo. A preocupação primeira da política norte-americana, em toda a
movimentação que atingiu (e atinge) a parte sul da bacia do Mediterrâneo e na
parte leste da Europa, cuja face visível podemos verificar com a militarização
dos países vizinhos da Rússia, em particular, a destabilização política e
castrense da Ucrânia, é a subjugação, aos seus ditames, da União Europeia.

O bombardeamento *humanitário* norte-americano na Líbia
Na
realidade, apesar de todas as debilidades, de todas as hipocrisias, de todas
das fraquezas da grande burguesia, dominante, no poder de Estado na UE, este
espaço continua a ser a referência mundial de poder económico, comercial e de
bem-estar no mundo multipolar que emerge.
E,
no rescaldo da senda vitoriosa da burguesia na criação desse espaço económico,
com o incremento da grande indústria, do comércio e agricultura modernos e intensos,
igualmente se levantou uma onda poderosa de lutas sociais que trouxeram as
classes trabalhadoras para uma maior presença na cena política.
De
certa maneira, a burguesia europeia ameaçada por essa nova chama de mudança
política e social, que se sente em toda a Europa, caiu nos braços da grande
burguesia capitalista financeira norte-americana.

Quando os administradores capitalistas sentem na pele a ira dos trabalhadores
Para
os EUA de Wall Street, a UE, do Banco Central Europeu e do grande capital
alemão e inglês, é, neste momento, a sua única grande e poderosa aliada no Mundo.
Aliada
essa que, na sua dimensão, mantém uma fraqueza de subjugação face a Washington,
pois não tem capacidade militar para se impor, autonomamente, no xadrez
geopolítico estratégico que se desenha, cada vez mais, com pólos cristalizados
em Pequim, Moscovo e Nova Deli.
Daí,
a grilheta contínua do imperialismo norte-americano na busca da sua divisão -
imigrantes, particularidades regionais - do amesquinhamento de ocupação, com os
pretextos mais vis, retirando-lhe todas as tentativas de forjar uma unidade
diplomática e militar.
Desde
o fim da II Grande Guerra (1939-45), o processo histórico europeu, no
seguimento do que sucedeu desde o advento do capitalismo no mesmo território,
no estertor do feudalismo, finais do século XV, tem havido um constante percurso
para criar uma grande Europa.
E
isto, primeiro, com a formação de grandes Estados – em luta contra a
fragmentação e particularismos feudais -, depois com a tentativa de forjar
*impérios*, com a família Napoleão, o alemão Bismarck, e, posteriormente, com
violência inaudita, com o austríaco Adolf Hitler, a partir do expansionismo
alemão.
Ora,
logo após a II Grande Guerra, a burguesia europeia desenvolvimentista aprendeu
com os fracassos da imposição unilateral desses grandes espaços, com desprezo
total do sentir nacional.
E
procurou forjar essa unidade, através de
uma harmonia possível da cooperação económica, avançando, depois, para a sua
estruturação política.
Apanhada
pelas crises contínuas deste século, e, confrontada pelas movimentações
populares que começam a exigir novos tipos de governação, essa grande burguesia
europeia, desesperada, deixou-se enredar no estrangulamento provindo de Wall
Street e lançou-se na via do menosprezo dos sentimentos nacionais.
Perdeu
a noção histórica que, na Europa, a criação de um novo espaço político é
indispensável uma parceria com a vizinha Rússia, de modo a estabelecer uma
verdadeira cooperação sem fronteiras.
A
tradição revolucionária de conquista de uma nova sociedade está enraizada,
precisamente, nesse grande espaço europeu – desde Portugal até a grande Rússia.
Este
caminho somente pode ser conseguido se se alargar o horizonte actual
transfronteiriço para leste.
E
não na cooperação com os Estados Unidos da América, amorfos a convulsões e a
reivindicações genuinamente revolucionárias.
3
– Secundo. A queda do império soviético, com a separação económica e política
dos países europeus integrantes do Comecon e do Pacto Varsóvia, bem como de
alguns Estados do Próximo Oriente, fez dos Estados Unidos a superpotência
dirigente do Mundo e os Presidentes norte-americanos, principalmente Ronald
Reagan, o campeão do chamado Mundo Livre ocidental.
Todavia,
a *pax* norte-americana, que os propagandistas da comunicação social de Wall
Street fizeram soar pelos cinco continentes, não trouxe qualquer apaziguamento
a esse mundo.
Os
Presidentes norte-americanos instituíram-se em *correctores* gananciosos do
grande capital financeiro internacional, alçando-se em auto-proclamados
gestores das democracias burguesas, dos direitos humanos e do *um homem, um
voto*.
Lançaram, então, uma cruzada guerreira para dominar o Mundo, como instrumento da
rapinas das matérias-primas, das vigarices bolsistas, da especulação
financeira, das trapaças com os negócios das drogas, do branqueamento de capitais.
Enfim, o enriquecimento desenfreado e sem freio do lumpen capitalismo
financeiro de Wall Street.
Foi
com essas premissas que incendiaram o Médio-Oriente, a ex-Jugoslávia, as
repúblicas do Cáucaso, como o Azerbaijão, a Arménia, a Geórgia, a Abecázia, a
Tchéchénia, o Daguestão e as Ossétias, e, nos tempos presente, a Ucrânia.

A destruição anti-ditatorial de Belgrado
(A
Primavera Líbia trouxe como resultado o desmantelamento do Estado e a sua
entrega ao islamismo sunita, com o descontrolo da produção do petróleo e a sua
traficância a favor das multinacionais ianques).
A
política insana de impor, pela força de armas, o domínio económico e social do
Afeganistão e do Iraque, sob a lenga-lenga dos direitos humanos e da *batalha
pela democracia*, trouxe na realidade a
opressão dos povos e a tirania sobre as classes trabalhadoras, incluindo dos
próprios Estados Unidos.
E
uma realidade superior: o ascenso sem qualquer controlo do militarismo e do
défice crescente da despesa pública quer nos EUA, quer no Mundo.
Mas, o militarismo está a devorar a América do Norte.
São
os próprios economistas do regime, como Stigliz (prémio Nobel da Economia em
2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial), em associação com Linda Bilmes,
professora na Universidade de Harvard, que escreveram, em 2007, um livro «A
Guerra dos 3 biliões de dólares, que assinalam que as guerras do Afeganistão e
Iraque já tinham custado aos EUA 3 biliões de dólares.
E
sublinharam: os números são conservadores.
Por
mês, Stigliz e Bilmes garantem, sem contestação oficial, a administração
norte-americana gasta 16 mil milhões de dólares no Afeganistão e Iraque, além
dos 500 mil milhões de despesas regulares do Orçamento da Secretaria de Defesa.
Para
manter esta guerra, acrescentam os autores, fizeram empréstimos externos,
sobre os quais pagam juros anuais de 200 mil milhões de dólares. Valor este que
ascenderá, em 2017, a três biliões.
(Ora,
estes empréstimos vieram principalmente da China, o que, em termos práticos, se
pode dizer que é aquele país asiático que está a financiar o esforça
expansionista de Washington).
A sanha devoradora da cruzada norte-americana apenas levou a derrotas, recuos
económicos e sociais, bancarrotas financeiras fraudulentas.
É,
pois, em grande medida, que se explica, nos dias de hoje, o papel decadente da
política imperialista norte-americana no Mundo, e, com especial relevo para o
Médio-Oriente.
Com
o rabo entre pernas, obrigados a retrair a sua ganância expansionista, devido
aos problemas financeiros e económicos internos, os EUA foram forçados a
*ceder* à Rússia e à China o papel de apaziguadores de tensões e permitir o seu
ascenso na cena geopolítica mundial.
Estão,
por consequência, a sentir na pele, humilhantemente, a sua fraqueza real, não
só política, como militarmente.
Temos,
pois, que a Rússia e a China, cada potência na sua área de influência, estão a
surgir, com toda a sua capacidade, como árbitros reais e eficazes da condução
da política externa internacional.
Admitimos
que eles não vão aceitar esta realidade, irão estrebuchar e, eventualmente,
entrar numa via de desespero e de acções descontroladas.
Esperemos
que a sociedade humana consiga parar essa via, ( não só do imperialismo
norte-americano, mas também do expansionismo russo e chinês), pois as
consequências serão trágicas.
4 –
A crise financeira e económica na UE desnudou o pior do desespero da
sua classe dominante: o espezinhamento de todos os sentimentos nacionais e os
direitos mais essenciais das classes trabalhadoras.
Esta
situação fez vir ao de cima a questão nacional na Europa, tendo sido agravada
pela intervenção externa norte-americana, que exacerbou, de maneira criminosa e
violenta, a questão das nacionalidades nos Balcãs, e, com uma proporção
terrível no despertar de particularidades tribais na parte sul do Mediterrâneo
e do Médio-Oriente.
As
feridas abertas nos territórios árabes e islâmicos, porque, igualmente, atingem
a rapina das suas matérias-primas, fazem sangrar os povos locais que têm a
noção que os antigos senhores coloniais se aprestam a regressar com ambições
neo-coloniais, retalhando novamente Nações, países e regiões.
Esta
sobranceria *ocidental* relevou, para primeiro plano, as resistências populares,
que, para sobreviver, se escondem, historicamente, sobre as ideias mais
radicais da religião dominante ou que professam.
Ou
seja, o imperialismo norte-americano, europeu ou russo, fomenta e faz medrar o
radicalismo islâmico, pensando que através dele ascende ao domínio das
matérias-primas, e, concomitantemente, ao poder político que esse pseudo radicalismo
lhe pode proporcionar.
Só
que o processo histórico tem mostrado que esse *radicalismo* traz retrocesso
civilizacional, e, acima de tudo, se vira contra o(s) seus *pai(s)*
patrocinador (es).
Na
Europa, a questão nacional não surge como um processo reaccionário, mas como
uma explosão contra o espartilho das classes dirigentes capitalistas
financeiras.

Catalunha quer ficar na União Europeia
Não
pretendem, desde a Espanha ao Reino Unido, um afastamento de um processo de
unidade europeia, mas sim de serem tratados como iguais, numa outra estrutura
de poder político dentro da União Europeia.
Este
o busílis da questão da unidade na Europa: a cooperação internacional, a
ligação programática política de uma UE, sem dominação do capitalismo
financeiro.
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