quarta-feira, 16 de junho de 2010

EUA: A ESTRATÉGIA DA LIDERANÇA TRAZ MILITARISMO











Um Estado militar custa caro, e engendra, por vezes, a sua própria destruição
O governo dos Estados Unidos da América lançou, no princípio do mês, o que considerou ser a sua nova "doutrina estratégica", cujo ponto central é um pressuposto velho dos impérios que entram em falência: "a manutenção da liderança norte-americana".

Claro que um objectivo estratégico é, sempre, um desejo, e, este está, hoje, mais do que nunca inserto nesta nova análise geo-estratégica que o poder de Estado norte-americano emite como garantia, piedosa, para manter o dominio da aristocracia financeira que está a esfrangalhar o sistema capitalista vigente nos Estados Unidos há quase 50 anos, praticamente depois da II Grande Guerra, com especial inicidência após a guerra da Coreia.

Pois, foi, justamente, depois desta data que os Estados Unidos, para tentar alargar e impor a influência do seu poder económico, do seu tipo de modelo capitalista, baseado na mais desenfreada especulação financeira, que constituiu, em grande medida, a sua fonte principal de enriquecimento, deram azo a que engordasse um poderoso complexo militar-industrial, que assentou na criação de umas Forças Armadas desproporcionais, que fizeram subir, estrondosamente, as despesas militares.

O militarismo é, nas últimas três décadas, o traço marcante e avassalador da estrutura política-económica dos Estados Unidos. Em grande medida, desde os finais dos anos 80 do século passado, pode dizer-se que o dominio militar em todo o Mundo chegou a ser o fim primeiro do poder político norte-americano.

Segundo o Center for Arms Control and Non-Proliferation (Centro para o Controlo e Não Proliferção de Armas), não desmentido pelos analistas especializados, os gastos militares dos EUA, em dólares, eram, em 2009, espantosamente superiores, em termos de dólares aos praticados no auge da Guerra da Coreia (1952: US$604 mil milhões), da Guerra do Vietname (1968: US$513 mil milhões) ou de incremento castrense dos tempos de Ronald Reagan na década de 1980 (1985: US$556 mil milhões).

Na segunda metade do ano passado, o Chefe de Estado norte-americano, Barack Obama, - o mesmo que emitiu agora nova doutrina estratégica - fez uma proposta ao Congresso fazendo subir o Orçamento castrense do país para 55 por cento do Orçamento Geral dos EUA. (Os dados são oficiais - O departamento de Orçamento e Tesouro).

Esse Orçamento militar foi assinado, em Outubro passado, por Barack Obama, como sendo o Defense Authorization Act 2010. Vejamos os dados: 680 mil milhões dólares; em 2009 era de 651 mil milhões US$; em 2000, atingia os 280 mil milhões. Quase triplica em 10anos!!!.

Ora, este Orçamento é da Defesa, mas não da guerra, pois muitas despesas com elas relacionadas provem doutros ministérios ou departamentos.

É grande este Orçamento? É enorme. Na pratica, é superior aos valores dos Orçamentos de Defesa praticados em todo o Mundo.

Ora, para quem quer dominar o Mundo, estes valores não são por aí além.

Para se exercer poder, tem de se "cuidar" das Forças Armadas.
A questão, tal como já referi noutro artigo, é que estas Forças Armadas custam muito dinheiro. Para sacar este dinheiro ao exterior de modo a satisfazer a sua clientela que domina o poder de Estado, fomentando o enriquecimento de um poderoso sistema económico-financeiro baseado nesse complexo armamentista, essencialmente especulativo, os EUA estão a "destapar" a essência do que foi o seu crescimento capitalista na primeira metade do século XX, a produção económica interna.

Ora, o poder militar expansionista está a ficar "no ar", sem as pernas do poder económico que provinham da sua poderosa indústria produtiva, que sustentava a sua produção automóvel, a sua produção tecnológica produtiva, a sua poderosa produção agro-industrial.

Internamente, na realidade, estão a ser devorados pelo espectro da falência.

Na realidade, em Junho deste ano, a despesa pública norte-americana ultrapassava os 13 biliões (milhão de milhões) de dólares, ou seja 88 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).

Cálculos de economistas reputados sustentam que esta despesa deve ultrapassar mesmo os 110 por cento do PIB. Ou seja, é o país mais endividado do Mundo. Vai trazer consequências, naturalmente.

No seu discurso sobre estratégia, Obama tem noção disso, e reflecte-o nesta frase: "enquanto os EUA não têm e não enfrentam nenhum adversário militar em condições de realmente ameaçar sua liderança mundial, estão se despedaçando (sublinhado meu)".

E como ele quer inverter esta situação, sem "abandonar a liderança" ?.

Vamos buscar os argumentos de Barack Obama (a tradução é minha): "As responsabilidades do novo século não poderão cair somente sobre os ombros dos EUA".

Então vão cair em quem?: "fortalecimento de relações com os aliados tradicionais e criação de novas alianças com outros centros de influência, como o Brasil, a China, a Rússia e a Índia, assim como, com potências emergentes como a África do Sul e a Indonésia, de modo a cooperar em questões bilaterais, assim como, internacionais e expandir a aproximação com Estados emergentes, especificamente, aqueles que poderão projetar-se como modelos de sucesso periférico e estabilidade do continente americano até a África e o Sudeste Asiático".

Mas, tudo isto é sem consistência, porque o militarismo crescente norte-americano está a fomentar o aparecimento do militarismo noutros Estados, que vêm naquele "não o lider", mas o imperialismo expansionista, incluindo em países que ele sustenta serem parceiros, como o caso do Brasil, (e não a Venezuela, como muitos comentadores pró-americanos escrevinhma) que alimenta um tratado militar na América Latina, o UNASUL, que é criado, precisamente, para obstar aos apetites de Washington.

Embora queira lançar ramos de oliveira, o próprio líder norte-americano expressa esse, nada disfarçado, papel expansionista: "Embora o uso de violência em determinadas vezes seja indispensável, esgotaremos as demais opções antes da guerra quando isso nos for possível, unilateralmente. Os EUA deverão conservar o direito de agir unilateralmente se isto for necessário a fim de defenderem a nação e seus interesses" (sublinhando meu). Assim, o fizeram ainda, há dias, na questão do Irão, afastando ainda mais os aliados Brasil e Turquia.

Os exemplos belicosos, entretanto, não faltam: Balcãs, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Índia, Coreia, África Central, desde o Ruanda à Nigéria, passando pela Libéria. Ameaças de intromissão na Venezuela, Edquador, com a interligação subverciente das autoridades da Colômbia.

Só que hoje os países com capacidade nuclear aumentam e fazem frente às arrogâncias de Washington. E esta já não é a potência única que fabrica os aviões de primeiro plano, nem os satélites capazes de direccionar os misseis balísticos continentais, nem os carros de combate de primeira água, nem os mísseis sofisticados que destroiem os tanques norte-americanos são fabricados em território dos Estados Unidos.

A força económica norte-americana, mesmo no domínio armamentista, já não é o que era. Daí que a sua estratégia, para evitar essa realidade, se baseie na ameaça da força.

Só que os aliados também já o eram. Os tempos são outros.

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