sábado, 12 de março de 2011

LÍBIA: UMA CARTA FORA DO BARALHO DA ESTRATÉGIA NEO-COLONIAL EUA/UE















Os meios de comunicação social ocidentais dão notícias atrás de notícias da Líbia (esquerda), mas esquecem-se de mostrar como actuam os tanques ocidentais ao serviço do regime da Arábia Saudita para reprimir manifestações (direita)





1 - Os males, que presentemente, o chamado mundo ocidental está a causar no Magrebe e no Médio-Oriente diferencia-se, em parte, do que aconteceu anteriormente com a colonização forçada de toda aquela região pouco depois, e nas dezenas de anos subsequntes, à Conferência de Berlim em 1815, onde os povos locais foram invadidos e trucidados, principalmente, pelas patas despóticos dos apetites coloniais europeus.

2- Todas as repartições arbitrárias de territórios, as rapinas desenfreadas das matérias-primas, as guerras civis fomentadas, tiveram
um traço distintivo das dominações coloniais inglesas e francesas, principalmente, e em menor escala na Líbia, com a colonização italiana.

3 - Todavia, todas estas acções pretendiam, melhor dizendo, fazia-se propagandear na altura, que se actuava para conseguir uma transformação societária, tirando os povos árabes e muçulmanos da barbárie. Claro que essa piedosa pretensão trouxe, em parte uma desarticulação dos regimes medievais que existiam, então, desde Marrocos até ao Irão.


Mas, essa intervenção não trouxe, na realidade, um desejo de criar algo de novo, de fomentar o desenvolvimento social e económico de novos países que se foram formando, nem a melhoria real das classes exploradas.

4 - Embora as intervenções consideradas subversivas para os regimes despóticos de barbárie dos clãs e tribos tivessem produzido um safanão e, em muitos territórios, vieram a mudar, realmente, os regimes de monárquicos para republicanos, o que em si se pode considerar que houve neles revoluções, o certo é que o papel interventor das antigas potências coloniais se transferiu para o controlo total - ou em parceria - com os novos regimes nascentes, que não evoluiram, regrediram, sempre servindo os apetites coloniais das velas potências europeias, e, de maneira particular após a II Grande Guerra tornando-se aliados, mais ou menos permanentes das verdadeiras potências ganhadoras dessa guerra, a antiga União Soviética e os EUA.

Toda a agitação nacionalista dos anos 50 que percorreu o chamado mundo árabe tinha no bojo um desejo profundo de mudança que os povos da região queriam empreender para afastar o jugo do peso colonialista anterior. Quer os EUA, quer a ex-URSS, impulsionaram essa mudança, é certo, mas faziam-no tendo em mente a conquista de interesses próprios, mesquinhos, para os seus objectivos estratégicos.

Em parte conseguiram-no. Em particular, os EUA, depois do colapso da URSS, que manietaram, praticamente, os principais países produtores de petróleo, encimando-os de regimes o mais retrógrados possíveis, como o caso do Irão, da Arábia Saudita, do Egipto pós Nasser, da Jordânia, do Iraque, da Tunísia, da Argélia e de Marrocos, entre outros.

Mas, apesar de terem introduzido o capitalismo nas relações sociais de produção, não criaram, nem ajudaram a criar um novo tipo de vida que trouxesse uma verdadeira melhoria para aqueles povos oprimidos.

5 - Pelo contrário, fomentaram guerras de uma crueldade terrível, como foi o caso do conflito sangrento que causou mais de um milhão de mortos, nos anos 80, entre o Iraque e o Irão, e ainda nos anos 80 e 90, provocando um cerco crescente - e armado - à Líbia, que procurava diversificar o seu comércio de petróleo, vendendo a várias potências, evitando o controlo asfixiante dos magnates petrolíferos norte-americanos.

6 - Defenderam, ao mesmo tempo, os regime tirânicos em toda a região desde a medieval Arábia Saudita à chamada liberal egipcia, sob o domínio brutal do clã Mubarak. Fizeram tudo por criar forte Exércitos nesses países sob a sua batuta, controlados por assessores do Exército ou da CIA, como esteios de retaguarda para eventuais descalabros dos regimes que mantiveram até à última.

7 - No entanto face ao incremento de um nacionalismo pan-árabe, agrupado sob a bandeira de um certo fanatismo religioso, que começava a impor-se em camadas crescentes de jovens, e não só, que surgia, todavia, como forma de política externa de anti-americanismo e anti-imperialismo, os estrategas de Washington - em especial os lobbies do capital financeiro especulativo onde predominam os judeus - com a cumplicidade dos dirigentes da União Europeia, foram apoiando certos sectores, organizados em partidos e em organizações não governamentais, sem programas definidos, mas alicerçados num movimento de "afastamento" dos "velhos déspostas" para fazer com que algo mudasse para que tudo pudesse continuar na mesma.

E tudo começou na Tunísia. Como por encanto, os movimentos quase espontâneos surgiram à luz do dia, porque era preciso destapar a panela de pressão, e de uma penada, deitar pela borda fora o antigo aliado Ben Ali, mas fazendo aparecer o Exército, como intermediário, que fora forjado por Washington, para que ele viesse a controlar o poder, já que a rebelião da juventude somente tinha um programa concreto: afastar o tirano. O regime esse ficou.

8 - O mesmo sucedeu no Egipto. Corre-se com Mubarak, mas entrega-se, em golpe de Estado, o poder aos seus corifeus, todos eles obdientes a Washington.

9 - A fase seguinte era a Líbia. Também aqui havia descontamento entre a juventude, também, aqui havia um velho désposta. Foi delineada uma estratégia que teria o começo na região mais longínquia da capital, a cidade de Bengazi, (dois mil quilómetros) pouco favorável a Kadafi, e situada muito perto do Egipto, de onde seriam enviadas "missões humanitárias" egipcias formadas pelao novo regime imposto pelos militares pró-americanos, que certamente transportaram armas para os rebeldes.

O regime líbio pareceu tremer. Mas aqui os jovens não puderam contar com o Exército, cuja formação provinha das estruturas montadas pela antiga União Soviética, que, apesar dos esforços de americanos, franceses, ingleses, russos e até chineses, não se colocaram em massa contra o actual lider Kadafi. Este tem conseguido resistir.

10 - A táctica ocidental engendra agora um pretexto, procurando a ajuda de uma entidade sem legitimidade nenhuma, a Liga Árabe, que tem à frente, precisamente, um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de MubaraK, Amr Mussa, e é manipualda essencialmente pelas monarquias do golfo.

Procuram-se pretextos para uma invasão. Que até será fácil.

Mas como se mantem no terreno um exército invasor colonial, que os líbios certamente irão menosprezar e combater? Além do mais quem dará o grosso das tropas para realizar uma operação de tão grande nevregadura?


Os Estados Unidos tem, por um lado, o grosso dos seus Exércitos atolados no Iraque e no Afeganistão, com perdas imensas, e por outro lado, não podem abrandar a defesa das frágeis monarquias do golfo, que estão assoladas por problemas internos e na mira de Teerão.

Um dilema.

Até porque agora que alguns dos principais grupos de oposição da Líbia, entre eles, a Frente Nacional pela Salvação da Líbia (NFSL na sigla em inglês), criada em 1981, é um braço da CIA, que a organizou e financia; o outro grupo de destaque é a União Constitucional Líbia (LCU), aliada à NFSL, também financiada pela CIA e dirigida por Muhamad as-Senussi, que pretende restaurar a monarquia e assumir o trono.

11 - Finalmente, porque não se fala na imprensa ocidental nas repressões terriveis que estão a acontecer na Arábia Saudita às manifestações contra a decrépita e corrupta monarquia, que só se mantem no poder, porque é sustentada pelos Estados Unidos?
Os levantamentos no mundo árabe, se a Líbia resistir, podem levar a novos enfrentamentos em todo o Magrebe e o Médio-Oriente. Esperemos para ver.

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