1
– As coincidências não são acidentais.
Se
nos concentrarmos no que está a suceder na União Europeia, desde que aquela
adquiriu um estatuto de grande potência comercial em concorrência directa com
os Estados Unidos da América, tiramos, de imediato, as dúvidas.
(Claro
que, para que tal aconteça, tem de haver cúmplices internos que lhe permitem
realizar o que o regime norte-americano está a por em marcha. E isso tem de ser
denunciado e ultrapassado com uma mudança radical na situação política e
económica na UE).
2
- Retrocedamos umas largas décadas, e, iniciemos uma breve análise histórica
sobre o que sucedeu, logo após o término da II Grande Guerra.
Em
1941, os EUA foram atacados pela Força Aérea japonesa na base norte-americana
de Pearl Harbour, Hawai, no que é considerado, oficialmente, como o acto que
levou à declaração de guerra daquele país contra as potências do eixo
(Alemanha, Itália e Japão).
Os
Estados Unidos, apesar da violência da expansão nazi na Europa e em grande
escala no Extremo Oriente desde 1939, através do imperialismo japonês, mantiveram
uma política negocial próspera de apoio à implantação hitleriana, que já vinha
do início dos anos 30 do século passado.
(Igualmente,
a então União Soviética procurou distanciar-se do confronto inicial entre a
Alemanha de Hitler e a Inglaterra e França, embora sabendo que o objectivo
hitleriano era a expansão para Leste. Por isso, procurou limitar, egoisticamente, essa pretensão hitleriana assinando, ainda 1939, o chamado pacto
Ribbentrop/Molotov).
Os
EUA, somente, entram na guerra europeia, em 1943, através da invasão da Sicília,
quando os Exércitos da União Soviética marchavam já em direcção à Alemanha, com a retirada contínua da Wehrmacht,
da União Soviética e dos países do leste europeu. E a derrota do hitlerismo era
uma evidência.

A invasão da Sicilia só aconteceu em 1943
A
preocupação das principais potências aliadas – EUA, União Soviética, Inglaterra
- desde 1944 foi a divisão de influências sobre a Europa, e, não sobre outra
qualquer região do Mundo em guerra, nomeadamente no Extremo-Oriente.
Tal
objectivo foi, aliás, decidido em Ialta, a 1 de Fevereiro de 1945. Pouca
atenção foi dada, então, pelas potências vencedoras, aos interesses nacionais.
A
recuperação da Europa pós-guerra foi feita sob a supervisão de duas
superpotências económicas e militares e sob dois modelos de capitalismo: o
liberal pró-ocidental e o de capitalismo de Estado tipo russo.
Os
Estados Unidos da América, que, com a guerra, da qual estavam, internamente,
afastados e, por isso, não sofreram uma devastação produtiva, tiveram um
incremento enorme da sua indústria – esta duplicou desde o fim da grande
depressão - e do seu comércio.
O entesouramento capitalista norte-americano (em
ouro e capitais) foi substancial nos finais dos anos 30 e durante a II Grande
Guerra.
Aquele
permitiu o financiamento abundante à Europa ocidental, através do *plano
Marshall*. E este território estava inserido numa dinâmica de quem dominava o
mercado mundial.
Nesta
parte parte europeia, apesar da destruição produtiva, a evolução capitalista
era, incontestavelmente, superior à parte oriental.
Por seu turno, a União
Soviética confrontava-se com um capitalismo em subdesenvolvimento e,
principalmente, semi-destruido pela violência descomunal da guerra.
O
campesinato e a pequena burguesia eram dominantes em toda o território oriental
europeu.
A
Europa ocidental percorreu a sua reindustrialização e evoluiu no seu comércio.
Embora
permanecesse interligada ao capital financeiro de Wall Street, a burguesia
local, a partir do seu centro industrial mais desenvolvido e dinâmico nos anos
60 do século XX, ganhou autonomia.
E
esta autonomia foi conseguida, porque essa burguesia sabia que o caminho do seu
incremento era a criação de espaços maiores territoriais, sem entraves
fronteiriços e alfandegários, onde pudesse ampliar a sua capacidade de
crescimento.
Para
que este crescimento fosse consolidado era necessário um avanço para uma
organização económica e política estatal com inter-relacionamento harmónico entre
Estados nacionais.
A
União Europeia adquiriu pujança, criou uma moeda única que estava a ser
referência mundial ao dólar em decadência. A sua constituição como espaço
económico e político é a baliza operativa para novos modelos de estruturas,
como o MERCOSUL, a União Africana, justamente, todos eles em concorrência com
os EUA.
O
que foi conseguido até à crise de 2007.
3 –
O primeiro indício de destabilização da União Europeia (UE) surgiu, em 1991,
com a chamada guerra da independência da Croácia, que vai fragmentar toda a
Jugoslávia ate 2001.
Curiosamente,
o busílis desta guerra tem o centro no nacionalismo (que germinou, aliás,
incipientemente, nos territórios da Voivodina e Kosovo nos anos 80, sendo
jugulado).
O
interesse pelo separatismo croata foi fomentado, logo no seu início e no
imediato, pelas classes dirigentes de três potências – EUA, Alemanha e Santa Sé
-, as quais, aparentemente, teriam interesses geo-económicos e geo-estratégicos
diferenciados: o primeiro pela penetração castrense, via NATO, para atingir a
Rússia e o Médio-Oriente, a Alemanha, que, no seu imaginário expansionista,
ainda pensa no Sacro Império, e o Vaticano na consolidação católica.
Tudo
isto contra a consolidação política da UE.
Nacionalismos
esses que se fazem «ressentir», ainda nos dias de hoje, com os migrantes islâmicos
e africanos.
Todavia,
a questão central que mais abala a UE desde 2007 é, na realidade, a crise financeira,
que se interligou com a económica, que começou, estrondosamente, nos Estados
Unidos com a especulação imobiliária e a falência bancária e de companhia de
seguros, e, rapidamente *exportada* por Wall Street para a União Europeia.
E
abala, porque, desde então, as clivagens de desenvolvimento económico se acentuaram,
com as grandes burguesias financeiras inglesa, francesa e alemã, umbilicamente
ligadas ao capital norte-americano.
Embora
a UE, através da intervenção do Banco Central Europeu, tenha conseguido implementar um
mecanismo de estabilização financeira (MEE), que evitou, no imediato, o colapso
da União, o certo é que se alargou um fosso na cooperação que existia desde a
criação do espaço europeu.
Por
onde pretende entrar mais em força o poder norte-americano.
Mas,
a pressão económico-financeira do capital especulativo norte-americano não
pára. Ele está sempre presente através de *armas* de ataque sistemático. Caso
das agências de rating: que são exactamente três, a Moody´s, a
Standard&Poor e a Fitch.
São
elas que estão particularmente atentas a qualquer evolução positiva da UE ou
dos seus Estados-membros.
Lançam
logo as avaliações mais escabrosas sobre as suas economias.
Mas,
dos EUA, nada.
As
agências de rating têm sido acusadas de falharem na avaliação credível e
independente de certos investimentos. Falharam, por exemplo, na altura da crise
financeira que começou nos Estados Unidos com avaliações elevadas no sector
imobiliário. Mas também com a Islândia que entrou em bancarrota quando tinha
uma avaliação elevada. Em resultado disso, tanto nos EUA como na Europa, as
agências de rating começam a ser questionadas estando mesmo a ser reavaliada a
sua regulação. Em resposta, as agências alegam que as notas que dão são apenas
opiniões que os mercados podem ou não aceitar.
Quando
a economia norte-americana se afundou em 2007/08 com as mais repugnantes
especulações e falências bancárias. Onde se encontravam aquelas com a sua
*avaliação credível e independente*?.
Não
tinham a *percepção* do que se estava a passar, foi uma das explicações que se apresentaram.
E
na Islândia, que entrou na bancarrota com a falência dos principais bancos,
que, por acaso, mantinham ligações a Wall Street e à City londrina?
Silêncio
absoluto.
Afinal, quem detém realmente, as agências de ratings?
Retiramos
da imprensa: *No caso das duas primeiras há um investidor em comum. A Capital
World Investors é a maior accionista da McGraw-Hill, empresa que detém a
S&P, tem uma participação de 12%, segundo dados da Bloomberg. Mas esta entidade
financeira não se fica por aqui. É ainda uma das accionistas de referência da
Moody's, com uma participação de 11,02%. No caso desta agência, o maior
accionista é o multimilionário Warren Buffett. O "Oráculo de Omaha"
detém 12,32% da Moody's, apesar de ter vindo a reduzir a sua participação.
Já
a Fitch é controlada, teoricamente, por uma *holding francesa, a Fimalac, com 60%
do capital, cujo Presidente se chama Marc Lacharrière. Este esteve ligado ao
grupo Oreal, ao Banco Indo-Suez e ao Crédit Lyonnais, todos de capitais judeus.
Ora,
uma das accionistas de referência da Fimalac é a multinacional norte-americana
gestora de fundos Fidelity, com uma posição de 5,39%. Esta empresa financeira controla ainda 7,57% da Moody's.
Onde
se sente com mais acutilância a interferência norte-americana nos assuntos
europeus é nos países do leste integrados na UE (Lituânia, Estónia, Letônia,
Polónia, Eslováquia, Bulgária, República Checa e Hungria).
Todos
eles foram empurrados para entrar rapidamente para a União, por pressão dos EUA, e sob a supervisão
da NATO a que aderiram sem olhar a eventuais consequências para a própria
segurança europeia, e, onde Washington estabeleceu tropas.
O
fluxo anormal de refugiados vindos de países do Próximo e Médio-Orientes nos
últimos meses não acontece por acaso.
Além
das questões ligadas às guerras e devastações nos países daquelas zonas
terrestres, que são reais e não podem ser escamoteadas.
Aquelas
provocadas, essencialmente, pelas intervenções norte-americanas, com o apoio
dos executivos governamentais seus serventuários da Europa ocidental, levaram à debandada de
dezenas de milhões de pessoas em busca de refúgio nos países vizinhos, uma
parte dos quais têm relações privilegiadas e de aliança com os Estados Unidos.
Porque
não foram encaminhados, portanto, uma parte substancial desses deslocados e refugiados
para os EUA, o sal da terra e o refúgio das oportunidades capitalistas?
Simplesmente,
porque alguém que tinha muito dinheiro e meios para orientar *redes*
organizadas que perpassam várias fronteiras para lhes dar uma indicação
precisa para os países para onde se deveriam dirigir: Alemanha, Inglaterra,
Suécia, Holanda, França.
Quem podem despender tais financiamentos a esses migrantes sem capacidades financeiras para pagar – cada um com
uma média de 10 mil euros vezes cerca de um milhão de pessoas neste ano!!!?
4 –
Finalmente, porque se está em cima do acontecimento a questão dos atentados em
França.
Acontecem,
justamente, quando a UE tem em mãos o problema de refugiados.
Pode-se
argumentar que os prováveis jihadistas escolheram o elo mais fraco entre as
potências que atacam o auto-intitulado Estado Islâmico.
Mas, o ponto fulcral é que os atentados não visaram apenas a França, mas a unidade
política europeia.
A
UE corre o risco profundo de voltar para as velhas fronteiras do nacionalismo
serôdio e da competição sem tino inter-europeia.
Quem
orquestrou realmente os atentados?
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