domingo, 2 de janeiro de 2011

ANO NOVO: A MENSAGEM É CONQUISTAR OUTRO PODER





Nada de novo, com mensagens balofas de homens que vivem há décadas à custa deste regime






















O actual Presidente da República, Cavaco Silva, emitiu, no primeiro dia deste ano, uma mensagem aos portugueses, que se considerou chamar de Ano Novo.

Nada teria de especial esta mensagem, se ela fosse emitida numa fase de "acalmia" da situação política, económica e social de Portugal e do Mundo, todavia o actual Chefe de Estado fez questão de divulgá-lo neste momento, que, em si, encerra duas situações dignas de registo: a

a) Está-se em plena actividade eleitoral presidencial, em que Cavaco Silva é recandidato ao cargo;

b)
Vive-se numa crise de grandes proporções - financeira, económica, política, social e ideológica, na qual o candidato é co-responsável, pois foi um dos promotores e incrementadores do modelo económico que veio a ser o responsável directo incensou e impôs através da sua acção na governação do país, durante 10 anos.

Sobre o primeiro aspecto, naturalmente, o actual Chefe de Estado utilizou o que tradicionalmente se faz. Certo. Mas, ao emitir tal mensagem, pelo impacto que tem no eleitorado e feita com a assunção do cargo, ele sabe, não é inocente, que está a fazer "campanha eleitoral", quer o diga abertamente, quer não. Não pode ser considerada ilegal, mas, temos de afirmá-lo,
não é muito ético, nem transparente.

Sobre o segundo item, ao omitir o seu papel político - no fundo ao fugir à responsabilidade de assumir a sua quota-parte, que é grande no descalabro da governação, não só como ministro e primeiro-ministro, mas como Chefe de Estado em exercício -
não demonstra grandeza, nem deixa marca de ser uma personalidade de coluna vertebral que está preocupado com o avanço da humanidade, e em particular, do povo que representa.

A sua mensagem inicia-se deste modo:

"No ano que agora terminou, Portugal foi confrontado com uma realidade que há muito se desenhava no horizonte.

A partir do 2º semestre de 2010 já ninguém pôde negar que o país atravessa uma situação de grave crise económica e financeira, a qual tem efeitos negativos no plano social.

Aquilo que para alguns era já uma evidência, para a qual na devida altura alertaram os Portugueses, foi finalmente reconhecido por todos, a começar pelos decisores políticos
".

Embora o modelo económico, que é responsável pela "grave crise económica e financeira" actual, começasse a germinar nos finais dos anos 70 do século passado, foi com a gestão executiva de Cavaco Silva - 1985 a 1995 - que ele se incrustou no país: privatização desenfreada dos meios produtivos, do sistema financeiro, desregulamentação das leis do trabalho e das actividades económicas.


O antigo PM permitiu que medrassem, como cogumelos, as mais desclassificadas, sinistras e corruptas figuras e personalidades que constituiram, na prática, "o novelo" dominante da especulação financeira, que abocanhou a bolsa, o crédito bancário, no fundo o controlo do país, que levou ao estado de quase bancarrota em que se vive, roubando, descaradamente, o tesouro nacional e destruindo o tecido produtivo que existia. São factos estão aí.

Ora, Cavaco Silva, em lugar de afirmar numa frase vazia que: "não iludir a realidade é um sinal positivo e uma atitude responsável, pois representa o primeiro passo para mudar de rumo e corrigir a trajectória", deveria assumir o seu papel: "fui eu que dei livre trânsito a agiotagem que nos governa e cujo seu representante executivo é o actual governo de José Sócrates".

Não basta emitir optimismo, nem divagar, religiosamente, em torno do regime, pois não se pode garantir nada do que Cavaco Silva sustenta:

"O regime republicano encontra-se plenamente consolidado ao fim de 100 anos de existência.

"Por outro lado, é em democracia que todos aspiramos viver e ninguém deseja o regresso aos tempos da ditadura".

O regime republicano liberal e a democracia depende, acima de tudo, da maneira como se incrementar, nos próximos anos, uma governação de bem-estar e melhoria das condições actuais do povo português.


A ditatura fascista não surge de fora da vida política, é impulsionada pelas condições económicas e, principalmente, de quem é o núcleo central do poder dominante capitalista, que pretende garantir a sua dominação, se se sentir ameaçada.

Nem sequer poderemos garantir em absoluto que a União Europeia irá continuar, bem como a sua moeda. E tal discorre do que atrás foi referido, e, neste caso, ainda mais, do papel desempenhado pelo sistema financeiro internacional dominante.

A crise actual somente poderá ser superada, servindo os interesses do povo português, em particular, e os povos europeus, em geral, se houver uma ruptura total com o actual modelo económico.


O Chefe de Estado refere, seguidamente, na sua mensagem que:


"Portugal tem hoje mais de 600 mil desempregados. O desemprego está a penalizar muito os mais jovens. A par disso, assistimos ao recrudescimento da pobreza em níveis que são intoleráveis.

É sobretudo nos tempos mais adversos que os sacrifícios têm de ser repartidos de uma forma justa por todos, sem excepções ou privilégios.

Perante as situações de pobreza e exclusão com que somos confrontados, pretender fugir aos sacrifícios é uma atitude que não se coaduna nem com os mais elementares princípios da ética republicana nem com o valor fundamental da coesão social".


Bonita tirada. Quem fomenta o desemprego? Surge do céu? Não. Da ganância do lucro fácil.


Quem está a alimentar essa ganância? Os representantes políticos, incluindo o Presidente da República, que são contra a tributação elevada dessas mais-valias, da retirada do controlo do poder económico, da sua distribuição das mãos dos agiotas, enfim do Capital, dos mercados.


Quem se reverencia perante os mercados? Quem considera que eles devem ser "tratados com consideração" quando são eles que impõem os trâmites do crédito, que reclama para eles crédito barato e creditam valores elevados ao resto da população?


São exactamente pessoas, como o actual Presidente da República.


Enquanto o Capital dominar o mundo do trabalho, não haverá possibilidade alguma de "coesão social", nem de "coesão nacional".


As dificuldades somente serão superadas se houver uma outra orientação política, uma outra estrutura política, ou outra ordem económica, em que a igualdade social seja o topo do programa político.


Não é com voluntariado, com distribuição de migalhas, com caridades religiosas que se dá a volta à situação.


Somente a desmontagem total desta máquina de Estado, que está carcomida, por incúrias permanentes destes homens que estiveram, desde o 25 de Novembro de 1975, à frente dos destinos do país,, se poderá evitar a degradação constante da situação política dos portugueses.

Tem de se acabar com a ideia que o actual regime parlamentar, é a única via que evita a ditadura truculenta do Capital.

É possível conquistar outro poder, de maior democracia dos trabalhadores, onde a sua produção seja gerida, realmente, por aqueles que labutam no dia a dia.


É essa a mensagem nova que deve ser transmitida, que deve ser tornada em programa de um novo sistema político.















A coesão social é um elemento-chave da coesão nacional. É imprescindível que estejamos unidos para enfrentar as dificuldades que atravessamos e que, repito, não irão desaparecer em 2011.

Os Portugueses deram mostras, ao longo do ano de 2010, que reconhecem o valor e a importância da coesão e da solidariedade.

O País foi afectado por intempéries naturais, na Madeira, nos Açores, no Continente.
Logo se geraram campanhas de apoio às famílias e aos cidadãos atingidos por essas situações de calamidade.

É também exemplar o modo como os Portugueses participaram nas campanhas lançadas pela sociedade civil com vista à recolha de produtos alimentares e bens de primeira necessidade.

Às instituições de solidariedade social e àqueles que se destacam no trabalho de voluntariado, em especial ao voluntariado jovem, quero, como Presidente da República, deixar uma palavra do meu maior apreço.

Um povo com tamanha generosidade dá-nos todas as razões para termos esperança e confiança.

É por tudo isto que considero essencial que 2011 fique marcado pela firmeza no combate ao desemprego e à pobreza.

Estou certo de que podemos vencer.

Vivemos nesta terra há muitas centenas de anos. A nossa História teve momentos tão ou mais difíceis do que este. Durante várias décadas, perdemos até a independência, mas soubemos reconquistá-la.

Atravessámos situações financeiras muito graves e hoje, todos temos de o reconhecer, possuímos uma vida melhor do que todas as gerações que nos precederam.

Portugal é, actualmente, um país mais justo, mais desenvolvido e mais livre do que o foi ao longo de toda a sua História.

É justamente por isso, porque temos capacidade de ultrapassar as dificuldades do presente, que temos de nos unir.

Não podemos deixar para trás os que mais precisam: os jovens que buscam emprego, os desempregados de longa duração, os idosos mais carenciados, os que sofrem a pobreza e a exclusão, as crianças em risco, os deficientes, as famílias que enfrentam grandes privações.

A luta para que estes Portugueses não sejam abandonados não é monopólio de ninguém, pois constitui responsabilidade de todos.

Como tenho vindo a insistir há muito tempo, o caminho do nosso futuro tem de assentar muito claramente no aumento da produção de bens e serviços que concorrem com a produção estrangeira, no reforço da competitividade das nossas empresas e na redução do endividamento do País ao estrangeiro.

A todos os Portugueses, quer os que vivem no país, quer os que vivem no estrangeiro, desejo um ano de 2011 feito de trabalho e de paz, um ano feito de esperança.

A todos os Portugueses, desejo um Bom Ano Novo.

Boa noite.

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