1
– Quis o Presidente da República de Portugal realizar um golpe de Estado no
país a 22 de Outubro deste ano, quando emitiu a sua «colorida» comunicação com
foguetes estrondosos das televisões do regime nesse dia?
Aponta-se
nesse sentido pelas suas declarações.
A
prática é que vai determinar se é capaz.
Ao
acusar um eventual governo alternativo, apoiado por PS, PCP e BE, de
«inconsistente», e, em caso de entrar em funções, produzir «muito mais graves
as consequências financeiras, económicas e sociais» para o país, *Bonaparte*
Cavaco Silva sustenta que «tudo – irá – fazer para impedir» o rumo que o
Parlamento dará a um novo executivo.
Para
obstar a este seu desejo de «impedimento», Cavaco teria de contar numa primeira
fase pela divisão no seio dos deputados do PS, ou então do BE e PCP.
Ou,
forjando uma forma de governação de sua iniciativa, pouco consentânea com a
votada maioritária do Parlamento.
Ora,
atendendo ao actual estado da correlação de forças políticas, uma tal vontade
presidencial, somente poderá ter eficácia através de *manus militare*.
O que
pressupõe um golpe militar *legal*. Em caso extremo, sangrento.
Todavia,
para o efectuar, terá de contar com a força de armas interna e a conivência
externa, especialmente, do capital financeiro internacional, sustentado nos
seus representantes políticos em Bruxelas e em Washington.
Ou,
Cavaco Silva, qual Bonaparte de terceiro plano, já tenha garantido tal suporte,
antes de proferir o discurso em apreço, ou então, tal como os seus comparsas
capitalistas internos, está desesperado.
E,
neste último caso, se não conseguir, só lhe resta desaparecer de cena e ir para
o que se costuma dizer - *o caixote de lixo* da História.
2 –
Ora, o discurso virulento do espectro de Napoleão na pessoa do alferes de
alcatifa em Lourenço Marques (Maputo, hoje), seguidor dos ditames do Estado
Novo, expresso em informação policial, aparece quando a NATO realiza, esta
semana, exercícios ostensivos em terras portuguesa *em defesa da civilização
ocidental*, assente nas *instituições financeiras*, *investidores* e a *mercados*.

E,
surge, também, quando, já depois do acto eleitoral, a 9 deste mês, em cerimónia, com pompa e circunstância,
precisamente efectuada no Regimento dos Comandos da Amadora, condecorou com a
medalha da Ordem Militar da Torre e Estado o coronel Raul Folques por feitos em
combate na guerra colonial ao serviço do antigo regime...e isto 45 anos depois do
derrube daquele.
No
site da Presidência da República, Cavaco
Silva fez questão de referir que, na cerimónia, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o
Presidente da Câmara Municipal de Sintra, os Chefes do Estado-Maior General das
Forças Armadas e do Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea, bem como
outras altas entidades civis e militares.
3 –
O traje de Bonaparte, o embusteiro francês do século XIX, que Cavaco Silva se
quer travestir em finais do seu mandato presidencial em pleno século XIX, não
é exclusivo de Portugal, nem produto do cesarismo do homem que não tinha grande
apreço pela Comunidade Económica Europeia, antes de ascender ao cargo de primeiro-ministro
em 1985.

A
questão é que sob as vestes da tradição, do blá blá das regras democráticas
estabelecidas, e de outras balelas pseudo formuladas, nestes últimos tempos, está
uma mudança de política em praticamente toda a Europa.
E,
esta mudança ainda é uma enigma para o grande capital financeiro. O espectro de
uma hecatombe paira sobre a sua cabeça.
Na
realidade, sob o fantasma de um reforço político do capital financeiro,
instalado em Bruxelas, com ramificações em centros de poder como Londres e, em
certos países da Europa de Leste, pressente-se que, no emaranhado das
movimentações políticas e sociais, começa a surgir uma evolução num sentido de
corte com o estado de coisas existente.
Esta
evolução é, todavia, titubeante, cheia de hesitações, envolta em nublosas de
descrença de que não sabe o real caminho programático de que tem sido traído
por outras tentativas de assalto ao poder.
ESTA
É A PECHA MAIOR, NA MINHA OPINIÃO, PARA UMA AVANÇO MAIS DETERMINADO, DE
AFASTAMENTO DO ACTUAL REGIME QUE GOVERNA A UNIÃO EUROPEIA.
Mas,
nesta fase de acumulação de forças, de procura de rumos para atingir os fins, o
capital financeiro também tem a percepção que o seu tempo de poder já
não era como eles pensavam.
Por
isso, eles procuram levar para o seu redil, através de *programas mínimos
realistas* as forças políticas, que intitulam *radicais*, levando-os a ceder nos
seus pontos de vista de ruptura com o poder político existente.
Estamos,
nestes meses, na busca, para os capitalistas europeus de uma tentativa
de rearranjo dos seus objectivos dominantes, através de uma renovação da via
*social-democrata* de governação.
Em
caso de falhanço, lançam para o terreno os buldogues aventureiros, vestidos de
*salvadores de Pátrias*, encimados pelas bainhas das espadas e as vestes
padrecas de vários matizes.
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