sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

BARRETO: QUANDO O HOMEM DA CRISE DIZ MAL DELA

Sempre, sempre, no lado politicamente correcto do actual regime


O antigo ministro socialista do I Governo Constitucional António Barreto, co-responsável pela situação em que esteve o País em 1976, e, naturalmente, pelo rumo seguinte, saltitante por vários partidos, grupos e associações políticas ao longo dos anos, gratificatemente sustentado em várias sinecuras que lhe deu o actual regime, como seu mentor, com grandes trombetas, anuncia, agora, que o mesmo é "um regime bloqueado".

Fê-lo, naturalmente, em entrevista a um jornal do capital "Diário Económico", declarando do alto da sua áurea, que os pares lhe impuseram de "cientista social":
esta crise é pior do que a 1976.

/Antes de analisar o que diz, vamos referenciar o personagem. Em 1963, estudante de Direito, saiu do país e refugiou-se na Suíça. Em termos práticos, fugiu à tropa. Nada de grave. É um direito. Com o título de exilado por se afirmar contrário ao salazarismo, mas sem realizar qualquer actividade digna de oposicionista político, licenciou-se em Sociologia em Berna, em 1968, e andou a viver à custa da ONU até 1974.

Convém esclarecer: foi miliante do PCP entre 1963 e 1970. Afastou-se. Não sei porquê. Depois, organizou, na Suíça, um grupo de teóricos de opereta, encobertos em torno da revista "Polémica", ao lado de sumidades do actual regime como Medeiros Ferreira e Eurico de Figueiredo.


Quando aterrou em Lisboa, logo após o 25 de Abril, ainda no aeroporto, perguntou, dizem uns a brincar, outros a sério: Quem é o partido que está a dar?

Saltou, então, para o PS, partido, então, sem quadros, mas cheio de curiosidades por "intelectuais" da estirpe de Barreto.


No VI Governo provisório, de coligação PS, PSD e PCP, já era, em nome do "numerário" de Mário Soares, Secretário de Estado do Comércio Externo. Depois foi deputado Constituinte pelos socialistas.


Com o I Governo Constitucional, este "cientista social" é catapultado para Ministro do Comércio e, pouco depois, Ministro da Agricultura e Pescas, com uma oirientação precisa liquidar a Reforma Agrária e dar cabo do que restava da pesca como riqueza do país.


Cumpriu a tarefa de regime, embora o PS de então não lhe tenha engrandecido a personalidade.


Mudou a agulha da bússola e vemo-lo, como intelectual da nova orientação que o poder vai adquirindo com a ascensão da burguesia financeira especulativa, com Sá Carneiro no poder, apoiar a Aliança Democrática, liderada por aquele, encavalitando-se no grupo de enorme projecção intelectual apelidado de "Movimento de Reformadores", onde estavan atambém o inefável Medeiros Ferreira.


Como a AD não o glorificou, estudou o regresso ao PS como deputado entre 1987 e 1991. (Deve ter reforma, justamente merecida!!!).


Claro esteve em cargos de sacagem de dinheiro do Estado, entretanto: membro do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Estatística e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos.


Um rapaz de respeito não haja dúvida para...dissertar sobre a crise/.


Sobre as eleições, esperava uma mudança no sentido forçar um regime de um homem providencial.


As suas palavras são claras, mas enroladas numa esclerose estúpida de quem sustenta afirmar o contrário:


" Mas caímos sempre no mesmo com este regime que não é semi-presidencial nem coisa nenhuma. Qualquer futuro Presidente da República sabe que dependerá do Parlamento, dos partidos, sabe que não tem poderes e gostava de ter mais... Assim, tiveram cautela e falaram genericamente do desenvolvimento de Portugal!".


Ele parece não ter percebido, ou não quis tornar público o seu douto pensamento, que o processo eleitoral se embrulhou numa forma de negação do que a nova burguesia em ascensão desde os meados dos anos 80 do século passado quer estabelecer como regime: a restauração de um poder ditatorial.


O desenvolvimento económico do regime, desde os meados dos anos 80, finais do governo do Bloco Central de Soares e Mota Pinto e começo do período cavaquista, modificaram, grandemente, todas as relações sociais, e em particular do campesinato da pequena propriedade, que, praticamente, deixou de ter poder existencial e económico, e, portanto, eleitoral. A classe média é, hoje, um sector que se aproxima dos interesses sócio-económicos das classes assalariadas, claro que com laivos de conservadorismo mental e político.


Toda esta amálgama, com receio de um hetacombe política, foi, em 23 de Janeiro, a base do voto eleitoral de Cavaco Silva, mas fê-lo, de certa maneira, como protesto para uma mudança das suas condições de existência.


Foi um grito - pelo voto - contra uma má governação, mas não acredita cegamente na política cavaquista, que não pretende mudar em nada a situação do país. Apenas as moscas.


Essa amálgama está na expectativa, pode cair nos braços de um populismo de extrema direita, mas também se pode associar a uma base ofensiva contra o regime, que está escondida, latente, sob o aparente amorfismo dos abstencionistas, dos votos brancos e nulos e até dos candidatos "contra o regime".


Com Cavaco, para uma liderança a favor dos arrivistas desclassificados da nova burguesia da especulação e do dinheiro fácil, estão os banqueiros e a chusma de empresários que vociferando contra o Estado, querem viver `*a custa dele sob a sua batuta política.


Mas os "Exércitos" não estão a seguir os generais.


Quem lhes apresentar um programa de ruptura, quem canalizar a energia que está submersa, saberá abrir as portas a uma nova via. Poderá surgir de repente, mas também, e assim o penso, terá de levar o seu tempo a preparar uma nova estrutura mental. Vamos a ver como vai incidir a propaganda política de ruptura de regime dos próximos meses.

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