domingo, 25 de julho de 2010

VENEZUELA: OS GRITOS DA IGREJA CATÓLICA QUANDO PERDE PRIVILÉGIOS




Uma guerra prolongada com a Igreja Católica: Quem vencer será modelo nos próximos anos




A Igreja Católica da Venezuela, sucursal do Vaticano, está em conflito e polémica, praticamente, desde a ascensão ao poder do coronel Hugo Chavez, quando o novo Chefe de Estado venezuelano decidiu "mexer" nos privilégios que a hierarquia católica local adquiriu à custa dos regime ditatoriais e conservadores (de cariz fascista ou democrático parlamentar) que se mantiveram no poder naquele país.

Quando Chavez, logo no início do seu mandato, cumprindo o estipulado prometido durante a sua primeira campanha eleitoral de que iria mudar a orientação política do país, e, em particular, reorganizar a estrutura educacional venezuelana, os cardeais e bispos católicos começaram a imiscuir-se, abertamente, na acção política, abandonando a chamada "neutralidade" apoiante que declararavam aos regimes, corruptos até ao tutano, que vinham desde Rómulo Bettencourt.

E o que fez Rómulo Betancourt [ex- Presidente venezuelano, 1945-1948/1959-1964] ? Assinou , em 1964, um acordo estilo Concordata (que os Papas já tinham rubricado anteriormente com Franco, Salazar, Mussolini e Hitler), que lhe dava privilégios especiais como religião dominante, no domínio de benefícios fiscais e, praticamente, ficava com o contrlo do sistema educativo no páis.

Qunado o coronel Chavez começou a anunciar que iria mudar a lei da educação, de imediato, os cardeais e bispos saltaram a terreiro, sustentando que eles eram o "suporte material e espiritual" do ensino venezuelano e que o novo Chefe de Estado estava a levar o país a caminho do socialismo.

Uma das figuras que mais exacerbou as críticas políticas ao novo Presidente da República foi o cardeal Castillo Lara, que faleceu em 2007, e que, ao longo da sua acção religiosa, foi um dos homens-fortes do Vaticano, de que falaremos adiante, e que praticamente moldou, desde os anos 80 até à sua morte em 2007, a estrutura hierárquica da Igreja Católica na Venezuela.

Quer o cardeal Castillo Lara, quer os actuais principais bispos, incluindo o cardeal arcebispo de Caracas, Jorge Urosa Savino, que chegou a reunir-se, em Roma, como o actual Papa Ratzinger, sustentando que Chavez deveria ser apeado do poder.

O incremento do conflito veio a dar-se quando, em 2009, foram promulgadas novas leis sobre educação, que removem as do acordo do tempo de Rómulo Bettancourt, que, no seu artigo 50, oficializava a possibilidade de as crianças receberem educação religiosa nas escolas públicas.

A lei sustentava mesmo: “A educação religiosa pode ser proporcionada a alunos até ao sexto ano do ensino básico, desde que os seus pais ou encarregados de educação assim o requeiram. Neste caso, serão concedidas duas horas por semana durante o horário escolar”.

A nova lei faz desaparecer totalmente qualquer expressão relativa à educação religiosa e enfatiza mesmo que o papel de educar os alunos pertence principalmente ao Estado e que o seu objectivo é providenciar uma educação secular. Deste modo a educação religiosa será apenas um assunto privado.

A lei proibe também o ensino de qualquer conteúdo que possa ser considerado contrário à soberania nacional. Ou seja, para a Igreja Católica, que se considera com entidade supranacional, logo, com direitos de extra-territoralidade, tal proibição leva também a evitar transferências de dinheiro para Roma, que provenham do ensino.

Ainda de acordo com esta nova legislação, aqueles que, em conjunto, são responsáveis pela educação das crianças são definidos como as famílias, as organizações comunitárias do Poder Popular, o Estado e a comunidade educativa.

A lei define também define sanções específicas no caso do incumprimento. Assim, numa das suas passagens, autoriza o ministro da Educação a encerrar ou reorganizar estabelecimentos privados que não obedeçam aos princípios definidos pela própria lei. Aos indivíduos assim sancionados não será permitido ensinar ou exercer funções enquanto gestores em estabelecimentos educativos por um período que pode ir até dez anos.

Chavez cortou, deste modo, uma imensa fonte de rendimento extremamente lucrativo para a Igreja Católica, já que é, também, o Estado que paga ainda os salários dos hierarcas católicos do país.

A resposta da Igreja Católica tem sido activa, incluindo o apoio a manifestações populares e `as forças da oposição. Chavez acusou mesmo, logo a seguir a uma tentativa de golpe de o depôs, durante dois dias, que a Igreja Católica participou na conspiração contra o Governo em conjunto com os EUA, e ainda de planear o golpe contra si próprio e até mesmo de fazer parte de um plano para o assassinar.

Mas voltemos agora a Castillo Lara.
Viveu uma parte da sua vida religiosa (realmente profana) nos corredores do Vaticano. Esteve metido, tal como foi denunciado no livro "Vaticano S.A:" nos sórdidos negócios e complôs, que a Santa Sé praticou durante todo o consulado do Papa João Paulo II. Um protegido deste, mesmo quando o "fogo" lhe rondava a casa.

Ganhou, portanto, notoriedade, como teórico da formulação conservadora das leis papais, e, como banqueiro sem escrúpulos, nos negócios criminosos mundiais e isto, porque o falecido papa polaco lhe conferiu responsabilidades como o Secretariado da PontifÍcia Comissão para a Reforma do Código de Direito Canónico, a Governação do Estado do Vaticano, como presidente da Comissão Disciplinária da Curia Romana (1981) e de presidente da Administração do Património da Sede Apostólica (1989). E este cargo foi o que lhe aumentou, enormemente, o poder.

Ascendeu a arcebispo de Caracas a 26 de Maio de 1982 e foi designado cardeal diácono a 25 de Maio de 1985.

Foi, pois,0 ele, que forjou toda a argamassa com que vive a hierarquia vaticana na Venezuela.

É uma frente de batalha enorme do Presidente Chavez, que se a vencer, servirá de modelo para toda a América Latina.

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