quinta-feira, 12 de novembro de 2015

UE: QUAL A RAZÃO PORQUE AS CLASSES CAPITALISTAS ESTÃO EM POLVOROSA?

1 – Em Janeiro de 2015, o partido Syriza venceu as eleições parlamentares da Grécia, propondo um conjunto de medidas económicas de carácter social-democrata para o país, pugnando, essencialmente, pela reestruturação da dívida pública, contra a quem se opõe pelo directório pró-capitalista financeiro enquistado em Bruxelas.

Dentro do mesmo programa, aquele partido preconizou um aumento de impostos para os rendimentos mais elevados, cortes no orçamento de defesa e aumentos dos salários mínimos e pensões.

De referir que a Grécia é membro da União Europeia e do Eurogrupo.

Os partidos conservadores e socialistas/sociais democratas do norte da Europa, que dominam o Eurogrupo, uniram-se em coro, vociferando contra o que eles diziam ser a chegada dos *radicais* ao poder.

Em concerto com o sistema capitalista financeiro, estigmatizaram o partido vencedor das eleições na Grécia, cortando-lhe a possibilidade de receber a quota-parte dos dinheiros orçamentados da União Europeia.

Fizeram vergar Tsipras e o seu governo que teve de aceitar um programa de rapina dos salários e pensões dos trabalhadores como contrapartida para encher os bolsos dos agiotas, cujo centro, na actualidade, residem no eixo Frankfurt/Bruxelas.

Novas eleições parlamentares na Grécia, em Setembro passado.

O partido Syriza é, novamente, vencedor. Exerce outra vez a governação. Desta vez, em condições, aparentemente, mais desfavoráveis.
Ocorreram, entretanto, a 4 de Novembro, eleições parlamentares em Portugal.

De um lado, uma coligação, que era, essencialmente, constituída pelo PSD, partido representante dos interesses financeiros, que ocupou e substituiu, ideológica e politicamente, o espaço do seu parceiro, CDS.

Teve mais deputados do que qualquer outro partido isolado: o PS, moderado do centro, que no passado se reclamou do marxismo-leninismo, e o Bloco de Esquerda e o PCP, mais radicais dentro do sistema existente, que defendiam – e defendem - reivindicações mais exigentes que vão de encontro a algumas das aspirações dos explorados.

Todavia, em regime parlamentar, como o português, a maioria depende na relação de forças políticas ali existente na Assembleia.

E, deste modo, um acordo entre os partidos que se apresentaram contra a coligação formada pelo PSD e CDS permite-lhe constituir governo.

Se o Presidente da República se mostrar dentro das regras da Constituição da República Portuguesa terá de dar posse àquele.

2 – O que traz de novo estas eleições em vários países da Europa?

A burguesia capitalista europeia avançou, nas últimas décadas, com toda a sua artilharia política para fazer a rapina dos bens públicos, empobrecimento das classes trabalhadoras e de sectores pequenos burgueses e de camponeses até endurecimento do poder político, na perspectiva de continuar com *segurança* e *estabilidade* nas suas traficâncias financeiras.

Lançar as bases de fascização do seu próprio regime.



Os reveses de todas as revoluções do século XIX e XX, a evolução pró-capitalista que as lutas anti-coloniais acabaram por sucumbir na segunda metade do século passado, levou que muitos pensassem que tinham acabado as reivindicações populares e que o retrocesso combativo das classes laboriosas era para sempre.

Na realidade, a Europa combativa da segunda metade do século XX deixou de ser o centro do movimento anti-imperialista e anti-capitalista que se transferiu, em grande medida, nos finais do mesmo século para a América Latina.

Desde os anos 80 do século passado até à crise capitalista que explodiu em 2007, cresceu e desenvolveu-se a grande indústria e o comércio na Europa, estimulou-se a formação da união económica e a união económica monetária, cristalizou-se o poder concentrado do sistema financeiro.

Embora todo o período não fosse de acalmia total nas movimentações populares, o certo é que foram dispersas.

O que permitiu que essa relativa acalmia contribuísse não só para o desenvolvimento da União Europeia, mas igualmente para outros grandes Estados, como a Rússia, a China e a Índia, não falando já no salto político de toda a América Latina.

(Foi esse desenvolvimento que levou a uma mudança geopolítica no Mundo, e, foi, precisamente, o facto de a evolução económica num espaço como a da União Europeia que contribuiu para a sua transformação na maior potência comercial que colocou – e coloca ainda agora – em causa o poder económico dos Estados Unidos da América).

A luta aguda contra a rapina feita pelos capitalistas de cada país, através dos seus representantes nas governações, desde os Presidentes das Repúblicas aos monarcas medievais em exercício, que idolatram, trouxe a Europa, novamente, para o centro da actividade política.

O que está a tornar essa luta mais aguda e que torna a Europa centro de algo que pode mudar?

Justamente, a utilização da mais importante *arma política* do regime parlamentar institucionalizado pela burguesia, desde o século XIX, para se perpetuar no poder: o poder eleitoral.

Esse tem sido o traço distintivo na Grécia, em Portugal, e, em grande medida em Espanha. 

Possivelmente, também, na Inglaterra.

(O próprio partido social-democrata espanhol PSOE, através do seu Presidente, Pedro Sanchez, anunciou que está disposto a coligar-se com partidos à sua esquerda, depois das eleições de Dezembro próximo).

3 – A utilização deste instrumento de mudança tem, todavia, fraquezas já que é feito por partidos que não apresentam um programa de orientação socialista.

Nem sustentam, na UE, um programa comum, alicerçado numa disciplina única de ruptura com o poder estabelecido.

O progresso feito até aqui é muito *rasteiro*, feito com lentidão, sem um claro norte de transformação societária, que vise, precisamente, a apropriação e controlo dos meios de produção e distribuição.

A evolução deste movimento, contudo, tem de ser analisado, futuramente, já que as actuais classes trabalhadoras estão a percorrer o seu caminho sem o conhecimento estudado, aprofundado e reformulado das experiências históricas revolucionárias derrotadas.

A prática revolucionária é, pois, incipiente e não tem no seu bojo a componente de uma teoria revolucionária.

O que é certo é que algo de *subversivo* está em movimento, pois as classes capitalistas estão em polvorosa.  














Sem comentários:

Enviar um comentário