Quarenta anos após o término do ciclo imperial português extra-europeu, em especial a sua fase final e de agonia com a guerra colonial de 1961 a 1963, - comemora-se, portanto, este ano -, pouco se conhece ainda as acções e actividades, tidas como legais, mas praticamente se desconhece o seu aspecto "clandestino", por vezes, com cunho de heroicidade, e, inclusive com estórias na História de verdadeiras artes da guerra daqueles que são pequenos e se engrandecem, mas também com comportamentos desumanos e sórdidos, fomentadas por verdadeiros monstros, que estiveram à frente do exercício do poder político e militar.
Alguns deles, infiltraram-se no interior do movimento militar que derrubou o Estado Novo e garimparam, batendo com palmadas sonoras no peito, a sua adesão "desde pequeninos" aos ideais de democracia e liberdade.
Com cumplicidades ou não alçaram-se em demiurgos e paladinos dos ideais de Abril e viveram como nababos, tendo ascendido, na sua carreira política e militar, no regime de Salazar e Caetano, à custa das suas reais malfeitorias.
Nessa guerra, tem, no entanto de se diferenciar, ainda que de maneira grosseira, dois aspectos:
A sua imagem superficial que vai perdurar entre os portugueses ficará associada aos homens de camuflado, movimentando-se na selva, nas savanas, nas bolanhas, nas lalas, às reportagens e às imagens de mortos e feridos no terreno, que foram mostradas na imprensa e na televisão ao longo dos anos.
A evolução de helicópteros e aviões em voos amplos ou rasantes entre árvores da grande floresta tropical e as movimentações de navios e barcos da Marinha nos rios caudalosos e lamacentos africanos continuarão a ficar na retina e na consciência dos portugueses ao longo das décadas. No fundo, a visão de uma guerra aberta e de uniforme, no caso, o camuflado.
Cerca de um milhão de portugueses passaram pelas Forças Armadas portuguesas nos “anos de brasa” da guerra colonial. Destes, perto de 800 mil estiveram integrados em unidades e destacamentos nos três Teatros Operacionais (TO) da Guiné, Angola e Moçambique.
Nas recordações de guerra que esses homens transmitiram ao longo dos últimos 40 anos, e transmitem ainda hoje, a sua memória entranha-se no combate em selva cerrada ou savana aberta, visível, estendendo-se à vivência no quartel de arame farpado, às caminhadas derreantes feitas pelo mato. Perdura, ainda hoje, para muitos milhares, nos medos, nas insónias, nos gritos de dor, no choro convulso pela morte do camarada e amigo. Esta é a recordação do português comum.
Mas os promotores da guerra colonial fomentaram outras guerras, planearam outros combates, mais ou menos silenciosos, enquadrados e fechados, propositadamente engendrados em manigâncias clandestinas, assentes em poucos homens, envoltos em práticas consideradas, em certas ocasiões, imorais e repugnantes, como já referimos, que a chancela da hierarquia e da má consciência do regime deposto em 25 de Abril impunha e impôs sob a ameaça da repressão do tribunal marcial ou da pura prisão.
Esse “outro lado” da guerra, o seu lado, por vezes muito humano, mas a maior parte das vezes obscuro, este está truncado e esbatido, ainda hoje, pela falta de informação transparente, precisa.
Parece, segundo as opiniões de alguns, que se pretende fazer crer que nunca existiu. Apesar das evidências.
Guardam-se ainda hoje, fechados, em relatórios, dossiês, informações como se o mundo colonial português ainda permanecesse em plena actualidade.
Mas não, esse lado da actividade política portuguesa, nos nossos dias, pertence ao passado.
O mundo imperial lusitano desfez-se devido aos ventos da História.
Nasceram novos países. A guerra colonial faz parte do seu passado histórico, como pertence igualmente ao Portugal, agora europeu.
As vivências, as experiências, os dados documentais desse tempo são ou devem ser, portanto, hoje, património comum, sejam quais forem as interpretações, os pontos de vistas e mesmo os preconceitos.
De uma perspectiva histórica, representam uma época que tem de ser enquadrada do ponto de vista da evolução da sociedade humana. É precisamente dessa perspectiva que se tem de divulgar o que aconteceu.
Parece, segundo as opiniões de alguns, que se pretende fazer crer que nunca existiu. Apesar das evidências.
Guardam-se ainda hoje, fechados, em relatórios, dossiês, informações como se o mundo colonial português ainda permanecesse em plena actualidade.
Mas não, esse lado da actividade política portuguesa, nos nossos dias, pertence ao passado.
O mundo imperial lusitano desfez-se devido aos ventos da História.
Nasceram novos países. A guerra colonial faz parte do seu passado histórico, como pertence igualmente ao Portugal, agora europeu.
As vivências, as experiências, os dados documentais desse tempo são ou devem ser, portanto, hoje, património comum, sejam quais forem as interpretações, os pontos de vistas e mesmo os preconceitos.
De uma perspectiva histórica, representam uma época que tem de ser enquadrada do ponto de vista da evolução da sociedade humana. É precisamente dessa perspectiva que se tem de divulgar o que aconteceu.
Foi um período histórico, que pode ter ainda resquícios nos dias de hoje, e que devemos denunciar, mas esse tipo de poder e dominação já não corresponde às condições mais avançadas que actualmente se defende e preconiza.
O importante é procurarmos saber o que representou, o que foi importante para a evolução societária e impedir que haja retrocesso na construção harmoniosa da comunidade inter-povos. Por isso, é necessário saber cada vez mais do que sucedeu e como sucedeu.
A lei do segredo, no entanto, continua a vigorar na cabeça – e nos cofres – de muitas pessoas. Os seus relatórios fecham-se, ainda hoje, em oportunos arquivos secretos. Ou então, embora já desclassificados, não são de fácil acesso ou procura. Cria-se, ainda hoje, trinta anos após o fim da guerra, a ideia de que esses assuntos não estão ainda *maduros* para vir à luz do dia.
Todavia, esse “outro lado” da guerra colonial existiu. Teve relevo, teve princípio, meio e fim, abalou, por vezes, estruturas e mexeu mesmo com a vida de vários povos.
A guerra “secreta” passou da fronteira do Império colonial em África ou Ásia e “enfiou-se” pelo emaranhado da intriga e da acção “musculada”, mesmo terrorista, algures noutras terras do Continente africano na altura já auto-determinado das potências europeias.
O pequeno Portugal da Europa actuou, clandestina e furtivamente, um pouco pela restante África para evitar a desagregação da Nação do Minho a Timor.
Por vezes apenas com a diplomacia, com o jogo de bastidores, mas noutras com a dureza da acção feroz e massacradora em nome de outrem.
Cinicamente desmentida depois, apesar da evidência. Para os próceres do regime do Estado Novo, a Nação Portuguesa nunca faria destruições noutros Estados, nunca interviria, terroristicamente, noutras paragens. Claro que nem nos seus territórios faria tais barbaridades.
Fê-lo realmente e esses actos estão referenciados em documentos elaborados pelos próprios executores.
As investigações, ainda que incompletas e parcelares, assim, o demonstram, os documentos cimentam a realidade dessas actividades “encobertas”.
As investigações, ainda que incompletas e parcelares, assim, o demonstram, os documentos cimentam a realidade dessas actividades “encobertas”.
Há um pudor estranho em falar delas. Há, sibilinamente, uma hipocrisia em manter as informações escondidas.
Hoje, reafirma-se, pertencem à História.
Mas, no interior de uma parte do novo regime democrático ainda não está madura a mentalidade.
Continua a olhar-se com uma visão de antanho. O tempo, contudo, já se encarregou de as esvaziar de uma eventual carga social tida como desagradável, ou do que era pudibundo, ou, mesmo, de um rótulo secreto que hoje já é inútil, mas persiste nas altas esferas.
Hoje, reafirma-se, pertencem à História.
Mas, no interior de uma parte do novo regime democrático ainda não está madura a mentalidade.
Continua a olhar-se com uma visão de antanho. O tempo, contudo, já se encarregou de as esvaziar de uma eventual carga social tida como desagradável, ou do que era pudibundo, ou, mesmo, de um rótulo secreto que hoje já é inútil, mas persiste nas altas esferas.
É tempo de as trazer à luz do dia, com o interesse que merecem, de as interpretar, de as comentar, de as criticar, ou até de as perceber.
As Forças Armadas portuguesas e a polícia política do regime derrubado em 25 de Abril de 1974 actuaram, em sintonia, para efectuar dezenas de “operações encobertas” que visavam evitar a evolução dos movimentos independentistas nas antigas colónias portuguesas.
Certos oficiais das Forças Armadas portuguesas do antigo regime, principalmente, dos escalões mais elevados na sua hierarquia ou colocados em postos de alto comando, participaram no seu planeamento em estreita colaboração com os hierarcas da PIDE/DGS.
Contudo, alguns dos homens que participaram nessas operações eram membros menores das Forças Armadas, que se encontravam nas antigas colónias a prestar o serviço militar obrigatório, e nelas foram incluídos por uma certa cumplicidade ou passividade ou então por ordens taxativas vindas de cima, que implicavam obediência.
E estes, ou nelas participavam, ou seriam presos e considerados traidores à Pátria.
Esses “agentes especiais” ocasionais, os ainda vivos, são hoje pacatos cidadãos que seguem uma vida normal, que nada os distingue dos restantes que por eles passam.
No entanto, na sua juventude, por vontade própria ou força das circunstâncias, esses homens estiveram no centro de “furacões” militares, na pele de “operacionais de acções secretas” de grande fibra e coragem pessoal, ou simplesmente em discretos “agentes” de serviço ocasional.
A operação “encoberta” mais espectacular ocorreu na Guiné-Conacri em Novembro de 1970, chamada operação “Mar Verde” e a mais profunda e continuada deu-se no Malaui entre 1968 e 1974, podendo ser comparada às que vemos nos dias de hoje nos ecrãs representando o mítico “agente secreto” de um filme norte-americano.
O que se descreve a seguir foi recolhido nos Arquivos da PIDE/DGS, dos Arquivos de AOS e MC, que se encontram na Torre do Tombo, em Arquivos militares, em notícias de imprensa e baseados em relatos de alguns dos protagonistas.
Naturalmente, muito do que vai ser escrito e citado é retirado de dados ou informações parcelares ou incompletas, até porque os dossiês policiais ou militares ou desapareceram, ou foram, parcial ou totalmente, destruídos ou, simplesmente, ainda continuam sobre a chancela de “secretos”.
Alguns dados são inéditos, outros já tinham sido revelados parcialmente noutras ocasiões ou já eram conhecidos anteriormente.
Iremos referenciá-las em diferentes textos, com os números até 13, com o mesmo título este é o primeiro, pois trata-se da introdução.
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