terça-feira, 15 de junho de 2010

OS EUA DESCOBRIRAM, POR ACASO, RIQUEZAS MINERAIS NO AFEGANISTÂO!!






A imposição pela violência de uma nova vida societária não é um mero acto de um poder militar acrescido, sem existirem, em primeiro lugar, condições económicas, sociais, e em último caso, vontade dos povos para a aceitarem











O jornal "New York Times" noticiou, há dias, com grandes parangonas, que uma equipa de geólogos e *assessores* do Departamento de Defesa (Ministério de Defesa nos termos europeus) dos Estados Unidos da América descobriu a existência de riquezas minerais nos Afeganistão, que dizem ser avaliadas em cerca de um bilião de dólares (os americanos escrevem trilion).

O jornal informa que esta sua notícia se baseou num "memorando interno" do Pentágono (Departamento de Defesa), e especifica que "as reservas minerais não exploradas" são de ferro, cobre, ouro, cobalto e um dos minerais, actualmente, muito cobiçado nas indútrias de alta tecnologia de comunicações, o lítio.

O NYT, naturalmente, seguindo as orientações do "memorando", assinala que estas riquezas, quando exploradas (reparem na explicação!!!), "poderiam mudar a situação económica" do Afeganistão e "alterar a situação da guerra travada no país desde 2001". E acrsecenta: o desenvolvimento industrial das riquezas "pode durar anos".

O períódico para dar maior consistência "à descoberta" (que claro, a ser verdade, foi feita nos últimos meses, e, por acaso, quando uma mina terrestre rebentou e pôs a nú a evidência....) socorre-se no "especialista em minérios", chamado general David Petraeus, que dirige o Comando Central Militar dos Estados Unidos da América", para sustentar que existe "um potencial (económico) impressionante aqui".

E a reportagem do NYT, retirada do "memorando" militar, argumenta que foi somente, em 2006, que os Serviços Geológicos dos EUA, começaram a fazer o levantamento dos recursos minerais afegãos, mas que ... se socorreram de informações elaboradas (estranho, não é?) por especialistas soviéticos, "durante a ocupação do país pela União Soviética em 1980".

Convém referir, antes de qualquer especulação, que o NYT é um dos porta-vozes oficiais do lobby que controla a especulação financeira norte-americana de Wall Street.

Em termos imediatos, a notícia pode ter duas leituras:

- Os norte-americanos estão com as calças na mão no terreno da guerra afegão e lançam a ideia de uma riqueza imensa, que necessita de investimentos substanciais e de alta tecnologia, para levarem os "inimigos" (talibãs e outros) a ponderarem sobre a necessidade de um "compromisso" para a exploração conjunta do filão;

- Ou os EUA fazem o anúncio, agora, pois os seus aliados ocidentais estão a preparar-se a "abandonar o barco como ratos", deixando-os à sua sorte, e a alertá-los para a necessidade de cerrar fileiras em torno da "defesa militar" a longo prazo para conseguir a exploração de matérias-primas essenciais para as suas produções das indústrias de ponta e não só.

- Em termos mais mediatos, pode estar em jogo uma hipótese mais abrangente: Porque não considerar uma "parceria estratégica" com a Rússia, a China, quiça, o próprio Irão, que , na prática, já faz parte do consórcio de potências regionais, para conseguir "uma espécie de cessar-fogo", dividindo os resultados da exploração, num ambiente de "não beligerância". Talvez até sacrificando um pouco Israel...

O que estou a magicar não saiu da minha cabeça, mas é produto de experiências anteriores.

Na primeira metade dos anos 90, o então Presidente dos EUA Bill Clinton fez um périplo de vários dias pela África Central, que começou no Uganda, se não me engano, passou pelo Ruanda, andou pelo Burundi, e, se a memória ainda não me falha, depois de passar por outros territórios, acabou na Nigéria.

Pouco depois das conversas mantidas com o homem-forte do poder norte-americano, forças armadas do Ruanda e do Uganda, tornadas irregulares e consideradas rebeldes, invadem o territótio de Kivu, na República Democrática do Congo, o Zaire de Mobutu, e destabilizam o regime de Laurent Kabilla, um antigo membro do Partido de Patrice Lumumba, que afastara do poder o homem dos Estados Unidos o já falecido general Joseph Mobutu. Kabilla, apesar das suas hesitações e contradições, queria impor uma política nacionalsita para o antigo Congo Belga.

Ora, o Kivu ( e todas as imediações) era uma zona muito rica em coltan, donde se extrai o tântalo, e também de lítio.
A concentração como monopólio destas matérias-primas, que servem para condensadores, aparelhos de alta tecnologia e até para os carros eléctricos, no Estado congolês, ainda por cima, com prosápias nacionalistas, ia contra "a liberdade comércio" dos capitalistas ocidentais, em particular norte-americanos.
Ora, quebrando o monopólio, dando rédeas, através de contratos atractivos, aos possíveis aliados nos poderes no Uganda e no Ruanda, as matérias-primas iam, assim buscá-los a "senhores da guerra" (que, eles, oficialmente, não controlavam) a preços competitivos.
Yoweri Museveri (pelo menos há 15 anos no poder), do Uganda, e Paul Kagamé, com idêntica folha de serviço no Ruanda, tornaram-se "filhos queridos" dos responsáveis norte-americanos. E, apesar de serem criminosos de guerra, são elogiados pelos senhores de Washington, como figuras desejosas de contribuir para o progresso da região.

Concretamente, no Ruanda, sendo que Kagamé é um "senhor da guerra" mais fiel a Washington (sumamente elogiado por Bill Clinton), um grupo de "generosos empresários e políticos influentes dos Estados Unidos e da Europa" está a "apoiar o país, atraindo negócios e ajudando o processo de reconstrução". As citaçõe são retiradas da informação jornalística, incluindo a norte-americana.

A “equipa dos amigos poderosos do Ruanda” inclui figuras como Eric Schmidt, presidente mundial da Google; Howard Schultz, director executivo e fundador da rede de lojas de café Starbucks, e Tony Blair, ex-primeiro-ministro de Inglaterra.
Um dos objectivos deste grupo é fazer com que a economia da nação – baseada na agricultura de subsistência e no cultivo de café e de chá – se transforme num centro de referência para os serviços de tecnologia no continente africano.

“Nós já passámos pelo inferno, agora chegou a hora de prosperar”, afirmou o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, numa entrevista recente à revista Fast Company.

A rede internacional de ajuda começou a ser formada há vários anos. Numa visita a Chicago, nos Estados Unidos, Paul Kagame conheceu Dan Cooper, sócio do banco Fox River Financial Resources, que o apresentou a Jim Sinegal, director executivo da cadeia de distribuição Costco. Este, por sua vez, pôs Paul Kagame em contacto com Howard Schultz, da Starbucks.
O líder africano convenceu "vários amigos" a investir no Ruanda e a mudar a imagem internacional do país, associada à miséria e à violência. Em 2007, quando o auxílio começou a chegar, os investimentos estrangeiros no Ruanda passaram de 16 milhões de dólares para 67 milhões.

A Starbucks é hoje uma das maiores compradoras de café do Ruanda.
Mas há outros exemplos. A ONG de Schmidt, da Google, iniciou a construção de um hospital que custará 1,2 milhões de dólares. Rob Glaser, fundador e presidente da RealNetworks, investiu 6 milhões de dólares em centros de saúde e educação no Ruanda com o objectivo de criar cursos técnicos especializados em tecnologia de informação. Nessa área, também se incluem a bolsa de estudos criada por Dale Daeson, um banqueiro do Arkansas, para levar os alunos ruandeses para escolas nos Estados Unidos. Há ainda um programa de intercâmbio estabelecido por Tony Blair para que funcionários do Whitehall (escritório do primeiro-ministro inglês) e o gabinete de Kagame troquem experiências, ajudando a modernizar a gestão pública ruandesa.
Tudo pura caridade.

Kagame foi eleito Presidente em 2000, por voto indirecto, e já está no segundo mandato, que vai até 2014. Não há um prazo definido para o reestabelecimento da democracia e o governo ainda controla a liberdade de imprensa.

Vejamos, agora, o fundamental, retirado, justamente, da revista EXAME:

"As recentes (de anos atrás) incursões de tropas ruandesas no Leste da RD Congo foram atribuídas à cobiça despertada pelas grandes reservas de coltan da região: é deste minério que se extrai o tântalo, mais precioso do que o ouro na era tecnológica em que vivemos.

O coltan é um minério nobre composto por dois elementos distintos: colômbio e tantalite. Deste último obtém-se o tântalo, um excelente condutor de electricidade, maleável e extremamente resistente à corrosão, muito utilizado no fabrico de componentes electrónicos, sobretudo condensadores".

Ainda da revista: "Afirma-se que a África detém 80 por cento das reservas mundiais e que só os dois Congos deteriam 80 por cento das reservas africanas. Segundo os entendidos, o coltan da região do Kivu (RD Congo) é o que possui tântalo em mais elevado grau".

"Resta confirmar se o Kivu, no Leste da RD Congo, é ou não o melhor filão de «ouro cinzento». Mas, mesmo não o sendo, o tântalo pode contribuir para explicar as recentes incursões das tropas ruandesas e longos anos de conflito armado. Esta região produziu, só no ano de 2000, 130 toneladas de tântalo, ou seja, 11 por cento do total mundial. Menos que o Ruanda, que atinge os 13 por cento da produção global".

"Os relatórios publicados pela ONU em Abril de 2001 e Outubro de 2002, bastante criticados pelas suas lacunas, acusavam o Uganda e o Ruanda de terem pilhado sistematicamente os recursos do Congo. Entre eles, o coltan. Diz-se que as maiores exportações ruandesas eram de coltan congolês. Calcula-se que em finais de 2000 a RD Congo tenha lucrado com a exploração de coltan 63 milhões de dólares e o Ruanda 77,6 milhões. O negócio do coltan teria proporcionado a chefes militares e civis ruandeses e ugandeses enormes somas de dinheiro, concorrendo assim para prolongar o conflito congolês".

Claro que não se denuncia quem são os verdadeiros recepcionistas destes minérios, e quem são os reais fomentadores das guerra. Mas, tudo isto está implicto.

Até, porque a ronda de Clinton acabou na Nigéria, que desde então ainda não viveu em paz, principalmente por causa do controlo do petróleo e do gás.
Por um lado, uma onda nacionalista, por outro grupos separatistas, estão a pressionar o governo central da Nigéria a comercializar, com condições mais vantajosas para o país e para as regiões produtoras, as matérias-primas com outros países, libertando-os das teias monopolistas.
Ora, tais reivindicações estão há anos a pôr em causa os detentores do Estado nigeriano e multinacionais como a Shell, a Chevron Texaco e a Exxon Mobil. A repressão estatal, com o apoio de Washinton, tem sido impiedosa.

O Center for Strategic and International Studies estima que, até 2010, as receitas de petróleo gerem 110.000 milhões de dólares extra para a Nigéria. Ora, estes valores estão a ser canalizados, essencialmente, para os apaniguados e protectores daquelas companhias.

Estes dados querem, na minha opinião, cimentar um ponto de vista que hoje se torna evidente para muitas pessoas, mas que não alcança a pedagogia da maioria, o que é de lamentar.
Não são por razões de liberdade, de democracia, de busca de progresso social que as potências dominantes actuam, directa ou indirectamente, sobre a situação interna de outros países.
A força que elas, as potências ocidentais, incluindo a Rússia, consideram se necessária para destituir ditadores reais ou eventuais, afastar fanáticos religiosos não cristãos, erradicar o terrorismo, é uma falácia.
O objectivo central é apoderar-se das riquezas, que podem dar dinheiro aos detentores desse poder de força (económico, primeiro, político, depois). Isto não é novo. Está é a tornar-se mais evidente, mais transparente.
Ora, o que é novo na situação política e geo-estrátegica mundial dos últimos 30 anos é que essa busca gananciosa de dinheiro está a transformar-se em suprassumo do sistema capitalista, como imanência de conseguir, acima de tudo, o máximo da especulação financeira, colocando de lado o objectivo central, em ciência económica, de que o dinheiro deve provir, essencialmente, da evolução da produção económica, da sua distribuição.
As mudanças mundais estão a ficar assentes numa concorrência de tal maneira desenfreada entre Estados e "Blocos de Estados" que está a engendrar cada mais a sua militarização, o que, em termos práticos, os obriga, para puderem dominar, ou quererem dominar, a efectuar despesas sempre acrescidas com as suas Forças Armadas.
As despesas públicas acrescidas, em especial nos EUA, estão interligadas com este aspecto da questão. As despesas militares norte-americanas estão a contribuir, em grande parte, para a sua crise financeira. O que, em grande medida, enquadra o actual marasmo norte-americano na sua economia. O gigantismo do poder militar de Washington está a determinar a sua própria destruição. Mas, isto é assunto para outra conversa.




















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