domingo, 6 de dezembro de 2015

A CARIDADEZINHA DO SENHOR ZUCKERBERG

1 –  Na passada terça-feira, o casal norte-americano Marx Zuckerberg e Priscilla, principais accionistas da empresa multinacional Google, tornou público, ao anunciar o nascimento da sua filha, que iria constituir uma organização, com as acções da sua firma, para *promover o potencial humano* e *a igualdade*.

A comunicação social norte-americana ligada a Wall Street lançou logo uma campanha de propaganda mundial, sustentando que o casal capitalista multimilionário iria despojar-se da sua enorme fortuna para *fins de caridade*.

As fontes de ressonância jornalísticas ocidentais, incluindo as portuguesas, ampliaram a dose propagandística.

Todavia esta é a mensagem que Wall Street quis manter, apesar de alguns artigos de jornais – alguns vindos em páginas secundárias – desmistificarem o embuste do grande capital.

A realidade e, vamos apenas referir um artigo saído no jornal Público esta semana: «Ao contrário do que foi noticiado um pouco por todo o mundo na terça-feira a Chan Zuckerberg não vai distribuir dinheiro por instituições de caridade, nem é ela própria uma fundação ou organização sem fins lucrativos – foi criada como uma empresa de responsabilidade limitada, e, isso diz muito sobre as anteriores más experiências de Mark Zuckerberg no mundo da filantropia e sobre a emergência de uma nova classe de jovens multimilionários nascidos no universo das empresas de tecnologia».

Prossegue o jornal: «Ao criarem uma empresa de responsabilidade limitada, Marx e Priscilla têm muito mais margem de manobra para gerir o dinheiro ganho com as suas acções do Facebook e agora destinado à filantropia – podem investir em empresas privadas e influenciar as decisões políticas através de grupo de pressões, por exemplo, que são instrumentos fora do alcance das organizações sem fins lucrativos».

Ou seja, embolsam mais dinheiro, fugindo ao fisco e aos impostos. Tornando-se gatunos piedosos. Um embuste *generosamente* capitalista.

2 – A denúncia não é nova, todavia, mas continua a ser encoberta pelos grandes meios de comunicação social, que procuram dar a imagem *caridosa* dos bons milionários que se interessam pelo bem-estar dos explorados.

«Criticar, porquê? Eles ganham muito dinheiro, mas também destinam uma parte aos seus semelhantes», eis o tipo de argumentação usada para fazer obscurecer a verdadeira prática desses *bons samaritanos* que constituem hoje a guarda avançada do lumpen capital financeiro internacional.

Bill Gates, o senhor da Microsoft, uma das maiores empresas capitalistas multinacionais da alta tecnologia, sediada nos Estados Unidos, apareceu, nos últimos anos, endeusado como uma espécie de mecenas do *terceiro mundo*.

Aliás, dias atrás, subiu aos palcos da chamada Cimeira do Clima, onde dominam os capitalistas e os seus representantes governamentais, desde os EUA à China, passando pela UE, Rússia, China e outros, que decorre em Paris, como *estrela* de primeira grandeza como combate à poluição que está a destruir a Terra.


A realidade: Em 2007, o jornal norte-americano Los Angeles Times publicou uma reportagem considerada *explosiva*, onde sublinhava que a Fundação Gates (as fundações sem fins lucrativos !!!...) utilizava os milhões de milhões de dólares que transferia para a citada instituição de *caridade*, sem ter de pagar impostos, para investi-los em empresas, todas elas altamente poluidoras ou que semeavam doenças – com a produção de alimentos - aos camponeses do *terceiro mundo*.

Na sequência dessa reportagem, veio a saber-se por outros relatos que a fundação Gates estava a investir em multinacionais de armamento, em proliferação de prisões privadas nos EUA, e cadeias de empresas de *alimentos rápidos*, entre outros.

Em 2013, veio à luz uma denúncia, que especificava os investimentos da Fundação nas empresas petrolíferas.

Na Exxon – 662 milhões de dólares; GEO, empresa de gestão de prisões privadas 2,2 milhões de dólares.

Mas, igualmente, na Wallmart, empresa com uma desmesurada exploração de trabalho escravo –mil milhões de dólares.

Ou na multinacional agro-industrial Monsanto,que explora a produção agrícola sem freio na Etiópia, Uganda – 23 milhões.

A utilização da *caridade* para fins de engrossamento das suas contas bancárias não é exclusivo dos grandes magnates, mas também de «personalidades» do mundo do espectáculo, como o festejado cantor irlandês Bono, do grupo U-2, que regularmente aparece como apoiante das +causas populares+ em reuniões mega-capitalistas como Davos.

A sua fundação de nome ONE recebe mais de 90 por cento do dinheiro vindos de doações

3 – Mas, haverá questões que se colocarão: 
Certo é caridade. Todavia, o valor que eles destinam à saúde, à investigação à saúde em diferentes locais do planeta servem a melhoria de vida de milhares e milhares de pessoas.

A realidade é outra: a tremenda fuga aos impostos destes lumpen capitalistas ultrapassa, na realidade, os míseros valores que destinam à caridade.


A sua apropriação individual da riqueza produzida não se destina, realmente, a favorecer a luta contra a desigualdade, mas sim a semear, por caminhos cheios de mortes e destruições, mais lucros, mais exploração, mais dinheiro, que não entra nos cofres do Estado.  

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