1
– Os poderes políticos estabelecidos e
dominantes na União Europeia (UE) estão alarmados com a possibilidade de se
formarem, nos próximos tempos em diferentes países, governos ditos de
*esquerda*, ou seja constituídos ou apoiados por partidos classificados por
esses poderes, como de *extrema-esquerda* ou *radicais*.
Depois
de uma apatia prolongada de muitos anos, verifica-se, através de movimentações,
em larga escala, das classes trabalhadoras, pugnando por melhorias do nível de
vida, com consequências em diferentes eleições legislativas de diversos países
onde surgem partidos e forças políticas que apresentam programas que preconizam
cortar com o espartilho dos regimes vigentes capitalistas.
Eles adquiriram,
em poucos anos, uma projecção parlamentar e até de poder, apesar das
ambiguidades e hesitações que manifestam no confronto com esses regimes
estabelecidos.
A
reacção dos poderes capitalistas dominantes em Bruxelas – e que estão a
asfixiar a evolução democrática da UE – são sintoma de que se sentem ameaçados
com uma eventual mudança do sistema instituído e colocam no ar o espectro da chegada de uma mudança radical na sociedade europeia.
O
percurso da Revolução, num período longo desde os finais da II Grande Guerra, e,
principalmente, desde as guerras anticoloniais dos anos 60/70 do século
passado, parece ter sido obscurecido pela época subsequente em que, praticamente,
toda a sociedade foi submergida por um retrocesso avassalador produzido pelo
poder capitalista financeiro mais retrógrado.

Os
ecos das grandes Revoluções do século XX, principalmente as que envolveram
centenas de milhões de explorados, como a soviética de 1917 e a chinesa de
1949, parecem ter desaparecido, com o passo atrás de várias décadas até aos dias
de hoje.
Todavia,
elas tiveram um impacto enorme em todas as lutas classistas do século passado,
embora as análises mais capazes nos mostravam que, do ponto de vista da
evolução da economia política, então, teriam de acabar em derrotas.
As
condições de revolucionamento social avançado colidiram com as estruturas
produtivas capitalistas pouco desenvolvidas ou mesmos pré-capitalistas e a energia
desses revoluções entrou em descendo, tornando-se mesmo em contra-revoluçõs
que, infelizmente, se prolongaram por demasiado tempo, *embaciando* ou mesmo
deteriorando a capacidade para entrar em nova fase de ruptura económica e
política.
Naturalmente,
parece que a sociedade estagnou, mas nas entranhas das lutas sociais,
paulatinamente, vai-se vendo o que foi errado, analisando os factos e os
eventos, e, lentamente acumulando forças para empreender um novo assalto.
Claro
que este caminho ainda não tem uma visão programática elaborada para empreender
uma nova via, mas os indícios apontam que ele está a ser traçado.
Com
hesitações, mas também com novas perspectivas, com novo alento de consciência
política, que tem sido acalentado com as próprias eleições dentro do sistema
estabelecido.
A
nova visão programática deve, todavia, ser encarada em conjunto dentro da União
Europeia.
É,
justamente, na Europa, berço das revoluções proletárias nos séculos XIX e XX,
que, novamente, ressurge uma nova esperança de mudança.
2
– A actual situação política na Europa está ligada a um acontecimento
económico-financeiro internacional, que provocou um empobrecimento generalizado
das classes trabalhadores, um clamor geral de mal-estar e descontentamento e as
maiores movimentações dos explorados das últimas dezenas de anos.
Quando
estalou em 2007, a crise da especulação capitalista em torno do imobiliário nos
Estados Unidos, com o descalabro social que levou à ruína de milhões de
compradores de casa, tal crise transformou-se, no ano seguinte, em económica e financeira.

E
alastrou-se pelo mundo quando se deu a falência fraudulenta de um dos principais
bancos norte-americano, o Lehman`s Brothers, que levou à queda massiva das
bolsas mundiais e à destruição de outras empresas financeiras.
A
preocupação dos representantes políticos esteve centrada não em evitar um
retrocesso nas relações sociais dos desfavorecidos, mas sim em prestar um apoio
descomunal ao sistema financeiro, desde bancos como Goldman Sachs e Merrill, a
companhias de seguros, como a American International Group.
E
isto à custa de redução, nunca antes vista, de salários e pensões das classes
trabalhadoras, de imposição de novos e crescentes impostos, ruína de empresas
industriais e comerciais, de rapina dos dinheiros públicos.
Sempre
em favorecimento exclusivo da lúmpen burguesia financeira, que, descaradamente,
transferia o dinheiro para off-shores e continuava (e continua) na especulação
à custa do tesouro estatal.
Tem
sido desde então uma razia social que a crise do sistema capitalista produziu
cuja, crise permanece sem se vislumbrar uma saída.
Foi
esta realidade que subverteu todo o próprio sistema capitalista, desde as suas
relações de trabalho até às próprias concepções de organização parlamentar e
política existente.
Houve realmente uma ruptura profunda que abala o sistema e surge uma outra que o
começa a pôr em causa.
(Repare-se que mesmo, em dezenas e dezenas de anos, nos Estados Unidos da América, aparece entre os candidatos à próxima eleição presidencial do próprio sistema quem se reclama, abertamente, do socialismo).
O
ataque furibundo dos promotores e fautores da velha ordem capitalista a esta nova realidade é
indicativo de que o que emerge é subversivo e está a colocar em causa a
argamassa que parecia impenetrável desse sistema.
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