1 –
As cabeças bem pensantes da Europa ficaram sideradas com a possibilidade de o
partido fascista francês Front Nationale (FN) vir a ser a formação dominante em
vários governos regionais daquele país, após os resultados eleitorais do
passado domingo.
Pateticamente,
o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, acenou com o espantalho da guerra
civil no caso de vitória do FN, como se essa ilustre personagem – e a direcção
do seu partido - se fosse colocar na primeira linha de combate contra o avanço
eleitoral da Front Nationale.
Os
políticos instalados nos diferentes países da União Europeia sabem – e muito
bem – que o incremento do fascismo, que está a medrar por via eleitoral, não é
produto de um *acidente* que está a ocorrer em França, mas instalou-se no
próprio aparelho de Estado dos mesmos países, com a própria cumplicidade de
senhores *socialistas*, como Manuel Valls.
Meses
atrás, na Polónia, um partido abertamente fascista, anti-europeista,
fervorosamente fanático reaccionário católico e xenófobo, como «Lei e Justiça»,
do discípulo do falecido Papa João Paulo II (convém não esquecer este facto) o
ex-primeiro-ministro Jarosław Kaczyński, ganhou as eleições legislativas, com
maioria absoluta, sem qualquer contestações institucional de envergadura. Nem do senhor Valls.

A liderança do Partido Lei e Justiça
Aliás,
além do citado, a vida política polaca é, ainda, dominada por vários partidos
reaccionários católicos capitalistas, que procuram tornar clandestina qualquer
formação política que se intitule anti-capitalista.
Igualmente,
na Finlândia, é um partido fascista que lidera o governo os «Verdadeiros
Finlandeses», em aliança com os capitalistas conservadores.
Na
Letónia, também o partido fascista «Aliança Nacional» faz parte da coligação
com dois partidos conservadores «Unidade» e «União dos Verdes e dos
Agricultores».
2
– A questão que se põe é esta: aparecem os partidos fascistas do nada, para
serem +mauzinhos+?
Os
partidos surgem da sociedade e representam interesses classistas ou de fracções
de classes da mesma.
Desde
que o capitalismo ganhou foros de cidadania plena, com a grande
industrialização mundial depois da I Grande Guerra, que se estendeu, principalmente,
para a América do Norte, as crises que o acompanha tornaram-se cada vez mais
frequentes, mas também, nas últimas décadas, em tempos sempre mais curtos. E
acima de tudo, elas são mais profundas.
No
estertor final da I Grande Guerra, confrontado com a vitória da Revolução
Soviética em Outubro de 1917, o capitalismo enfrentava um novo modelo de
sociedade, que a vingar e a estender-se, à parte europeia mais industrial e
produtiva, o poderia destruir rapidamente.
E
agiu, rapidamente, em duas direcções:
O
financiamento de uma coligação armada poderosa, que destruiu, em grande parte,
a estrutura produtiva incipiente do novo país nascente, que se veio a chamar
União Soviética;
o
apoio financeiro classista e incitamento à formação de partidos e formações
políticas abertamente reaccionárias em países, como Alemanha, França, Espanha,
Itália, Portugal, Hungria e Roménia.

Partido Nacional Socialistas dos Trabalhadores Alemães em 1922
Os
partidos fascistas não se apresentam perante as sociedades como formações
adeptas abertas de uma intervenção violenta a favor do capitalismo.
Pelo
contrário, em palavras até se dizem anti-capitalistas.
Com
propostas de intervenção política diferenciada, por vezes, aparentemente
incoerentes, mas assentes em objectivos precisos: impedir o ascenso do
«socialismo e comunismo», formar «Estados fortes», «acabar com a luta de
classes», militarizar a sociedade.
Assim
sucedeu com o partido fascista de Mussolini, ou o partido nazi de Hitler, ou
com a falange espanhola, que alçou Franco ao poder.
3 –
Historicamente, desde as primeiras décadas do século passado, o ascenso dos partidos
fascistas está ligado às profundas crises que o capitalismo atravessa.
Enquanto
o desenvolvimento capitalista flue, normalmente, nas suas transações de mercado,
levando a uma expansão sem sobressaltos, a sua gestão política é assegurada,
com sucesso, por entidades partidárias «socialistas», «sociais democratas» ou
mesmo «conservadoras democratas».
É,
pois, nos períodos de estagnação capitalista, em alturas que a possibilidade de
se abrir vias de mudanças políticas profundas, mesmo revolucionárias, que o
capital usa as suas entidades políticas extremas para conseguir manter o seu
domínio.
Não
se coíbe, portanto, para tal, de fomentar a militarização da sociedade, como
sucedeu com a Alemanha nazi, a Itália fascista ou o Japão monárquico-medieval de 1939.
Hoje,
a situação torna-se mais grave para o sistema capitalista.
As
forças produtivas que se agigantaram nas últimas décadas estão em fase de
travagem pelas relações de produção existentes.
A
crise financeira de 2007, iniciada nos Estados Unidos da América, veio mostrar
qual profunda era a crise económica e social mundial nos dias de hoje. É
problema que se alonga pela Europa, pela Rússia, China, Brasil.
Perpassa pelos diferentes continente, onde a capacidade de mercadejar está em
concorrência inaudita entre potências: umas que se afundam, caso dos EUA,
outras que pretendem ocupar o seu lugar, como Rússia e a China.
Ora,
tudo isto sucede dentro de um quadro económico extremamente preocupante e
explosivo: os índices de desemprego são astronómicos e cada vez mais permanente.
A
técnica e a ciência que se desenvolvem estão a fazer-se com menos emprego, cada vez
menos, e mais degradante.
As
sociedades estão em crise continuada de superprodução, sem escoamento
mercantil.
O
capitalismo está a ter a percepção que a encruzilhada não está a desaparecer.
4 –
Voltemos à Frente Nacional.
Como vai ganhando espaço político?: Afirma-se em luta contra o sistema existente,
embora, como lhe convém, seja ambígua sobre a forma real de poder que pretende.
Adopta
um vago «nacionalismo», explora as contradições entre trabalhadores que já
trabalham e aqueles +estrangeiros+ que procuram melhoria da sua vida.

São
firmemente contra o «socialismo» e o «comunismo» que procura identificar com o
capitalismo de Estado da antiga era soviética russa e o da actual República chinesa.
Mas,
acima de tudo, propagandeiam a necessidade de *solidariedade nacional*, a favor
de impostos baixos.
A
FN diz-se ainda favorável à simplificação fiscal, e, afirma mesmo defender
impostos para mais ricos, entre outros itens.
Ou
seja, aparentemente, se isoladas do seu contexto de poder, poderiam ser
subscritas por um partido de revolução.
A
questão está, pois, aqui: não existem partidos a propor um poder
revolucionário, mas a defender a vacuidade de uma democracia dentro do actual
sistema.
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