domingo, 6 de junho de 2010

BEM PREGA FREI TOMÁS


Jardim: um obediente católico que o OPUS DEI de Portocarrero, considera ser, justamente, um piedoso e desinterrado servidor da Obra de Deus.




E, por cause, Melícias, igualmente recebe uma pensão "acima da média" por desinteresse material










Meses atrás, um antigo camarada de profissão, enviou-me um texto, que teria sido escrito por um senhor que se chamava Gonçalo Portocarrero de Almada, que eu, na altura, não sabia quem era, e que discorria sobre a existência de pedofília/pederastia entre os hierarcas da Igreja Católica, texto este que teria sido censurado pelo jornal Expresso. Solicitava uma tomada de posição minha.
Respondi-lhe que, no geral, sou contra a censura, pela liberdade de informação. Sobre o caso concreto somente tomaria uma posição depois de saber o que, realmente, sucedeu.
Vem isto a propósito de quê? Vi, dias depois, e ainda bem - venceu a liberdade de informação - o citado texto publicado num outro jornal, por acaso diário, não me lembro agora qual deles.
Fui pesquisar sobre quem era este Gonçalo Portocarrero de Almada - o nome pela sonoridade, cheirou-me a nobreza - e verifiquei que era um homem importante - e cito - "na prelatura do OPUS DEI", em termos terra a terra para os mais desconhecedores dos termos obscuros, um bispado multinacional especial da Igreja Católica Apostólica Romana, que enxameia as suas teias pela banca, pelo ensino, essencialmente universitário, pelas altas instâncias políticas, sociais e económicas, e ate pelo jornalismo.
Da pesquisa, chamou-me a atenção os seus dados académicos: Licenciado em Direito e doutorado em Filosofia.
Pela Net, são numerosos os textos do douto membro do OPUS DEI, especialmente, em blogues.
Constatei, igualmente, que fizera uma homília em Fátima, em 2008, indicado para tal pelo OPUS, onde incensava "São Josemaria Escrivá", e informava que o falecido bispo católico romano de Leiria-Fátima Alberto Cosme do Amaral "foi o primeiro sacerdote do OPUS DEI" em Portugal. (Na altura ainda não havia prelatura e os seus acólitos eram, mais ou menos, clandestinos).
Foi também, pela NET, que vim a saber que, a 1 de Fevereiro deste ano, este sacerdote católico romano foi autor da homília religiosa realizada numa missa católica por ocasião do aniversário das mortes do então rei de Portugal Carlos e do seu filho Luís Filipe. Cito apenas o título: "Família Real em defesa dos nossos valores - exemplo para todos os portugueses e para os monárquicos em particular". Entre os presentes Duarte Pio de Bragança, a mulher e os filhos.
Pois, pela difusão diversificada das suas posições e pela sua presença, quer física, quer pela ideologia, Portocarrero de Almada está a ser um dos veiculos materiais propagandísticos de uma das facções da nova extrema-direita portuguesa.
Para o efeito, um seu texto está inserto no Blogue Oliveira Martins, que se intitula
"blogue nacionalista, anti-democrático parlamentar, e de revolta contra a situação a que conduziram Portugal... Pelo Golpe de Estado!".
Alías um slogan muito semelhante ao do Integralismo, que serviu de suporte ideológico aos institucionalizadores do Estado Novo, nomeadamente Marcelo Caetano.
Cito o texto para que conste:

“Caim Bolchevique” – Gonçalo Portocarrero de Almada
Muito se tem escrito e dito sobre o mais recente opúsculo do Nobel português mas, na realidade, não se percebe a razão, porque nesta sua última ficção literária, o escritor iberista não apresenta nada de novo. Pelo contrário, é mais do mesmo. Com efeito, não é de estranhar que o autor do falso «Evangelho segundo Jesus Cristo» manifeste, mais uma vez, o seu desdém pela Bíblia, palavra de um Deus em que não crê, e que, por isso, de novo arremeta contra as religiões em geral e a católica em particular, sua inimiga de longa data e muita estimação. É verdade que alguns cristãos ficaram incomodados pela recorrente deturpação dos textos sagrados e pela falta de respeito pela liberdade religiosa que uma tal atitude evidencia. Mas reconheça-se, em abono da verdade, que o criador desta mistificação, com laivos auto-biográficos, não podia ter sido mais sincero nem coerente com a teoria política que tão devotamente segue. Com efeito, que outra personagem, que não Caim, poderia personificar melhor a ideologia em que se revê o galardoado autor?! Não é o irmão de Abel a melhor expressão bíblica do que foi, e é, o comunismo para a humanidade? O ilustre premiado com o ignóbil prémio Nobel acredita que Caim nunca existiu, o que é, convenhamos, um acto de muita fé para quem se confessa ateu, até porque não tem qualquer evidência científica dessa suposta inexistência em que tão dogmaticamente crê. Mas decerto não ignora a realidade histórica de muitos outros Cains – Lenine, Estaline, Mao, Pol Pot e outros diabretes de menor monta – todos eles sobejamente conhecidos pelas atrocidades a que associaram os seus nomes e a sua comum ideologia. À conta do Caim bíblico, agora reabilitado, por obra e graça deste seu oficioso defensor, pretende redimir os não poucos Cains que lhe são doutrinal e eticamente afins, mas a verdade é que o pretenso carácter mítico daquele não faz lendários os crimes destes seus comparsas mais modernos, até porque esta sanha fratricida ainda hoje impera, impunemente, na China, no Tibete, no Vietname, na Coreia do Norte, em Cuba, etc. Mas não é só Caim que é um mito para o ortodoxo militante comunista, pois Deus também não existe (em todo o caso seria sempre um segundo Deus, porque o primeiro é, como é óbvio, o próprio escritor), e a Igreja Católica mais não é do que uma aberração. Mas, se assim é de facto, porque se incomoda tanto com a inexistente divindade e a pretensamente caduca instituição eclesial?! Será que, apesar de não acreditar em bruxas, no entanto nelas crê e teme?! Ou, melhor ainda, será que se está finalmente a converter, senão num cristão convicto, pelo menos num ateu não praticante?! Deus, que crê também nos que n’Ele não crêem, o queira… Sem a Bíblia seriamos diferentes? Sem dúvida. Melhores? Duvido, porque todas as grandes tiranias do século XX – o fascismo, o nazismo e o comunismo – foram e são visceralmente ateias e, pelo contrário, todas as grandes gestas de justiça social são cristãs, como católica é também a maior rede mundial de assistência aos mais necessitados. Mas uma coisa é certa: sem o marxismo seriamos hoje muitos mais, concretamente mais cem milhões de mulheres e homens, tantos quantas foram as vítimas do comunismo em todo o mundo (cf. Stéphane Courtois, Le livre noir du communisme, Robert Laffont, 1998, pág. 14). Gonçalo Portocarrero de Almada".
No escrito sobre a pedofília, Portocarrero de Almada, tem uma tirada genial na defesa da Igreja Católica "desinteressada". Transcrevo: "Não ignoro, contudo, que a esmagadora maioria destes casos ocorre no seio das famílias, sobretudo das mais disfuncionais, e das instituições do Estado, como o triste caso Casa Pia demonstrou, e não nas instituições da Igreja que, embora também vulneráveis, são, por regra, exemplares no seu desinteressado e muitas vezes heróico serviço aos mais necessitados".
Não vale a pena recordar, nem discorrer sobre o número e a extensão das preversões sexuais no interior das instituições da Igreja Católica, a começar pelo Papado e a acabar nos seminários e coros das igrejas dessa confissão religiosa.
A minha atenção, neste caso, vira-se para o "desinteresse material" dos hierarcas dessa Igreja Católica, em especial do Vaticano: é o maior centro financeiro e de agiotagem mundial. Os dados e as denúncias não são minhas, mas da imprensa mundial.
O que é meu, e, por isso reproduzo as suas figuras, são nomes de dois destacados membros de duas das principais facções da Igreja Católica em Portugal: Precisamente, o supranumerário e banqueiro da OPUS DEI, hoje castigado judicialmente Jardim Gonçalves por manipulação do mercado, falsificação de contas e burla e o franciscano Vitor Melicias que recebe uma pensão mensal da ordem dos 7.500 euros, entre outros proventos.
Jardim Gonçalves utilizou dinheiros dos depositantes em seu proveito próprio, e o franciscano Melicias dedicou-se a "empochar", saltitando, naturalmente etereamente, de instituição para instituição estatal ou para-estatal. Foi ex-alto comissário para Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento anual de pensões de 104 301 euros. Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450 euros. O valor desta aposentação resulta, segundo Vítor Melícias (a citação é do CM), da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos.

Com 71 anos, Vítor Melícias declarou, em 2007, ao Tribunal Constitucional um rendimento total de 111 491 euros, dos quais 104 301 euros de pensões e 7190 euros de trabalho dependente. 'Eu tenho uma pensão aceitável mas não sou rico', diz o sacerdote, com um sorriso de pobreza!.

Melícias frisa que exerceu funções com 'remuneração acima da média, que corresponde a uma responsabilidade acima de director-geral', no Montepio Geral, na Misericórdia de Lisboa, no Serviço Nacional de Bombeiros e noutros organismos.
Já agora, a terminar, deixei para o fim a razão primeira deste meu longo escrito.
No passado sábado, o prelado Portocarrero, escreveu um artigo no Público (p. 36) sob o título de "A ética da irresponsabilidade". Zurzia e bem - em termos ideológicos-religiosos - em Cavaco Silva, mas esqueceu-se de apagar, no final do artigo, um dos seus cargos "Vice-Presidente da Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF).
Como pode um fanático do celibato, que renega o casamento na sua instituição, que despreza a criação de filhos, afirmar-se adepto das "associações de família". Será ética da irresponsabilidade ou cinismo mais descarado? Ou as duas coisas? Ou até três?


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