1
– A política de devastação, empreendida pelos Estados Unidos, como potência
dominante, em todo o Médio-Oriente, desde os finais do século XX, parecia ser
vitoriosa até cerca de cinco anos atrás.
Neste
último ano, estamos a verificar que essa política de violência inaudita está a
borregar, e, indicia os primórdios de uma superpotência em decadência.
O
que a pode tornar desesperada, e, potencialmente, mais perigosa.
Ora,
essa política está dada ao retrocesso, principalmente, por duas razões: uma
política e outra económica.
Esta
última é a principal, porque mostra o afundamento da economia dos Estados
Unidos.

Desde
a crise de 2007, provocada pelo grande capital financeiro, a economia
norte-americana tem estagnado, com a concentração tremenda do poder económico
no capital financeiro, em detrimento da indústria e do comércio.
Em
todo o período desde aquele ano, o desemprego não desceu, o empobrecimento da
sua população tem sido o traço distintivo. A destruição e a deslocação para o
estrangeiro de algumas das suas principais indústrias, como a automóvel,
fizeram aumentar a bancarrota e o despovoamento de algumas das principais
cidades industriais.
Ora,
as duas principais últimas guerras fomentadas pelo sistema político-económico
dos Estados Unidos atingiram níveis astronómicos, que só endividaram o país,
sem trazerem um retorno visível.
O
erário público caminha para a exaustão, apesar das *habilidades* de produzir,
indiscriminadamente, dólares atrás de dólares, tendo, como *almofada* o facto
de ele ser a moeda de referência e de troca no mercado internacional.
Mas
essa moeda está a perder a capacidade de referência a nível internacional, em
detrimento do yuan e o euro.
/Já
temos abordado o assunto noutros artigos: a razão da guerra sem freio que o
capital norte-americano está a levar contra o euro, o elo mais fraco, está
relacionado com este retrocesso do dólar/.
(A
dívida pública norte-americana está a aproximar-se dos 60 biliões de dólares,
com juros anuais de 4 biliões, com um PIB da ordem dos 15 biliões.).
A
guerra do Iraque até 2013, segundo um estudo realizado por 50 académicos da
Universidade de Brown, de Rhode Island, terá custado perto de dois biliões de
dólares, com um acrescento de 490 mil milhões para pagamento de despesas aos/e
para os veteranos de guerra.
Segundo
o estudo, estes valores são sustentados nos números oficiais do governo
norte-americano.
Os
académicos assinalam que estas despesas podem subir para mais de seis biliões
de dólares nas próximas quatro décadas com pagamentos de juros.
Por
seu turno, a guerra no Afeganistão – valores baseados em dados oficiais – terão
já custado, desde 2001, mais de 700 mil milhões de dólares.
O jornal New York Times assinala que cada soldado norte-americano que passou até agora
pelo Afeganistão custou ao contribuinte qualquer coisa como um milhão de
dólares/ano.
Este
valor ultrapassa os 390 mil dólares previstos pelo Congresso em 2006.

É, pois, a economia que está a refrear a política de violência norte-americana.
2
– O traço mais evidente, do ponto de vista político, de que a geoestratégia
está a transformar-se no mundo actual é o que está a suceder na Síria.
Os
Estados Unidos da América fomentaram, pela violência, a desagregação da antiga
Jugoslávia; estraçalharam o Iraque por clans e tribos, com inaudito poder de fogo,
matando milhares e milhares de pessoas; intervieram, selvaticamente, no
Afeganistão, destroçando-o ainda mais, colocando o país num reino da droga que
controla; avançaram, como animais, pelo norte de África, desfazendo Estados, em
nome de uma apelidada de democrática *Primavera Árabe*.
Caos,
divisões de povos, fragmentações medievais por feudos de Estados, matanças em
*segredos de Estado*, desprezo total pelos povos, tudo isto teria de ser
combatido, tudo isto contribuiu para alçar o fanatismo religioso que se
institui nas áreas mais causticadas, como *sentimento de causas nacionais*, num
caso sob orientação católica fascista, como na Croácia, em pregação islâmica
ultra-montana, em grande parte do chamado mundo muçulmano.

Mas,
esses acontecimentos do actual drama contra-revolucionário que perpassa essas
regiões e Estados teve agora um travão com o que sucede – reafirmamo-lo – na
Síria.
Não
porque se deu, nessa região, um processo revolucionário, mas porque se colocou
no centro da actividade política e do debate internacional o papel desempenhado
pelos Estados Unidos em todo o Mundo e fez vir ao de cima as fraquezas
evidentes da sua capacidade de intervir democraticamente nos assuntos
internacionais.
A
política imperial norte-americana entrou em derrapagem, porque, além de
desprezar os interesses nacionais dos povos que achincalhou, está a obstruir a
caminhada civilizacional, empreendida há mais de 500 anos pela burguesia, então
impulsionada para uma nova sociedade nascente que implica, precisamente, o abate
de fronteiras e a formação de novos grandes Estados.
E
esse eixo de nova via de civilização, quer nós queiramos quer não, está a
centrar-se noutros centros políticos e económicos, que sendo profundamente
burgueses e capitalistas, têm, por detrás, em todo o Mundo reivindicações das classes trabalhadoras,
ainda que não se façam sentir na arena do poder de Estado.
Mas,
elas existem e estão em fermentação, quer através da luta eleitoral, quer das
lutas de rua e, mesmo, abertamente, classistas.
Reafirmamos
o que temos vindo a analisar, anteriormente: é a Europa, concretamente, a
União Europeia que foi o centro das revoluções, e, que hoje é o *laboratório*
de novas experiências de um novo poder.
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