1
– Em Janeiro de 2015, o partido Syriza venceu as eleições parlamentares da
Grécia, propondo um conjunto de medidas económicas de carácter social-democrata
para o país, pugnando, essencialmente, pela reestruturação da dívida pública,
contra a quem se opõe pelo directório pró-capitalista financeiro enquistado em
Bruxelas.
Dentro
do mesmo programa, aquele partido preconizou um aumento de impostos para os
rendimentos mais elevados, cortes no orçamento de defesa e aumentos dos
salários mínimos e pensões.
De
referir que a Grécia é membro da União Europeia e do Eurogrupo.
Os
partidos conservadores e socialistas/sociais democratas do norte da Europa, que
dominam o Eurogrupo, uniram-se em coro, vociferando contra o que eles diziam
ser a chegada dos *radicais* ao poder.
Em
concerto com o sistema capitalista financeiro, estigmatizaram o partido
vencedor das eleições na Grécia, cortando-lhe a possibilidade de receber a
quota-parte dos dinheiros orçamentados da União Europeia.
Fizeram
vergar Tsipras e o seu governo que teve de aceitar um programa de rapina dos
salários e pensões dos trabalhadores como contrapartida para encher os bolsos
dos agiotas, cujo centro, na actualidade, residem no eixo Frankfurt/Bruxelas.
Novas
eleições parlamentares na Grécia, em Setembro passado.
O
partido Syriza é, novamente, vencedor. Exerce outra vez a governação. Desta
vez, em condições, aparentemente, mais desfavoráveis.
Ocorreram,
entretanto, a 4 de Novembro, eleições parlamentares em Portugal.

De
um lado, uma coligação, que era, essencialmente, constituída pelo PSD, partido
representante dos interesses financeiros, que ocupou e substituiu, ideológica e
politicamente, o espaço do seu parceiro, CDS.
Teve
mais deputados do que qualquer outro partido isolado: o PS, moderado do centro,
que no passado se reclamou do marxismo-leninismo, e o Bloco de Esquerda e o
PCP, mais radicais dentro do sistema existente, que defendiam – e defendem -
reivindicações mais exigentes que vão de encontro a algumas das aspirações dos
explorados.
Todavia,
em regime parlamentar, como o português, a maioria depende na relação de forças
políticas ali existente na Assembleia.
E,
deste modo, um acordo entre os partidos que se apresentaram contra a coligação
formada pelo PSD e CDS permite-lhe constituir governo.
Se
o Presidente da República se mostrar dentro das regras da Constituição da
República Portuguesa terá de dar posse àquele.
2
– O que traz de novo estas eleições em vários países da Europa?
A
burguesia capitalista europeia avançou, nas últimas décadas, com toda a sua
artilharia política para fazer a rapina dos bens públicos, empobrecimento das
classes trabalhadoras e de sectores pequenos burgueses e de camponeses até
endurecimento do poder político, na perspectiva de continuar com *segurança* e
*estabilidade* nas suas traficâncias financeiras.
Lançar
as bases de fascização do seu próprio regime.

Os
reveses de todas as revoluções do século XIX e XX, a evolução pró-capitalista
que as lutas anti-coloniais acabaram por sucumbir na segunda metade do século
passado, levou que muitos pensassem que tinham acabado as reivindicações
populares e que o retrocesso combativo das classes laboriosas era para sempre.
Na
realidade, a Europa combativa da segunda metade do século XX deixou de ser o
centro do movimento anti-imperialista e anti-capitalista que se transferiu, em
grande medida, nos finais do mesmo século para a América Latina.
Desde
os anos 80 do século passado até à crise capitalista que explodiu em 2007,
cresceu e desenvolveu-se a grande indústria e o comércio na Europa, estimulou-se
a formação da união económica e a união económica monetária, cristalizou-se o
poder concentrado do sistema financeiro.
Embora
todo o período não fosse de acalmia total nas movimentações populares, o certo
é que foram dispersas.
O
que permitiu que essa relativa acalmia contribuísse não só para o
desenvolvimento da União Europeia, mas igualmente para outros grandes Estados,
como a Rússia, a China e a Índia, não falando já no salto político de toda a
América Latina.
(Foi
esse desenvolvimento que levou a uma mudança geopolítica no Mundo, e, foi,
precisamente, o facto de a evolução económica num espaço como a da União
Europeia que contribuiu para a sua transformação na maior potência comercial que
colocou – e coloca ainda agora – em causa o poder económico dos Estados Unidos
da América).
A
luta aguda contra a rapina feita pelos capitalistas de cada país, através dos
seus representantes nas governações, desde os Presidentes das Repúblicas aos
monarcas medievais em exercício, que idolatram, trouxe a Europa, novamente,
para o centro da actividade política.
O
que está a tornar essa luta mais aguda e que torna a Europa centro de algo que
pode mudar?
Justamente,
a utilização da mais importante *arma política* do regime parlamentar
institucionalizado pela burguesia, desde o século XIX, para se perpetuar no
poder: o poder eleitoral.
Esse
tem sido o traço distintivo na Grécia, em Portugal, e, em grande medida em
Espanha.
Possivelmente, também, na Inglaterra.
(O
próprio partido social-democrata espanhol PSOE, através do seu Presidente, Pedro
Sanchez, anunciou que está disposto a coligar-se com partidos à sua esquerda,
depois das eleições de Dezembro próximo).
3 –
A utilização deste instrumento de mudança tem, todavia, fraquezas já que é
feito por partidos que não apresentam um programa de orientação socialista.
Nem
sustentam, na UE, um programa comum, alicerçado numa disciplina única de
ruptura com o poder estabelecido.
O
progresso feito até aqui é muito *rasteiro*, feito com lentidão, sem um claro norte
de transformação societária, que vise, precisamente, a apropriação e controlo dos meios de produção e distribuição.
A
evolução deste movimento, contudo, tem de ser analisado, futuramente, já que as
actuais classes trabalhadoras estão a percorrer o seu caminho sem o
conhecimento estudado, aprofundado e reformulado das experiências históricas
revolucionárias derrotadas.
A
prática revolucionária é, pois, incipiente e não tem no seu bojo a componente de
uma teoria revolucionária.
O
que é certo é que algo de *subversivo* está em movimento, pois as classes
capitalistas estão em polvorosa.
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