quinta-feira, 12 de novembro de 2015

UE: QUAL A RAZÃO PORQUE AS CLASSES CAPITALISTAS ESTÃO EM POLVOROSA?

1 – Em Janeiro de 2015, o partido Syriza venceu as eleições parlamentares da Grécia, propondo um conjunto de medidas económicas de carácter social-democrata para o país, pugnando, essencialmente, pela reestruturação da dívida pública, contra a quem se opõe pelo directório pró-capitalista financeiro enquistado em Bruxelas.

Dentro do mesmo programa, aquele partido preconizou um aumento de impostos para os rendimentos mais elevados, cortes no orçamento de defesa e aumentos dos salários mínimos e pensões.

De referir que a Grécia é membro da União Europeia e do Eurogrupo.

Os partidos conservadores e socialistas/sociais democratas do norte da Europa, que dominam o Eurogrupo, uniram-se em coro, vociferando contra o que eles diziam ser a chegada dos *radicais* ao poder.

Em concerto com o sistema capitalista financeiro, estigmatizaram o partido vencedor das eleições na Grécia, cortando-lhe a possibilidade de receber a quota-parte dos dinheiros orçamentados da União Europeia.

Fizeram vergar Tsipras e o seu governo que teve de aceitar um programa de rapina dos salários e pensões dos trabalhadores como contrapartida para encher os bolsos dos agiotas, cujo centro, na actualidade, residem no eixo Frankfurt/Bruxelas.

Novas eleições parlamentares na Grécia, em Setembro passado.

O partido Syriza é, novamente, vencedor. Exerce outra vez a governação. Desta vez, em condições, aparentemente, mais desfavoráveis.
Ocorreram, entretanto, a 4 de Novembro, eleições parlamentares em Portugal.

De um lado, uma coligação, que era, essencialmente, constituída pelo PSD, partido representante dos interesses financeiros, que ocupou e substituiu, ideológica e politicamente, o espaço do seu parceiro, CDS.

Teve mais deputados do que qualquer outro partido isolado: o PS, moderado do centro, que no passado se reclamou do marxismo-leninismo, e o Bloco de Esquerda e o PCP, mais radicais dentro do sistema existente, que defendiam – e defendem - reivindicações mais exigentes que vão de encontro a algumas das aspirações dos explorados.

Todavia, em regime parlamentar, como o português, a maioria depende na relação de forças políticas ali existente na Assembleia.

E, deste modo, um acordo entre os partidos que se apresentaram contra a coligação formada pelo PSD e CDS permite-lhe constituir governo.

Se o Presidente da República se mostrar dentro das regras da Constituição da República Portuguesa terá de dar posse àquele.

2 – O que traz de novo estas eleições em vários países da Europa?

A burguesia capitalista europeia avançou, nas últimas décadas, com toda a sua artilharia política para fazer a rapina dos bens públicos, empobrecimento das classes trabalhadoras e de sectores pequenos burgueses e de camponeses até endurecimento do poder político, na perspectiva de continuar com *segurança* e *estabilidade* nas suas traficâncias financeiras.

Lançar as bases de fascização do seu próprio regime.



Os reveses de todas as revoluções do século XIX e XX, a evolução pró-capitalista que as lutas anti-coloniais acabaram por sucumbir na segunda metade do século passado, levou que muitos pensassem que tinham acabado as reivindicações populares e que o retrocesso combativo das classes laboriosas era para sempre.

Na realidade, a Europa combativa da segunda metade do século XX deixou de ser o centro do movimento anti-imperialista e anti-capitalista que se transferiu, em grande medida, nos finais do mesmo século para a América Latina.

Desde os anos 80 do século passado até à crise capitalista que explodiu em 2007, cresceu e desenvolveu-se a grande indústria e o comércio na Europa, estimulou-se a formação da união económica e a união económica monetária, cristalizou-se o poder concentrado do sistema financeiro.

Embora todo o período não fosse de acalmia total nas movimentações populares, o certo é que foram dispersas.

O que permitiu que essa relativa acalmia contribuísse não só para o desenvolvimento da União Europeia, mas igualmente para outros grandes Estados, como a Rússia, a China e a Índia, não falando já no salto político de toda a América Latina.

(Foi esse desenvolvimento que levou a uma mudança geopolítica no Mundo, e, foi, precisamente, o facto de a evolução económica num espaço como a da União Europeia que contribuiu para a sua transformação na maior potência comercial que colocou – e coloca ainda agora – em causa o poder económico dos Estados Unidos da América).

A luta aguda contra a rapina feita pelos capitalistas de cada país, através dos seus representantes nas governações, desde os Presidentes das Repúblicas aos monarcas medievais em exercício, que idolatram, trouxe a Europa, novamente, para o centro da actividade política.

O que está a tornar essa luta mais aguda e que torna a Europa centro de algo que pode mudar?

Justamente, a utilização da mais importante *arma política* do regime parlamentar institucionalizado pela burguesia, desde o século XIX, para se perpetuar no poder: o poder eleitoral.

Esse tem sido o traço distintivo na Grécia, em Portugal, e, em grande medida em Espanha. 

Possivelmente, também, na Inglaterra.

(O próprio partido social-democrata espanhol PSOE, através do seu Presidente, Pedro Sanchez, anunciou que está disposto a coligar-se com partidos à sua esquerda, depois das eleições de Dezembro próximo).

3 – A utilização deste instrumento de mudança tem, todavia, fraquezas já que é feito por partidos que não apresentam um programa de orientação socialista.

Nem sustentam, na UE, um programa comum, alicerçado numa disciplina única de ruptura com o poder estabelecido.

O progresso feito até aqui é muito *rasteiro*, feito com lentidão, sem um claro norte de transformação societária, que vise, precisamente, a apropriação e controlo dos meios de produção e distribuição.

A evolução deste movimento, contudo, tem de ser analisado, futuramente, já que as actuais classes trabalhadoras estão a percorrer o seu caminho sem o conhecimento estudado, aprofundado e reformulado das experiências históricas revolucionárias derrotadas.

A prática revolucionária é, pois, incipiente e não tem no seu bojo a componente de uma teoria revolucionária.

O que é certo é que algo de *subversivo* está em movimento, pois as classes capitalistas estão em polvorosa.  














sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O PROBLEMA SÍRIO ESTÁ A MUDAR AS RELAÇÕES GEOPOLÍTICAS NO MUNDO

1 – A política de devastação, empreendida pelos Estados Unidos, como potência dominante, em todo o Médio-Oriente, desde os finais do século XX, parecia ser vitoriosa até cerca de cinco anos atrás.

Neste último ano, estamos a verificar que essa política de violência inaudita está a borregar, e, indicia os primórdios de uma superpotência em decadência.

O que a pode tornar desesperada, e, potencialmente, mais perigosa.

Ora, essa política está dada ao retrocesso, principalmente, por duas razões: uma política e outra económica.

Esta última é a principal, porque mostra o afundamento da economia dos Estados Unidos.


Desde a crise de 2007, provocada pelo grande capital financeiro, a economia norte-americana tem estagnado, com a concentração tremenda do poder económico no capital financeiro, em detrimento da indústria e do comércio.

Em todo o período desde aquele ano, o desemprego não desceu, o empobrecimento da sua população tem sido o traço distintivo. A destruição e a deslocação para o estrangeiro de algumas das suas principais indústrias, como a automóvel, fizeram aumentar a bancarrota e o despovoamento de algumas das principais cidades industriais. 

Ora, as duas principais últimas guerras fomentadas pelo sistema político-económico dos Estados Unidos atingiram níveis astronómicos, que só endividaram o país, sem trazerem um retorno visível.

O erário público caminha para a exaustão, apesar das *habilidades* de produzir, indiscriminadamente, dólares atrás de dólares, tendo, como *almofada* o facto de ele ser a moeda de referência e de troca no mercado internacional.

Mas essa moeda está a perder a capacidade de referência a nível internacional, em detrimento do yuan e o euro.

/Já temos abordado o assunto noutros artigos: a razão da guerra sem freio que o capital norte-americano está a levar contra o euro, o elo mais fraco, está relacionado com este retrocesso do dólar/.

(A dívida pública norte-americana está a aproximar-se dos 60 biliões de dólares, com juros anuais de 4 biliões, com um PIB da ordem dos 15 biliões.).

A guerra do Iraque até 2013, segundo um estudo realizado por 50 académicos da Universidade de Brown, de Rhode Island, terá custado perto de dois biliões de dólares, com um acrescento de 490 mil milhões para pagamento de despesas aos/e para os veteranos de guerra.

Segundo o estudo, estes valores são sustentados nos números oficiais do governo norte-americano.

Os académicos assinalam que estas despesas podem subir para mais de seis biliões de dólares nas próximas quatro décadas com pagamentos de juros.

Por seu turno, a guerra no Afeganistão – valores baseados em dados oficiais – terão já custado, desde 2001, mais de 700 mil milhões de dólares.

O jornal New York Times assinala que cada soldado norte-americano que passou até agora pelo Afeganistão custou ao contribuinte qualquer coisa como um milhão de dólares/ano.

Este valor ultrapassa os 390 mil dólares previstos pelo Congresso em 2006.


É, pois, a economia que está a refrear a política de violência norte-americana.

2 – O traço mais evidente, do ponto de vista político, de que a geoestratégia está a transformar-se no mundo actual é o que está a suceder na Síria.

Os Estados Unidos da América fomentaram, pela violência, a desagregação da antiga Jugoslávia; estraçalharam o Iraque por clans e tribos, com inaudito poder de fogo, matando milhares e milhares de pessoas; intervieram, selvaticamente, no Afeganistão, destroçando-o ainda mais, colocando o país num reino da droga que controla; avançaram, como animais, pelo norte de África, desfazendo Estados, em nome de uma apelidada de democrática *Primavera Árabe*.

Caos, divisões de povos, fragmentações medievais por feudos de Estados, matanças em *segredos de Estado*, desprezo total pelos povos, tudo isto teria de ser combatido, tudo isto contribuiu para alçar o fanatismo religioso que se institui nas áreas mais causticadas, como *sentimento de causas nacionais*, num caso sob orientação católica fascista, como na Croácia, em pregação islâmica ultra-montana, em grande parte do chamado mundo muçulmano.


Mas, esses acontecimentos do actual drama contra-revolucionário que perpassa essas regiões e Estados teve agora um travão com o que sucede – reafirmamo-lo – na Síria.

Não porque se deu, nessa região, um processo revolucionário, mas porque se colocou no centro da actividade política e do debate internacional o papel desempenhado pelos Estados Unidos em todo o Mundo e fez vir ao de cima as fraquezas evidentes da sua capacidade de intervir democraticamente nos assuntos internacionais.

A política imperial norte-americana entrou em derrapagem, porque, além de desprezar os interesses nacionais dos povos que achincalhou, está a obstruir a caminhada civilizacional, empreendida há mais de 500 anos pela burguesia, então impulsionada para uma nova sociedade nascente que implica, precisamente, o abate de fronteiras e a formação de novos grandes Estados.

E esse eixo de nova via de civilização, quer nós queiramos quer não, está a centrar-se noutros centros políticos e económicos, que sendo profundamente burgueses e capitalistas, têm, por detrás, em todo o Mundo reivindicações das classes trabalhadoras, ainda que não se façam sentir na arena do poder de Estado.

Mas, elas existem e estão em fermentação, quer através da luta eleitoral, quer das lutas de rua e, mesmo, abertamente, classistas.

Reafirmamos o que temos vindo a analisar, anteriormente: é a Europa, concretamente, a União Europeia que foi o centro das revoluções, e, que hoje é o *laboratório* de novas experiências de um novo poder.













 






quinta-feira, 5 de novembro de 2015

AVIÃO RUSSO/SINAI: OS EUA SERÃO PARTE INTERESSADA?


1 – Reparem como se faz manipulação e como actuam os responsáveis  políticos, neste caso norte-americanos e ingleses, a propósito da queda, há dias, de um avião comercial russo na península do Sinai (Egipto), causando a morte de mais de 200 pessoas.

Durante o dia de ontem – terça-feira, 4 de Novembro – os meios de comunicação dos Estados Unidos da América e da Europa noticiaram a uma só voz que *um responsável norte-americano – curiosamente não identificado, seria quem, o Presidente, o chefe da CIA, o director do departamento governamental X – considerou «altamente provável» que a explosão de uma bomba tenha sido a causa da queda do avião russo da MetroJet no Egipto*.

Uma reviravolta para lançar mais confusão, o mesmo anónimo precisa:
"Não estou a dizer que é uma afirmação definitiva sobre o que aconteceu".

Em que factos é que se baseiam para «achar»?

Nicles.


Só se for no complemento da notícia: *O ramo do grupo extremista Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pela queda do Airbus A231 da companhia russa MetroJet, no sábado, no Egipto, que provocou a morte a 224 pessoas, mas não especificou como o fez*.

Na mesma altura que se divulga a notícia provinda do *responsável norte-americano*, já um novo despacho é lançado de Londres…e Washington.

Cita-se: *Governo britânico teme que o acidente com avião russo tenha sido causado por uma bomba e quer investigar antes de deixar partir aviões.

*O Reino Unido e os Estados Unidos suspeitam que o avião que se despenhou no Egito, na Península do Sinai, caiu devido a um engenho explosivo. Depois de o Reino Unido ter decidido suspender todos os voos Sharm el-Sheik com destino ao país, devido a estas fortes suspeitas, a CNN avança que os últimos relatórios dos serviços secretos norte-americanos apontam também para a explosão de uma bomba ter causado a queda do avião russo, com 224 pessoas a bordo.

Fonte dos serviços secretos disse à CNN que, embora não existam conclusões oficiais, a investigação aponta para a existência de uma bomba colocada pelo grupo Estado Islâmico ou por um grupo afiliado.

Uma porta-voz de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro britânico, confirmou a medida de suspensão dos voos, considerada "provisória", à imprensa local: "Enquanto a investigação prossegue não podemos afirmar categoricamente a razão pela qual se despenhou o avião russo. Mas à medida que mais informação vai sendo conhecida, ficámos mais preocupados com a hipótese de ter sido um engenho explosivo a provocar a queda do avião. À luz deste facto, e como medida de precaução, decidimos que os voos que deveriam partir de Sharm el-Sheik para o Reino Unido esta noite seriam atrasados. Isto dará tempo a que uma equipa de especialistas britânicos, que neste momento estão em viagem para Sharm, avalie os procedimentos de segurança no aeroporto e identifique se mais alguma acção é necessária. Esperamos que esta avaliação fique completa esta noite".

O governo admitiu que a medida poderá ser "preocupante" para os britânicos de férias no 'resort' e para aqueles que têm viagens marcadas para Sharm el-Sheik, aconselhando os cidadãos a entrar em contacto com as companhias aéreas e operadores turísticos.

Segundo o jornal Telegraph,  o primeiro-ministro britânico, David Cameron, estará presente ainda esta quarta-feira numa reunião convocada de urgência para debater a matéria*.

2 – Como se pode verificar é uma mão cheia de nada.

Apenas suposições.

Na realidade, tudo pode ter sucedido: abate por míssil, bomba, sequestro, falha técnica ou mesmo erro humano.

Mas qual a razão desta mistificação. 

Por razões de pura propaganda política, para instigar veneno sobre a presença militar russa na Síria.

Pensemos agora de outra maneira.

Entremos nós na especulação.

Se foi um míssil ou bomba quem os utilizou?


Quem fornece os mísseis ou quem permite que uma bomba, com as medidas de segurança que existem hoje se coloque no interior do aparelho?

Um míssil para atingir um avião a voar a mais de nove mil metros teria de ser de certa complexidade, superior aos terra-a-terra que atingem, mais ou menos, cinco quilómetros.

Ora, afirmamos nós: esses mísseis, aparentemente na posse do Exército Islâmico, teriam de ser fornecidos, encobertos ou legalmente, apenas pelas potências que promovem e fomentem aquela formação nebulosa?

Pela sua complexidade, os fornecedores (governos – e só são fornecidos com o assentimento das mais altas instâncias do poder) apenas os utilizam através de indivíduos que lhe são, rigorosamente, afectos.

Mas a pergunta pode ser mais complexa ou rebuscada, se quiserem, mas mais do que nunca numa investigação terá de ser feita.

Se suspeitam, se acham, se sabem ou admitem, não poderá ser porque estão metidos no acto monstruoso?

Dos Estados Unidos da América ou da Inglaterra, já tudo será de esperar.


Basta atentar sobre o realizar ao longo destas décadas: assassinatos de governantes de outros países, mortes provocadas indiscriminadamente de cidadãos do seu país, raptos e sequestros de oposicionistas dentro e fora dos Estados Unidos ou de Inglaterra.

Com a assinatura secreta dos seus máximos dirigentes.

Espero que desta vez a queda do avião russo tenha sido, somente, por falha técnica ou erro humano.


domingo, 1 de novembro de 2015

UNIÃO EUROPEIA: A SUBVERSÃO ESTÁ NA ORDEM DO DIA

1 –  Os poderes políticos estabelecidos e dominantes na União Europeia (UE) estão alarmados com a possibilidade de se formarem, nos próximos tempos em diferentes países, governos ditos de *esquerda*, ou seja constituídos ou apoiados por partidos classificados por esses poderes, como de *extrema-esquerda* ou *radicais*.

Depois de uma apatia prolongada de muitos anos, verifica-se, através de movimentações, em larga escala, das classes trabalhadoras, pugnando por melhorias do nível de vida, com consequências em diferentes eleições legislativas de diversos países onde surgem partidos e forças políticas que apresentam programas que preconizam cortar com o espartilho dos regimes vigentes capitalistas.

Eles adquiriram, em poucos anos, uma projecção parlamentar e até de poder, apesar das ambiguidades e hesitações que manifestam no confronto com esses regimes estabelecidos.

A reacção dos poderes capitalistas dominantes em Bruxelas – e que estão a asfixiar a evolução democrática da UE – são sintoma de que se sentem ameaçados com uma eventual mudança do sistema instituído e colocam no ar o espectro da chegada de uma mudança radical na sociedade europeia.

O percurso da Revolução, num período longo desde os finais da II Grande Guerra, e, principalmente, desde as guerras anticoloniais dos anos 60/70 do século passado, parece ter sido obscurecido pela época subsequente em que, praticamente, toda a sociedade foi submergida por um retrocesso avassalador produzido pelo poder capitalista financeiro mais retrógrado.

Os ecos das grandes Revoluções do século XX, principalmente as que envolveram centenas de milhões de explorados, como a soviética de 1917 e a chinesa de 1949, parecem ter desaparecido, com o passo atrás de várias décadas até aos dias de hoje.

Todavia, elas tiveram um impacto enorme em todas as lutas classistas do século passado, embora as análises mais capazes nos mostravam que, do ponto de vista da evolução da economia política, então, teriam de acabar em derrotas.

As condições de revolucionamento social avançado colidiram com as estruturas produtivas capitalistas pouco desenvolvidas ou mesmos pré-capitalistas e a energia desses revoluções entrou em descendo, tornando-se mesmo em contra-revoluçõs que, infelizmente, se prolongaram por demasiado tempo, *embaciando* ou mesmo deteriorando a capacidade para entrar em nova fase de ruptura económica e política.

Naturalmente, parece que a sociedade estagnou, mas nas entranhas das lutas sociais, paulatinamente, vai-se vendo o que foi errado, analisando os factos e os eventos, e, lentamente acumulando forças para empreender um novo assalto.

Claro que este caminho ainda não tem uma visão programática elaborada para empreender uma nova via, mas os indícios apontam que ele está a ser traçado.

Com hesitações, mas também com novas perspectivas, com novo alento de consciência política, que tem sido acalentado com as próprias eleições dentro do sistema estabelecido.

A nova visão programática deve, todavia, ser encarada em conjunto dentro da União Europeia.

É, justamente, na Europa, berço das revoluções proletárias nos séculos XIX e XX, que, novamente, ressurge uma nova esperança de mudança.

2 – A actual situação política na Europa está ligada a um acontecimento económico-financeiro internacional, que provocou um empobrecimento generalizado das classes trabalhadores, um clamor geral de mal-estar e descontentamento e as maiores movimentações dos explorados das últimas dezenas de anos.

Quando estalou em 2007, a crise da especulação capitalista em torno do imobiliário nos Estados Unidos, com o descalabro social que levou à ruína de milhões de compradores de casa, tal crise transformou-se, no ano seguinte,  em económica e financeira.


E alastrou-se pelo mundo quando se deu a falência fraudulenta de um dos principais bancos norte-americano, o Lehman`s Brothers, que levou à queda massiva das bolsas mundiais e à destruição de outras empresas financeiras.

A preocupação dos representantes políticos esteve centrada não em evitar um retrocesso nas relações sociais dos desfavorecidos, mas sim em prestar um apoio descomunal ao sistema financeiro, desde bancos como Goldman Sachs e Merrill, a companhias de seguros, como a American International Group.

E isto à custa de redução, nunca antes vista, de salários e pensões das classes trabalhadoras, de imposição de novos e crescentes impostos, ruína de empresas industriais e comerciais, de rapina dos dinheiros públicos.

Sempre em favorecimento exclusivo da lúmpen burguesia financeira, que, descaradamente, transferia o dinheiro para off-shores e continuava (e continua) na especulação à custa do tesouro estatal.

Tem sido desde então uma razia social que a crise do sistema capitalista produziu cuja, crise permanece sem se vislumbrar uma saída.

Foi esta realidade que subverteu todo o próprio sistema capitalista, desde as suas relações de trabalho até às próprias concepções de organização parlamentar e política existente.

Houve realmente uma ruptura profunda que abala o sistema e surge uma outra que o começa a pôr em causa.

(Repare-se que mesmo, em dezenas e dezenas de anos, nos Estados Unidos da América, aparece entre os candidatos à próxima eleição presidencial do próprio sistema quem se reclama, abertamente, do socialismo).

O ataque furibundo dos promotores e fautores da velha ordem capitalista a esta nova realidade é indicativo de que o que emerge é subversivo e está a colocar em causa a argamassa que parecia impenetrável desse sistema.

Os tempos vão ser duros.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

PROLIFERAÇÃO DA DROGA ESTÁ LIGADA AO SISTEMA CAPITALISMO FINANCEIRO

1 – Em Julho de 2015, um dos maiores traficantes de droga mexicano de nome Chapo Gusman, detido numa prisão de alta segurança naquele país, fugiu, depois de lhe terem cavado um túnel por baixo da sua cela, com mais de 1,5 quilómetros de extensão.

Até hoje as autoridades militares e policiais do México não conseguiram sequer aproximar-se dele. Será por acaso?

A revista norte-americana Forbes, em 2009, divulgava que o traficante Gusman teria uma fortuna pessoal de mais de mil milhões de dólares. Quem lhe garante a guarda do dinheiro?

Como se pode fugir, impunemente, de uma prisão de alta segurança, ainda, por cima, um individuo preso por traficância de droga, extorsão, assassinatos em série e dirigir um negócio ilegal lucrativo?

Como emergem nas sociedades mexicana, colombiana, afegã,e noutras *bandos* armados de traficantes que jugulam os próprios aparelhos de Estado?

2 - *De Londres a Hong Kong, as belas fachadas dos grandes centros de negócios com frequência escondem a violência (e a corrupção) das suas origens*.

Assim iniciava, em 2010, o jornal francês Le Monde uma reportagem sobre o grande banco britânico HSBC (Hong Kong & Shangai Banking Corporation, cujas *raízes mergulham em guerras coloniais, envolvendo tráfico de drogas (as duas guerras do Ópio) e comerciais conduzidas pelo Império Britânico na Ásia*.

O repórter do jornal poderia acrescentar a sua extensão dos negócios até Washington a Moscovo, passando por Pequim, Vietname, Afeganistão, seguindo para a Europa, África e toda a Ásia.

A questão é que o negócio da droga está interligado, intimamente, e somente pode medrar, porque está associado ao lúmpen capitalismo financeiro internacional, e, em particular ao bloco ocidental Wall Street/City londrina.

Em 2009, no rescaldo da crise financeira norte-americana de 2007/2008, o então director do Departamento da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), o italiano Antonio Maria Costa era taxativo: Num mercado financeiro em crise e falho de liquidez o narcotráfico serviu para resgatar alguns banco do colapso ao actuar como fonte de capital líquido.

Em entrevista dada na época à revista austríaca «Profil», Costa sustentou que o dinheiro das drogas se tem introduzido no circuito da economia legal ao ponto de haver *indícios de que alguns bancos se salvaram desta forma* do colapso provocado pela crise financeira, primeiro norte-americana, que depois se tornou mundial.

O antigo dirigente da ONU não citou, especificamente, os grandes bancos em questão, mas vendo as empresas do sector que estavam em falência no início e logo após a crise e foram «salvas» pode-se inferir alguns nomes: Lehman Brother´s, Bank of América, que, já em 2010 necessitou de 100 a 200 mil milhões de dólares para se manter *à tona da água*, suíço UBS ou o alemão Commezbank.

 3 -  A difusão da droga, como instrumento de negócio do sistema capitalista, é uma tragédia para a humanidade.

Não é um elemento de produção que sirva o bem-estar dos trabalhadores, nem da evolução da sociedade.

É apenas um produto que serve a ganância do Capital.

Improdutivo como instrumento de consumo, degradante para a condição humana.

É um indício de que o capitalismo está atingir um estádio que já não consegue conter as necessidades das forças sociais que emergem na sociedade.

Recorre a todos os *expedientes*.

Poderá ser um indicativo de que o sistema está a entrar num beco sem saída, não criando empregos, nem produzindo condições para a elevação real do nível de vida.

Se houver capacidade de retirar o controlo financeiro das mãos dos lumpen capitalistas, em grande parte, o negócio da droga desaparecerá.


domingo, 25 de outubro de 2015

PRETENDE BONAPARTE CAVACO O SEU 22 DE OUTUBRO?

1 – Quis o Presidente da República de Portugal realizar um golpe de Estado no país a 22 de Outubro deste ano, quando emitiu a sua «colorida» comunicação com foguetes estrondosos das televisões do regime nesse dia?

Aponta-se nesse sentido pelas suas declarações.

A prática é que vai determinar se é capaz.

Ao acusar um eventual governo alternativo, apoiado por PS, PCP e BE, de «inconsistente», e, em caso de entrar em funções, produzir «muito mais graves as consequências financeiras, económicas e sociais» para o país, *Bonaparte* Cavaco Silva sustenta que «tudo – irá – fazer para impedir» o rumo que o Parlamento dará a um novo executivo.

Para obstar a este seu desejo de «impedimento», Cavaco teria de contar numa primeira fase pela divisão no seio dos deputados do PS, ou então do BE e PCP.

Ou, forjando uma forma de governação de sua iniciativa, pouco consentânea com a votada maioritária do Parlamento.

Ora, atendendo ao actual estado da correlação de forças políticas, uma tal vontade presidencial, somente poderá ter eficácia através de *manus militare*. 

O que pressupõe um golpe militar *legal*. Em caso extremo, sangrento.

Todavia, para o efectuar, terá de contar com a força de armas interna e a conivência externa, especialmente, do capital financeiro internacional, sustentado nos seus representantes políticos em Bruxelas e em Washington.

Ou, Cavaco Silva, qual Bonaparte de terceiro plano, já tenha garantido tal suporte, antes de proferir o discurso em apreço, ou então, tal como os seus comparsas capitalistas internos, está desesperado.

E, neste último caso, se não conseguir, só lhe resta desaparecer de cena e ir para o que se costuma dizer - *o caixote de lixo* da História.

2 – Ora, o discurso virulento do espectro de Napoleão na pessoa do alferes de alcatifa em Lourenço Marques (Maputo, hoje), seguidor dos ditames do Estado Novo, expresso em informação policial, aparece quando a NATO realiza, esta semana, exercícios ostensivos em terras portuguesa *em defesa da civilização ocidental*, assente nas *instituições financeiras*, *investidores* e a *mercados*.


E, surge, também, quando, já depois do acto eleitoral, a 9 deste mês, em cerimónia, com pompa e circunstância, precisamente efectuada no Regimento dos Comandos da Amadora, condecorou com a medalha da Ordem Militar da Torre e Estado o coronel Raul Folques por feitos em combate na guerra colonial ao serviço do antigo regime...e isto 45 anos depois do derrube daquele.

No site da Presidência da República, Cavaco Silva fez questão de referir que, na cerimónia, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, os Chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea, bem como outras altas entidades civis e militares.

3 – O traje de Bonaparte, o embusteiro francês do século XIX, que Cavaco Silva se quer travestir em finais do seu mandato presidencial em pleno século XIX, não é exclusivo de Portugal, nem produto do cesarismo do homem que não tinha grande apreço pela Comunidade Económica Europeia, antes de ascender ao cargo de primeiro-ministro em 1985.


A questão é que sob as vestes da tradição, do blá blá das regras democráticas estabelecidas, e de outras balelas pseudo formuladas, nestes últimos tempos, está uma mudança de política em praticamente toda a Europa.

E, esta mudança ainda é uma enigma para o grande capital financeiro. O espectro de uma hecatombe paira sobre a sua cabeça.

Na realidade, sob o fantasma de um reforço político do capital financeiro, instalado em Bruxelas, com ramificações em centros de poder como Londres e, em certos países da Europa de Leste, pressente-se que, no emaranhado das movimentações políticas e sociais, começa a surgir uma evolução num sentido de corte com o estado de coisas existente.

Esta evolução é, todavia, titubeante, cheia de hesitações, envolta em nublosas de descrença de que não sabe o real caminho programático de que tem sido traído por outras tentativas de assalto ao poder.

ESTA É A PECHA MAIOR, NA MINHA OPINIÃO, PARA UMA AVANÇO MAIS DETERMINADO, DE AFASTAMENTO DO ACTUAL REGIME QUE GOVERNA A UNIÃO EUROPEIA.

Mas, nesta fase de acumulação de forças, de procura de rumos para atingir os fins, o capital financeiro também tem a percepção que o seu tempo de poder já não era como eles pensavam.

Por isso, eles procuram levar para o seu redil, através de *programas mínimos realistas* as forças políticas, que  intitulam *radicais*, levando-os a ceder nos seus pontos de vista de ruptura com o poder político existente.

Estamos, nestes meses, na busca, para os capitalistas europeus de uma tentativa de rearranjo dos seus objectivos dominantes, através de uma renovação da via *social-democrata* de governação.

Em caso de falhanço, lançam para o terreno os buldogues aventureiros, vestidos de *salvadores de Pátrias*, encimados pelas bainhas das espadas e as vestes padrecas de vários matizes.

Eles estão aí vigilantes.