quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

SISTEMA FINANCEIRO MUNDIAL: OS ASSASSINOS ECONÓMICOS








A crise financeira mundial de 2008 veio mostrar à evidência que quem domina, neste momento, o poder político mundial não são os eleitos parlamentares/governos ou presidenciais, no caso de o sistema ser parlamentar ou presidencialista, tipo ocidental, ou não eleitos ou escolhidos por vias de partido único, com um sistema de capitalismo de Estado, como a China ou Cuba, mas os grandes banqueiros e capitalistas financeiros internacionais.


Mesmo com a crise em andamento, sabendo-se que os fautores da mesma foram esses grandes banqueiros, especialmente os que se concentram nos Estados Unidos da América (com predominância gritante dos judeus), Reino Unido, China ou Vaticano, eles é que continuam a gerir a mesma a seu favor, impondo os ditames do crédito e empréstimo de Estado, as regras dos seus Orçamentos, o tipo de repartição de impostos, a regulamentação das legislações internas dos países nos domínios laborais, prestações sociais, entre outras.

Foram eles que levaram a falência uma parte substancial do seu sistema bancário e financeiro, mas obrigaram os diferentes governos a fazerem a “cobertura monetária necessária” para garantirem que os lucros desses mesmos bancos se mantivessem, mesmo que o Estado se tornasse, na prática, o seu detentor.

Apesar de tudo isto, dos crimes que cometem diariamente, provocando falências fraudulentas, desvios incomensuráveis de dinheiro público e dos contribuintes, esses grandes capitalistas financeiros privados mantêm-se no comando dos grandes bancos, inclusive daqueles que recorreram à ajuda estatal, permanecem, incólumes, no domínio das principais Bolsas mundiais, com destaque para Wall Street, na administração dos grandes complexos industriais-militares, nos principais sectores de transportes, mineração, petróleo, grandes riquezas agrícolas e agro-industriais.

Enfim, ocupam, através de representantes políticos, como é o caso dos EUA, do Reino Unido, França, Alemanha ou Itália, os próprios governos, ou são, como na China, os gestores diligentes do sistema económico capitalista, sob a orientação perfeitamente controlado do próprio Estado.

A crise financeira de 2008, que começou nos Estados Unidos da América, que é o maior país devedor do mundo, ao tornar-se, de repente, internacional, deitou para a luz do dia uma realidade que, estava, para a maioria das pessoas, apenas camuflada: os governos ocidentais não eram, nem mais, nem menos, do que os elos de uma imensa teia accionista capitalista, que estavam a exaurir os tesouros públicos e a explorar, fortemente, os interesses nacionais de cada Estado.

Na realidade, a especulação financeira sobrepunha-se, em toda a parte, em particular no centro do sistema financeiro mundial, a Wall Street, a uma organizada e equilibrada evolução das produções nacionais. Desde o imobiliário até à deslocalização desordenada e fraudulenta de empresas, passando pela própria planificação das necessidades de transporte e telecomunicações, tudo estava assente na ânsia do enriquecimento rápido e ilícito, ao branqueamento de capitais, ao controlo das enormes redes de tráfico de influências e droga.
Ao detectar-se os casos mais gritantes é gigantescos de fraudes, cujos primeiros indícios vão, precisamente, para Itália e o Vaticano, ainda nos anos 70, depois no ENRON, e mais tarde no Lehman Brotheres e outros (Madoff e companhia) se notava que o florescimento de uma nova classe de grande burguesia capitalista financeira estava assente no enquistamento de pessoas desprovidas de qualquer tipo de princípio ético.

Ora, quando havia gente que pensava, ingenuamente, que, com o aparecimento à luz do dia, de maneira tão evidente, do papel dessa especulação mais desagravada, iria haver uma inversão imediata, PACÍFICA, da orientação. Enganaram-se. Eles não saem de cena pelo próprio pé.

Quando no próprio centro político do capital financeiro, Nova Iorque, se levantaram algumas vozes, incluindo prémios Nobel da Economia, como Joseph Stiplitz, pedindo o controlo dos grandes bancos em bancarrota, os grandes financeiros bateram de imediato os pés e exigiram à Administração de Obama que injectasse o dinheiro que fosse necessário para “salvar a banca” `a custa de imposição de novos impostos e de restrições em prestações sociais.

E assim aconteceu. Milhares de milhões de dólares foram injectados no sistema bancário e financeiro à custa da receita do Estado. Meses depois, os bancos falidos, como o Lehman estava a dizer que tinham lucros e estavam a dividi-los pelos seus accionistas e administradores. Um verdadeiro escândalo.

Socorremo-nos de um relatório divulgado em Setembro deste ano pelo Federal Deposito Insurance Corporation (FDIC), em português Agéncia Federal de Garantia de Depósitos Bancários: os lucros dos bancos norte-americanos (claro grandes bancos) regressaram aos valores de pouco antes da crise no segundo trinestre de 2010.

Vejamos os resultados: os cerca de 7.800 bancos controlados pela FDIC tiveram uma receita de 21,6 mil milhões de dólares em três meses (Junho), tendo em atenção os valores comparados de um prejuízo de 4,4 mil milhões no segundo trimestre de 2009.

Foi o maior lucro trimestral dos bancos desde o 3/0 trimestre de 2007, quando o mercado do crédito das hipotecas subprime iniciou o processo de colapso financeiro.
Ora, este lucro proveio, em grande parte dos bancos que beneficiaram da injecção de dinheiro público começado pela Administração Bush e continuada na de Obama.

O relatório assinala, todavia, um aumento de falência de bancos pequenos.

O curioso, segundo o relatório, é que o aumento dos lucros dos grandes bancos (mesmo dos apoiados) deu-se quando se verificava uma diminuição acentuada da produção nos EUA e um aumento também acentuado do desemprego. O que quer dizer que os lucros estão ligados, novammente, a métodos especulativos duvidosos.

Centremo-nos numa realidade: Quem realizou, melhor dizendo, quem orientou a política de injecção de dinheiro público nos grandes bancos em bancarrota ?.
Nada mais nada menos, membros provenientes de Wall Street, todos do lobby judeu, como o Henry Paulson, Secretário de Estado do Tesouro de Bush, antigo Presidente Executivo do Goldman Sachs, e Timothy Geithmer, Secretário de Tesouro de Obama e ex-Presidente da Federal Reserve de Nova Iorque. Sob a supervisão de outro judeu Bem Bernanke (de seu nome verdadeiro Benjamim Shalon Bernanke).

Quem foram os principais beneficiários? Aquisição do Bear Stearns e do Washington Mutual pelo JPMorgan Chase, do Merrill Lynch pelo Bank of America e do Wachovia pelo Wells Fargo. Ou seja na prática deu-se uma concentração bancária que ficou na posse do lobby de Wall Street.

Enquanto se efectuava esta operação, com dinheiro dos contribuintes, o Banco Central (AFederal Reserve) permaneceu com uma taxa de juro de quase zero por cento, o que permitiu que esses bancos recorressem a dinheiro quase de graça, que emprestaram depois ao próprio governo a taxas mais elevada. Tudo só lucro…à custa do contribuinte, que depois terá de levar com empréstimos ainda a preços mais elevados.

Esses bancos, além de regressarem (e continuarem) com a especulação, começaram a pagar de imediato, prémios exorbitantes aos seus administradores e retiveram, na sua posse, sem qualquer esforço, um valor avaliados em um bilião de dólares.

Uma parte substancial do acréscimo de lucros desses grandes bancos veio da redução das suas reservas, o que aumenta o risco de futuras crises.

Os valores são da FDIC: grandes bancos cortaram no trimestre em apreço sacaram perto de 11,8 mil milhões de dólares que eram destinados às reservas de capital.

E assim recomeçou de imediato o processo especulativo, com os índices principais a entraram na jogada.

Ora, aqui está o busílis da questão: A quem interessa pois o aumento da dívida pública? Pura e simplesmente, a quem controla o sistema financeiro, e aos seus representantes nos governos. A história do défice público é a história do objectivo prinicipal dos especuladores, a sua principal fonte de riqueza. Interessa-lhe sacar dinheiro a quem está em baixo, cada vez mais, para no ano seguinte repetir a dose de que tudo está mal. Tem de haver mais restrições.

Mas, o capital financeiro não é beliscado.

Como se arma a teia então? Através do controlo da comunicação social e da emissão de informação viciada, através de empresas que controla, sejam de rating, sejam de analistas ditos conceituados.

A melhor estória para explicar tudo isto é aquela que é contada por quem esteve por dentro.
Nesse sentido, irei citar um livro de um homem que viveu a trama criminosa do capital especulativo.

O livro chama-se “Confissões de um Assassino Económico”, e o seu autor é John Perkins.
Retirei a sinopse do mesmo da Wikipédia, que transcrevo a seguir e depois uma entrevista que ele deu à jornalista Amy Goodman, essa mesma a que viveu o massacre de Santa Cruz em Timor.

Vamos, portanto, primeiro à Wikipédia:

“Confissões de um Assassino Econômico (em inglês, Confessions of an Economic Hit Man) é uma autobiografia escrita por John Perkins e originalmente publicada em 2004. Conta a história de sua carreira como consultor da empresa Chas. T. Main, cargo para o qual teria sido recrutado por um membro da Agência de Segurança Nacional norte-americana, NSA. O seu trabalho consistia em actuar como um assassino económico.

Assassinos económicos, de acordo com o autor, são profissionais altamente remunerados cujo trabalho é lesar países à volta do mundo em golpes de biliões de dólares.
Os assassinos económicos actuariam manipulando recursos financeiros do Banco Mundial, da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), além de outras organizações internacionais e norte-americanas.

Através de empréstimos, eles canalizariam verbas de países para grandes corporações e famílias abastadas que controlam grandes fontes de recursos naturais.

Perkins afirma que seus instrumentos de trabalho incluem relatórios financeiros adulterados, resultados eleitorais fraudulentos, extorsão, sexo e assassinato. Um assassino económico seria um empregado do imperialismo nos tempos da globalização.

De acordo com o livro, o objectivo final dos assassinos económicos era o de convencer lideranças políticas e financeiras de países em desenvolvimento a contrair elevados empréstimos de instituições como o Banco Mundial e a USAID, com o objectivo de construir obras de infra-estrutura em seus países.

Os recursos dos empréstimos, porém, retornariam aos Estados Unidos, pois as empresas encarregadas das obras seriam invariavelmente norte-americanas.
Os países beneficiados se veriam asfixiados com os pagamentos dos juros e as amortizações do principal dos empréstimos. Sendo assim, tais países se veriam obrigados a se subordinar à pressão política dos Estados Unidos em diversos temas.
No epílogo da edição de 2006, o autor rebate a oferta de perdão da dívida dos países do Terceiro Mundo por parte das nações do G8.
Perkins alega que a proposta impõe diversas condições, dentre as quais a privatização dos serviços de saúde, educação, provimento de electricidade, de água e outros serviços públicos.

Segundo o autor, a proposta obriga ainda os países beneficiados a acabar com quaisquer subsídios às empresas locais e o fim de qualquer barreira ao comércio internacional, sem qualquer contrapartida por parte das nações do G8, que poderão continuar subsidiando suas empresas e impondo restrições, salvaguardas e tributos ao comércio internacional.
ENTREVISTA
«Estamos a falar com John Perkins, um ex-membro respeitado da comunidade de negócios na banca internacional.
No livro " Confissões de um Assassino Económico" ( Confessions of an Economic Hit Man ) ele descreve como, enquanto profissional altamente bem pago, ajudou os Estados Unidos a defraudar em triliões de dólares países pobres do globo inteiro, emprestando-lhes mais dinheiro do que aquilo que eles podiam alguma vez pagar para depois se apossar das suas economias. [inclui reprodução sem correcções]»

«John Perkins descreve-se a si próprio como um ex-assassino económico – um profissional altamente remunerado que defraudou em triliões de dólares países do mundo inteiro. »

«Há 20 anos que Perkins começou a escrever um livro com o título inicial de "Consciência de um Assassino Económico" (Conscience of an Economic Hit Man).»

«Perkins escreve, “Estava para dedicar este livro aos presidentes de dois países, homens que haviam sido seus clientes, que eu respeitava e considerava serem espíritos idênticos – Jaime Roldós, presidente do Equador, e Omar Torrijos, presidente do Panamá. Ambos morreram há pouco tempo em explosões aéreas. A morte deles não foi acidental. Foram assassinados porque se opuseram àquela fraternidade dos dirigentes das grandes companhias, do governo e da banca, cujo objectivo é o império global. Nós, os Assassinos Económicos não conseguimos persuadir Roldós e Torrijos, e o outro tipo de homens de golpe, os chacais sancionados pela CIA, que estavam sempre por trás de nós, entraram em acção.»

«John Perkins continua: “Eu fui convencido a deixar de escrever este livro. Recomecei-o mais de quatro vezes durante os vinte anos seguintes. Em todas as ocasiões, a minha decisão de voltar a começar foi influenciada pelos acontecimentos mundiais da época; a invasão do Panamá em 1980, a primeira guerra do Golfo, a Somália e a revolta de Osama Bin Laden. No entanto, as ameaças ou os subornos acabaram sempre por me convencer a parar”.»

«Mas finalmente Perkins publicou agora a sua história. O livro intitula-se Confessions of an Economic Hit Man. John Perkins está connosco aqui nos nossos estúdios de Firehouse. Ele trabalhou de 1971 a 1981 na firma internacional de consultoria de Chas T. Main onde era um “assassino económico”, como se descreve a si próprio. É o autor do recente livro Confessions of an Economic Hit Man.»


AMY GOODMAN: John Perkins está connosco aqui no nosso estúdio Firehouse. Bem-vindos ao programa Democracy Now!

JOHN PERKINS: Obrigado, Amy. É óptimo estar aqui.

AMY GOODMAN: É bom tê-lo aqui connosco. Vamos, explique-nos esta expressão, “assassino económico” (economic hit man), e.h.m., como lhe chama.

JOHN PERKINS: Basicamente aquilo para que somos treinados e aquilo a que o nosso trabalho se destina é construir o império americano. Provocar... criar situações em que a maior parte possível dos recursos convirjam para este país, para as nossas companhias, e para o nosso governo e, na verdade, temos sido muito bem sucedidos. Construímos o maior império da história do mundo. Isto tem vindo a ser feito durante os últimos 50 anos desde a II Guerra Mundial, de facto com muito pouco poder militar. Só em ocasiões muito raras como no Iraque é que os militares aparecem como último recurso. Este império, ao invés de qualquer outro na história universal, foi construído principalmente através da manipulação económica, através da burla, através da fraude, através da atracção das pessoas para o nosso modo de vida, através dos assassinos económicos. Eu tomei parte nisso em grande medida.

AMY GOODMAN: Como é que se tornou num deles? Para quem trabalhou?

JOHN PERKINS: Bem, inicialmente fui contratado quando estava na business school, nos finais dos anos sessenta, pela National Security Agency, a maior mas menos bem conhecida organização de espionagem; mas por fim trabalhei em empresas privadas. O primeiro verdadeiro assassino económico surgiu nos princípios dos anos 50, Kermit Roosevelt, neto de Teddy, que derrubou o governo do Irão, um governo democraticamente eleito, o governo de Mossadegh que tinha sido a pessoa do ano da revista Time; e foi tão bem sucedido em fazer isso sem derramamento de sangue... bem, houve algum derramamento de sangue, mas não houve intervenção militar, apenas se gastaram milhões de dólares e substituiu-se Mossadegh pelo Xá do Irão. Nessa altura, percebemos que esta ideia de assassino económico era muitíssimo boa. Não tínhamos que nos preocupar com a ameaça de guerra com a Rússia se o conseguíssemos fazer desta maneira. O problema era que desta forma Roosevelt passava a ser um agente da CIA. Ele era um funcionário do governo. Se fosse apanhado, ficávamos metidos num grande sarilho. Ia ser muito constrangedor. Por isso, nessa altura, a decisão foi utilizar organizações como a CIA e a NSA para recrutar potenciais homens de golpe económico como eu e depois colocá-los a trabalhar em companhias privadas de consultoria, empresas de engenharia, companhias de construção para que, se fôssemos apanhados, não pudesse haver ligação com o governo.

AMY GOODMAN: Bom. Fale-nos da companhia onde trabalhava.

JOHN PERKINS: Bem, a companhia onde trabalhava era uma companhia chamada Chas. T. Main em Boston, Massachusetts. Éramos cerca de 2 000 empregados, e eu fui nomeado economista chefe. Acabei por ter cinquenta pessoas a trabalhar para mim. Mas o meu verdadeiro trabalho era fazer negócios. Ou seja, conceder empréstimos a outros países, empréstimos gigantescos, muito maiores do que aquilo que eles algum dia podiam pagar. Uma das condições do empréstimo... digamos, mil milhões de dólares para um país como a Indonésia ou o Equador... e depois esse país tinha que pagar noventa por cento desse empréstimo a uma companhia americana, ou companhias americanas, para construir infra-estruturas – uma Halliburton ou uma Bechtel. Estas eram as maiores. Depois essas companhias iam para lá e construíam um sistema de electricidade ou portos ou auto-estradas que basicamente serviam apenas algumas das mais ricas famílias desses países. Em última análise, a gente pobre desses países ficava afogada nesta espantosa dívida que nunca poderia pagar. Hoje, um país como o Equador deve mais de cinquenta por cento do seu orçamento nacional só para pagar a sua dívida. E claro que não consegue fazê-lo. Por isso, temo-los literalmente em cima dum barril. Assim, quando queremos mais petróleo, vamos ao Equador e dizemos, “Olhem, vocês não conseguem pagar a vossa dívida, portanto, dêem às nossas companhias petrolíferas as florestas tropicais do Amazonas, que estão repletas de petróleo.” E hoje chegamos lá e destruímos as florestas tropicais do Amazonas, forçando o Equador a entregá-las porque acumularam toda essa dívida. Assim, fazemos estes grandes empréstimos, a maior parte deles volta para os Estados Unidos, o país fica com a dívida mais imensos juros e, na prática, tornam-se nossos criados, nossos escravos. É um império. Não há dúvidas quanto a isto. É um império monstruoso. Tem sido extremamente bem sucedido.

AMY GOODMAN: Estamos a conversar com John Perkins, autor de Confessions of an Economic Hit Man. Você diz que, por causa de subornos e por outras razões, deixou de escrever este livro durante muito tempo. O que é que quer dizer com isso? Quem tentou suborná-lo ou quem... que subornos é que aceitou?

JOHN PERKINS: Bem, nos anos noventa aceitei um suborno de meio milhão de dólares para não escrever o livro.

AMY GOODMAN: De quem?

JOHN PERKINS: De uma das maiores companhias de construção civil.

AMY GOODMAN: Qual delas?

JOHN PERKINS: Legalmente falando, não era... a Stoner-Webster. Legalmente falando não foi um suborno, foi... um pagamento por eu ser consultor. Foi tudo muito legal. Mas no fundo eu não fazia nada. Era um entendimento, como expliquei nas Confessions of an Economic Hit Man, que estava... para mim estava... estava implícito, quando aceitei este dinheiro como consultor, que eu não teria muito trabalho, mas não podia escrever quaisquer livros sobre o assunto, pois eles tinham conhecimento que eu estava a escrever este livro, a que nessa altura eu chamava 'Conscience of an Economic Hit Man'. E devo dizer-lhe, Amy, que é uma história extraordinária do ponto de vista de ... É quase à James Bond, na verdade. E eu quero dizer...

AMY GOODMAN: Bem, de facto é como se lê o livro.

JOHN PERKINS: Pois, era mesmo, não era? Quando a National Security Agency me contratou, fizeram-me testes num detector de mentiras durante um dia inteiro. Descobriram todos os meus pontos fracos e seduziram-me imediatamente. Utilizaram as drogas mais fortes da nossa cultura, o sexo, o poder e o dinheiro para me dominarem. Eu venho duma família muito antiga de New England, calvinista, mergulhada em valores morais espantosamente fortes. Sabe, eu acho que de uma forma genérica sou uma boa pessoa e penso que a minha história mostra verdadeiramente como este sistema e estas poderosas drogas do sexo, do dinheiro e do poder podem seduzir as pessoas, porque eu fui mesmo seduzido. E se eu não tivesse vivido esta vida de assassino económico, acho que teria passado um mau bocado só de pensar que havia quem fizesse estas coisas. E foi por isso que escrevi este livro, porque o nosso país precisa mesmo de perceber, se as pessoas desta nação percebessem o que é a nossa política internacional, o que é a ajuda internacional, como trabalham as nossas empresas, para onde vai o dinheiro dos nossos impostos, tenho a certeza de que exigiriam uma mudança.

AMY GOODMAN: No seu livro, fala de como ajudou a implementar um esquema secreto para recambiar para a economia americana milhares de milhões de dólares dos petrodólares da Arábia Saudita, e para posteriormente cimentar a estreita relação entre a Casa de Saud e as sucessivas administrações dos Estados Unidos. Explique isto.

JOHN PERKINS: Sim, foi uma época fascinante. Lembro-me bem, você é que devia ser demasiado jovem para se lembrar, mas eu lembro-me bem de como, no princípio dos anos setenta. a OPEP exercia o poder que tinha e cortou o fornecimento de petróleo. Os nossos carros faziam fila nos postos de gasolina. O país estava com medo de se encontrar noutra crise de colapso-depressão tipo 1929; e isto era inaceitável. Então, eles – o Departamento do Tesouro, contrataram-me a mim e a outros homens de golpe económico. Fomos para a Arábia Saudita. Nós...

AMY GOODMAN: Vocês intitulavam-se mesmo assassinos económicos... e.h.m.'s?

JOHN PERKINS: Sim, era um termo cifrado com que nos tratávamos a nós próprios. Oficialmente, eu era um economista chefe. Tratávamo-nos a nós próprios e.h.m.'s. Era cifrado. Era como se, ninguém ia acreditar em nós se disséssemos isto, não acha? E então, fomos para a Arábia Saudita no princípio dos anos setenta. Sabíamos que a Arábia Saudita era a chave para eliminar a nossa dependência, ou para controlar a situação. E trabalhámos nesse negócio segundo o qual a Casa Real de Saud concordava em enviar a maior parte dos seus petrodólares para os Estados Unidos e investi-los nas acções do governo dos Estados Unidos. O Departamento do Tesouro utilizava os juros destas acções para contratar companhias americanas para a construção de novas cidades na Arábia Saudita, de novas infra-estruturas... o que cumprimos. E a Casa de Saud concordava em manter o preço do petróleo dentro de limites aceitáveis para nós, o que eles têm feito durante todos estes anos, e nós concordávamos em manter a Casa de Saud no poder enquanto eles cumprissem isso, o que cumprimos, e que é uma das principais razões por que entrámos em guerra com o Iraque. E no Iraque tentámos implementar a mesma política que tinha sido tão bem sucedida na Arábia Saudita, mas Saddam Hussein não foi na conversa. Quando os homens de golpe económico falham neste cenário, o passo seguinte são os chacais, como lhes chamamos. Os chacais são pessoas sancionadas pela CIA que chegam e tentam fomentar um golpe ou uma revolução. Se isso não resultar, passam aos assassinatos ou tentam fazê-lo. No caso do Iraque, não conseguiram chegar até Saddam Hussein. Ele tinha... Os guarda costas eram bons demais. Ele tinha duplos. Não conseguiram chegar até ele. Então, quando os homens de golpe económico e os chacais falham, a terceira linha de defesa, a linha de defesa seguinte são os nossos rapazes e raparigas que são enviados para morrer e para matar, que é sem dúvida o que estamos a fazer no Iraque.

AMY GOODMAN: Pode explicar como é que Torrijos morreu?

JOHN PERKINS: Omar Torrijos, o presidente do Panamá. Omar Torrijos tinha assinado o Tratado do Canal com o Carter muito... e, sabe, passou no congresso por apenas um voto. Era uma questão altamente polémica. Mas depois Torrijos seguiu em frente e negociou com o Japão a construção de um canal ao nível do mar. Os japoneses queriam financiar e construir no Panamá um canal ao nível do mar. Torrijos conversou com eles sobre isto, o que muito aborreceu a Corporation Bechtel, cujo presidente era George Schultz e o advogado sénior era Casper Weinberger. Quando Carter foi corrido (e esta é uma história interessante... como é que isso aconteceu na realidade), quando ele perdeu as eleições, e entrou Reagan e Schultz veio da Bechtel para secretário de Estado, e Weinberger veio da Betchel para secretário da Defesa, estavam todos muito irritados com Torrijos... tentaram convencê-lo a renegociar o Tratado do Canal e a não falar com os japoneses. Ele recusou obstinadamente. Era um homem de princípios. Tinha os seus problemas, mas era um homem de princípios. Era um homem extraordinário, Torrijos. E então, morreu numa explosão do avião, que foi provocada por um gravador com explosivos lá dentro, que... eu estava lá. Tinha estado a trabalhar com ele. Eu sabia que nós, os assassinos económicos, havíamos falhado. Eu sabia que os chacais estavam a cercá-lo e, logo a seguir, o avião explodiu com uma bomba dentro de um gravador. Não tenho a menor dúvida que foi com a sanção da CIA e mais... a maior parte dos investigadores da América latina chegaram à mesma conclusão. Claro, nunca se ouviu falar de tal coisa no nosso país.

AMY GOODMAN: Então, onde... quando é que se deu a sua mudança?

JOHN PERKINS: Sempre senti um sentimento de culpa, mas deixei-me seduzir. O poder destas drogas, o sexo, o poder e o dinheiro, era forte demais para mim. E, claro, eu estava a fazer coisas para as quais tinha sido estimulado com pancadinhas nas costas. Eu era economista chefe. Eu estava a fazer coisas de que Robert McNamara gostava e por aí fora.

AMY GOODMAN: Até que ponto era a sua relação de trabalho com o Banco Mundial?

JOHN PERKINS: Muito, muito próxima com o Banco Mundial. O Banco Mundial fornece a maior parte do dinheiro que é utilizado pelos assassinos económicos, ele e o FMI. Mas, quando houve o atentado de 11 de Setembro, senti um choque. Percebi que tinha que contar a história porque aquilo que aconteceu no 11 de Setembro é o resultado directo do que os assassinos económicos têm vindo a fazer. E a única maneira de nos virmos a sentir outra vez em segurança neste país e de nos virmos a sentir bem connosco próprios é utilizarmos estes sistemas que implementámos para criar uma mudança positiva em todo o mundo. Estou convencido que podemos fazer isso. Acho que é possível dar a volta ao Banco Mundial e a outras instituições para fazerem aquilo a que originalmente se destinavam, ajudar a reconstruir partes devastadas do mundo. Ajudar… ajudar verdadeiramente as pessoas pobres. Há vinte e quatro mil pessoas a morrer de fome todos os dias. Nós podemos alterar isso.

AMY GOODMAN: John Perkins, quero agradecer-lhe imenso por ter estado connosco. O livro de John Perkins intitula-se Confessions of an Economic Hit Man. “
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[*] Entrevista a John Perkins realizada em 09/Nov/2004 no programa 'Democracy Now'.
Tradução de Margarida Ferreira

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