sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O PROBLEMA SÍRIO ESTÁ A MUDAR AS RELAÇÕES GEOPOLÍTICAS NO MUNDO

1 – A política de devastação, empreendida pelos Estados Unidos, como potência dominante, em todo o Médio-Oriente, desde os finais do século XX, parecia ser vitoriosa até cerca de cinco anos atrás.

Neste último ano, estamos a verificar que essa política de violência inaudita está a borregar, e, indicia os primórdios de uma superpotência em decadência.

O que a pode tornar desesperada, e, potencialmente, mais perigosa.

Ora, essa política está dada ao retrocesso, principalmente, por duas razões: uma política e outra económica.

Esta última é a principal, porque mostra o afundamento da economia dos Estados Unidos.


Desde a crise de 2007, provocada pelo grande capital financeiro, a economia norte-americana tem estagnado, com a concentração tremenda do poder económico no capital financeiro, em detrimento da indústria e do comércio.

Em todo o período desde aquele ano, o desemprego não desceu, o empobrecimento da sua população tem sido o traço distintivo. A destruição e a deslocação para o estrangeiro de algumas das suas principais indústrias, como a automóvel, fizeram aumentar a bancarrota e o despovoamento de algumas das principais cidades industriais. 

Ora, as duas principais últimas guerras fomentadas pelo sistema político-económico dos Estados Unidos atingiram níveis astronómicos, que só endividaram o país, sem trazerem um retorno visível.

O erário público caminha para a exaustão, apesar das *habilidades* de produzir, indiscriminadamente, dólares atrás de dólares, tendo, como *almofada* o facto de ele ser a moeda de referência e de troca no mercado internacional.

Mas essa moeda está a perder a capacidade de referência a nível internacional, em detrimento do yuan e o euro.

/Já temos abordado o assunto noutros artigos: a razão da guerra sem freio que o capital norte-americano está a levar contra o euro, o elo mais fraco, está relacionado com este retrocesso do dólar/.

(A dívida pública norte-americana está a aproximar-se dos 60 biliões de dólares, com juros anuais de 4 biliões, com um PIB da ordem dos 15 biliões.).

A guerra do Iraque até 2013, segundo um estudo realizado por 50 académicos da Universidade de Brown, de Rhode Island, terá custado perto de dois biliões de dólares, com um acrescento de 490 mil milhões para pagamento de despesas aos/e para os veteranos de guerra.

Segundo o estudo, estes valores são sustentados nos números oficiais do governo norte-americano.

Os académicos assinalam que estas despesas podem subir para mais de seis biliões de dólares nas próximas quatro décadas com pagamentos de juros.

Por seu turno, a guerra no Afeganistão – valores baseados em dados oficiais – terão já custado, desde 2001, mais de 700 mil milhões de dólares.

O jornal New York Times assinala que cada soldado norte-americano que passou até agora pelo Afeganistão custou ao contribuinte qualquer coisa como um milhão de dólares/ano.

Este valor ultrapassa os 390 mil dólares previstos pelo Congresso em 2006.


É, pois, a economia que está a refrear a política de violência norte-americana.

2 – O traço mais evidente, do ponto de vista político, de que a geoestratégia está a transformar-se no mundo actual é o que está a suceder na Síria.

Os Estados Unidos da América fomentaram, pela violência, a desagregação da antiga Jugoslávia; estraçalharam o Iraque por clans e tribos, com inaudito poder de fogo, matando milhares e milhares de pessoas; intervieram, selvaticamente, no Afeganistão, destroçando-o ainda mais, colocando o país num reino da droga que controla; avançaram, como animais, pelo norte de África, desfazendo Estados, em nome de uma apelidada de democrática *Primavera Árabe*.

Caos, divisões de povos, fragmentações medievais por feudos de Estados, matanças em *segredos de Estado*, desprezo total pelos povos, tudo isto teria de ser combatido, tudo isto contribuiu para alçar o fanatismo religioso que se institui nas áreas mais causticadas, como *sentimento de causas nacionais*, num caso sob orientação católica fascista, como na Croácia, em pregação islâmica ultra-montana, em grande parte do chamado mundo muçulmano.


Mas, esses acontecimentos do actual drama contra-revolucionário que perpassa essas regiões e Estados teve agora um travão com o que sucede – reafirmamo-lo – na Síria.

Não porque se deu, nessa região, um processo revolucionário, mas porque se colocou no centro da actividade política e do debate internacional o papel desempenhado pelos Estados Unidos em todo o Mundo e fez vir ao de cima as fraquezas evidentes da sua capacidade de intervir democraticamente nos assuntos internacionais.

A política imperial norte-americana entrou em derrapagem, porque, além de desprezar os interesses nacionais dos povos que achincalhou, está a obstruir a caminhada civilizacional, empreendida há mais de 500 anos pela burguesia, então impulsionada para uma nova sociedade nascente que implica, precisamente, o abate de fronteiras e a formação de novos grandes Estados.

E esse eixo de nova via de civilização, quer nós queiramos quer não, está a centrar-se noutros centros políticos e económicos, que sendo profundamente burgueses e capitalistas, têm, por detrás, em todo o Mundo reivindicações das classes trabalhadoras, ainda que não se façam sentir na arena do poder de Estado.

Mas, elas existem e estão em fermentação, quer através da luta eleitoral, quer das lutas de rua e, mesmo, abertamente, classistas.

Reafirmamos o que temos vindo a analisar, anteriormente: é a Europa, concretamente, a União Europeia que foi o centro das revoluções, e, que hoje é o *laboratório* de novas experiências de um novo poder.













 






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